SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma delegacia da região do Morumbi, que fica a poucos quilômetros da sede do governo paulista, teve pelo segundo ano consecutivo o maior número de pessoas mortas por policiais militares na cidade de São Paulo.
A área do 89º Distrito Policial, ora chamado de Jardim Taboão ora chamado Portal do Morumbi, acumulou no ano passado dez ocorrências com PMs --tanto em serviço quanto em folga--, deixando para trás áreas de bairros das periferias das zonas leste, sul e norte, que por anos lideraram o ranking da letalidade policial.
A segunda delegacia com mais mortes no ano passado foi o 37º DP, em Campo Limpo, onde a Polícia Militar matou oito pessoas. Na sequência, aparecem o 73º DP, no Jaçanã, e o 75º DP, no Jardim Arpoador, ambos com seis ocorrências cada um.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública), da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que os casos de reação dos criminosos são consequência direta da ação da polícia no combate ao crime organizado.
"Em muitos casos, os bandidos optam pelo confronto, colocando em risco tanto a população quanto os participantes da ação", afirmou a pasta, em nota. "Em 2023, por exemplo, as polícias paulistas prenderam e apreenderam 187.383 infratores em todo o Estado, um aumento de 6,8% em comparação a 2022, ou seja, o total de infratores mortos nas ações de policiais em serviço representa 0,2% do total de detidos no estado."
A secretaria acrescentou contar com comissões direcionadas para análise das ocorrências, visando ajustar procedimentos, revisar treinamentos e aprimorar as estruturas investigativas.
Ao todo, em 2023, ações de policiais militares causaram a morte de 146 pessoas, segundo dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública). No ano anterior, houve 145. Esses dois anos foram os primeiros em que o número de mortos por PMs na cidade ficou abaixo de 150.
Os boletins de ocorrência indicam que metade dos casos na área do 89º DP em 2023 resultou de confrontos envolvendo policiais militares em serviço. Nos demais, os PMs estavam de folga.
Além disso, 2023 foi o segundo ano seguido que a região --onde fica a favela Paraisópolis, a segunda maior da capital-- encabeçou a lista. Em 2022, a mesma delegacia registrou nove mortes por PMs.
Principal via do bairro, a avenida Giovanni Gronchi, que liga o terminal João Dias ao estádio Morumbis, foi cenário de três ocorrências envolvendo policiais militares em 2023. Dois dos supostos confrontos envolveram PMs em serviço. Em outro, o agente público estava de folga.
A via é um parâmetro de um dos bairros mais desiguais da capital, com imóveis de alto padrão de um lado e casas de alvenaria com seus blocos aparentes e caixas d'água azuis em seus tetos.
Houve ainda duas mortes na rua Pasquale Galuppi, que corta a favela. Outro registro, de uma morte em uma viela, não especifica o endereço.
Entre as vítimas do Jardim Taboão em 2023, todas eram homens, com idade de 17 a 34 anos. Seis eram pardos e quatro, brancos.
Considerando os dados de 2013 a 2023, a região do 89º DP fica na quinta posição entre as delegacias com mais registros de mortes em decorrência de confrontos com policiais militares. Ao todo, foram 83 em 11 anos, sendo que a maioria (70) envolveu policiais militares em serviço.
Nesse mesmo período, o topo da lista de delegacias com mais registros de mortes em decorrência de confrontos com policiais militares é formado por São Mateus (97), Jaçanã (90), Campo Limpo (87) e do Itaim Paulista (86).
Dos 5 locais com mais óbitos em confronto, 3 são patrulhados por um mesmo batalhão da PM, o 16º, que atua no Morumbi e em partes do Campo Limpo e do Jardim Arpoador.
Entre os 83 mortos do Jardim Taboão nos últimos anos está uma criança de dez anos baleada no dia 2 de junho de 2016 na rua José Ramon Urtiza. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, o menino e outro menor de idade haviam furtado, momentos antes, um carro. Policiais afirmaram ter atirado após serem recebidos a tiros.
Assim como o distrito policial do Jardim Taboão, o 75º DP (Jardim Arpoador), na zona oeste, também soma 83 mortes. A distância de uma delegacia para a outra é de 8 km. Do total de homicídios na região, 68 foram cometidos por agentes públicos de serviço.
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