RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O alargamento da praia de Jurerê, em Florianópolis (SC), foi concluído neste sábado (9) após 44 dias de dragagem dos quase 500 mil metros cúbicos de areia para a obra. Essa é a terceira orla da cidade que passa pela intervenção do tipo.
De acordo com a prefeitura, a praia passou a contar com 40 metros de largura de faixa de areia em locais onde a erosão costeira já havia retirado quase todo o espaço de lazer. A expectativa é de que esse dimensão seja reduzida para cerca de 30 metros após a estabilização a partir do movimento das marés.
"Essa dinâmica está dentro do processo de monitoramento de sedimentos", disse o secretário de Infraestrutura, Rafael Hahne. A obra custou R$ 24,8 milhões dos cofres municipais.
A praia está totalmente liberada, mas ainda vai passar por pequenas intervenções, como nivelamento da areia. A entrega final da obra será no dia 23 de março, 351º aniversário da cidade.
Antes de Jurerê, a prefeitura já havia realizado as engordas das praias de Canavieiras e dos Ingleses.
Santa Catarina se tornou nos últimos anos uma espécie de símbolo da técnica de alargamento de praias no país. O estado tem 8 dos 23 projetos de intervenção na orla identificados pela Folha realizados desde 2018 ou previstos para ocorrer.
Uma nota técnica do Programa Ecoando Sustentabilidade da UFSC critica a forma com que o governo catarinense licencia os alargamentos de praia. Projetos com engorda de até 500 mil m³ são considerados de médio porte, o que os dispensa da necessidade de estudos de impacto ambiental.
Todos os executados em Florianópolis se mantiveram próximo deste limite. O alargamento da praia dos Ingleses, no início de 2023, por exemplo, usou 499,6 mil m³ de areia. Deles foram exigidos apenas estudos ambientais simplificados, que, segundo o documento, "têm abrangência limitada no escopo e somente verifica a área de influência direta do empreendimento".
Em nota, o Instituto do Meio Ambiente de SC afirmou que avalia o impacto ao longo da linha de costa nos licenciamentos. "O IMA vem buscando implementar medidas para fazer a gestão integrada por setores praias na mesma unidade fisiográfica, de modo a avaliar os impactos de maneira mais ampla."
O oceanógrafo Antônio Klein, também da UFSC, defende a realização das obras com critérios técnicos. "Felizmente, na maior parte do país, estamos deixando de usar rochas e concreto (primeira atitude) e fazendo alimentação de praia, tentando reproduzir o ambiente."
Ele afirma que a principal razão para a concentração de obras do tipo no estado foi econômica, além da erosão costeira. "Precisa-se de espaço nas praias, pois o estado tem uma economia forte no turismo litorâneo. A conta é simples: sem praia, sem turistas."
Klein afirma que não basta fazer o alargamento da praia. É também necessário um programa de monitoramento e planejamento para realimentação da areia. "Têm de estar no orçamento obrigatoriamente pois, como toda obra, necessita de manutenção. Funcionam para o tempo planejado."
Os R$ 66 milhões para instalação de 2,7 milhões de m³ de areia na praia central de Balneário Camboriú foram custeados por empresários locais, com financiamento do Banco do Brasil. Balneário Piçarras criou em 2001 um fundo para manutenção da praia, que recebe um percentual fixo sobre o IPTU e ITBI.
O professor Paulo Pagliosa, do Núcleo dos Estudos do Mar da UFSC, afirma que a técnica se torna inócua se a ocupação do litoral permanecer interferindo em dunas, restingas e outros espaços muitas vezes destruídos pela ocupação urbana.
Estudos mostram que as dunas servem como estoque de sedimentos para as praias, enquanto restingas ajudam em sua retenção durante eventos extremos.
"Alargar a praia não é trabalhar com a natureza. É com o turismo e com o mercado. Trabalhar com a natureza seria restaurar o ambiente praial. O que as pessoas fazem no mundo inteiro são aterros ininterruptos. Estamos num momento de crise climática e o nível do mar já está subindo. Fazer um aterro de praia, que já é algo efêmero, numa situação de extremos vai durar muito menos", diz Pagliosa.
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