SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pacientes que tinham consultas, exames e outros procedimentos agendados na Santa Casa de Misericórdia, na região central de São Paulo, na manhã desta terça-feira (19), ficaram sem atendimento. Eles foram avisados que, em razão do apagão que atinge a região desde segunda (18), o sistema não estava funcionando e os serviços do ambulatório estavam suspensos.
A Santa Casa afirma que os atendimentos ambulatoriais e exames adiados serão remarcados posteriormente, mas os pacientes, em sua maioria do SUS (Sistema Único de Saúde), afirmaram estar decepcionados e apreensivos, sem saber quando vão conseguir uma nova data para atendimento ?já que aguardam há meses para se consultar com especialistas.
Eliane Dezembro, 47, saiu de Rio Claro, no interior de São Paulo, às 3h, para levar o filho Breno, de 11 anos, em consulta com reumatologista pediátrico. Ela tinha dois pedidos de consulta, o mais antigo era de abril de 2023.
Ela conta que o menino tem dores crônicas, mas mesmo com os exames os médicos não descobrem a causa.
"Viemos com van da prefeitura. Chegamos aqui e disseram que está sem sistema desde ontem por falta de energia. Tem um monte de gente lá na mesma situação. Falaram que vão ligar para remarcar. Mas se já sabiam desde ontem por que não ligaram e avisaram? Assim a gente nem vinha", questiona Eliane.
Ela sofre com sete hérnias de disco, além de bursite no quadril. Um restaurante próximo ao hospital emprestou uma cadeira para ela ficar sentada na calçada esperando a van buscá-la para retornar a Rio Claro.
"Não estou revoltada, mas acho que deviam ter mais empatia, avisar. Mas fazer o quê? Reclamar não adianta", diz.
Maria Pereira dos Santos, 49, também estava na calçada da rua Dr. Cesário Mota Júnior. Ela saiu de Registro, também no interior de SP, acompanhada do marido, para passar em consulta com um oftalmologista em razão de um problema de visão causado pelo diabetes.
"Saímos de lá às 2h. Mas aqui nem deixaram a gente entrar. Só disseram que vão ligar para remarcar. A gente não tem como pagar uma consulta particular, tem que passar por isso. Passar sono, fome", lamenta.
Edleide Soares de Jesus, 55, saiu de Praia Grande, no litoral paulista, para continuar o tratamento oftalmológico. Ela já passou por dois transplantes no olho esquerdo e tem catarata no direito.
"A gente veio de lá bem cedo, mas chegou aqui e nada. Sou muito bem tratada aqui, mas tenho medo porque olho é coisa séria e os meus já estão bem prejudicados", afirma.
Ela passaria por consulta e exame para conseguir colocar uma lente no mesmo olho que já sofreu os transplantes.
Todos estavam na calçada aguardando as vans buscarem para voltar para as respectivas cidades.
A assessoria da Santa Casa afirma que o Hospital Central permaneceu sem energia elétrica desde a manhã de segunda "devido ao apagão ocorrido na região central".
"Os atendimentos ambulatoriais e exames adiados serão remarcados posteriormente. Neste período o hospital foi alimentado por geradores nas áreas de internação e emergências", afirma a Santa Casa, sem mencionar quantos atendimentos deixaram de ser feitos e pacientes dispensados.
A Santa Casa ainda afirma que a energia foi restabelecida na manhã desta terça, mas não esclarece se os atendimentos foram retomados.
Segundo a Enel, geradores foram enviados ao local para garantir o funcionamento das áreas de urgência e emergência do complexo hospitalar.
ENTENDA
O apagão que atingiu bairros da região central de São Paulo completou 24 horas na manhã desta terça. A Enel, concessionária de energia, afirma que restabeleceu o fornecimento para 70% dos clientes afetados, mas parte dos comércios, hospitais e residências segue sem energia.
O apagão, que começou às 10h30 desta segunda (18), atingiu os bairros de Higienópolis, Bela Vista, Cerqueira César, Santa Cecília e Vila Buarque. Diversas ruas, como a Martim Francisco e Cesário Mota, na Vila Buarque, continuam às escuras.
Na tarde de ontem, moradores correram para shoppings da região central, como Frei Caneca, para conseguir trabalhar, estudar e carregar equipamentos eletrônicos, principalmente celulares.
A Enel respondeu na manhã desta terça que logo após o ocorrido "deslocou equipes de técnicos e eletricistas ao local para identificar a causa e realizar o reparo da rede. Em paralelo, a Enel disponibilizou geradores para atender um hospital e outros clientes prioritários. Em função das características envolvendo a rede subterrânea que atende aquela região, as equipes da distribuidora atuaram em parceria com a Sabesp durante toda a tarde", afirmou.
Porém, a Sabesp, empresa de saneamento do estado, afirma que ainda investiga a situação. "Avaliação preliminar constatou que as obras de manutenção e ligação nos ramais de esgoto não danificaram a rede elétrica subterrânea. A escavação foi feita manualmente, a partir das 11h, sem deslocamento da fiação", disse a estatal.
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