SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da França, Emmanuel Macron, esteve presente na cerimônia de inauguração da unidade do Institut Pasteur de São Paulo, na noite desta quarta-feira (27), no campus Butantã da USP (Universidade de São Paulo), na zona oeste da capital.

A criação do convênio entre o Institut Pasteur e a USP ocorreu em março de 2023, em cerimônia celebrada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Vahan Agopyan, o presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago e o reitor da USP e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Carlos Gilberto Carlotti Junior, na sede do Institut Pasteur em Paris.

Agora, a inauguração da unidade paulista consolida esse convênio e aproxima ainda mais os dois países. É a primeira vez que um chefe de estado da França visita o campus da USP nos 90 anos de sua existência.

Macron agradeceu a colaboração e se mostrou entusiasmado com as novas cooperações que podem sair da unidade Pasteur de São Paulo. "Obrigado por todo o trabalho realizado, vocês já não são mais um parceiro, mas sim uma unidade completa do Pasteur que vai ter autonomia na pesquisa desenvolvida aqui. A ciência produzida aqui é algo maior do que a cooperação França-Brasil, ela vai produzir um conhecimento científico que vai ultrapassar gerações e se tornar um ganho humanitário comum", disse.

O Institut Pasteur é uma organização privada, sem fins lucrativos, voltada para a pesquisa científica e o desenvolvimento de vacinas e terapias para a prevenção e combate de doenças infecciosas e não-infecciosas, com foco em saúde pública. Ele foi fundado em 1888 na capital francesa e tem atualmente 32 unidades associadas à rede Pasteur em todo o mundo.

Além da unidade na USP, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantan, em São Paulo, também são parceiros da rede Pasteur no Brasil.

Segundo a imunologista Paola Minóprio, diretora do Institut Pasteur de São Paulo, a ideia de cooperação científica entre os dois países teve início em 2014, com a criação da plataforma.

"Foram vários anos para a implementação da primeira fase que culminou com a criação da plataforma científica Pasteur-USP em 2019 e, depois, o desenvolvimento de projetos comuns. Nesses anos, mostramos uma excelente cooperação, com mais de 90 produções científicas em conjunto", explica.

"Na pandemia, por três anos ficamos aqui fechados e produzimos artigos científicos de excelência, contribuímos para a fabricação de testes diagnósticos para o coronavírus, em um momento de escassez de swabs [cotonetes utilizados no exame PCR], produzimos face shields para os funcionários e terceirizados da universidade. Não paramos um dia", afirma Minóprio.

Em 2021, em razão de sua contribuição para o combate à pandemia, Minóprio foi agraciada com a Legião da Honra da França, a mesma honraria que Macron deu ao cacique Raoni na última terça (26).

Segundo ela, a segunda fase da consolidação dos laços entre os parceiros com a transformação da plataforma científica como uma unidade própria do Institut Pasteur de São Paulo ajudou a chamar a atenção do presidente francês. "O Macron vir aqui hoje inaugurar a gente é importante, mas não é só isso, o que queremos é dar visibilidade para uma cooperação Brasil e França, que foi muito negligenciada nos últimos tempos, principalmente no governo passado que desacreditava a ciência, as vacinas e o avanço científico e tecnológico", diz.

Dentre as linhas de pesquisa que devem ser estudadas na unidade em São Paulo, estão doenças tropicais emergentes e re-emergentes (como zika, dengue e chikungunya) e também condições que afetam o neurodesenvolvimento, como Alzheimer, afirma a diretora.

"O Brasil é um considerado um hotspot de biodiversidade, isto é, tem uma diversidade de organismos única em todo o mundo, com seis biomas diferentes que contribuem não só com vírus e bactérias que causam doenças infecciosas mas também desafios em termos de terapias e tratamentos específicos para cada uma dessas regiões. Além disso, o envelhecimento populacional e as condicionantes de saúde que afetam as pessoas no Sul e Sudeste não são as mesmas do Norte e Nordeste, e também queremos estudar isso", diz.

Para Carlotti, reitor da USP, a criação da unidade inicia um novo ciclo de internacionalização daquela que é a maior universidade da América Latina.

"Habitualmente, a cooperação internacional da USP focava na mobilidade de alunos [de graduação ou pós-graduação] e pesquisadores do Brasil para o exterior, e vice-versa. Com a inauguração do Pasteur no campus teremos atividades de pesquisa e colaboração com esse país de maneira permanente, com o que há de melhor do ponto de vista de equipamentos, metodologias aplicadas e espírito de pesquisa internacional", disse.

No evento, o médico destacou o reconhecimento do governo francês da importância do ensino superior e da pesquisa científica brasileira e de cooperação entre os dois países, uma relação que vem desde a fundação da USP, em 1934.

A unidade do Pasteur na USP recebeu recursos da universidade para a construção do prédio e manutenção dos laboratórios. Os projetos de pesquisa desenvolvidos terão financiamento próprio, seja através de bolsas de pesquisa cedidas, principalmente, pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), seja por outros fomentos públicos ou privados.

Já os salários dos pesquisadores contratados pelo Pasteur serão pagos pelo instituto privado francês, enquanto aqueles dos associados à USP serão financiados pela própria universidade. A expectativa é também de com o tempo serem cedidas bolsas de pesquisa e recursos estrangeiros para o desenvolvimento científico, como da CNRS (principal órgão de fomento à pesquisa francês).


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