Campe?o no afeto
Rousimar Ferreira Neves ? mais que pai de Caroline. T?cnico de karat?, vibra com as conquistas que ambos v?m conseguindo no tatame

Ricardo Corr?a
Rep?rter
julho/2006

Rousimar Ferreira Neves (Academia Actrium) ? exigente com Caroline (os dois na foto ao lado). Quer que os golpes saiam perfeitos. Exige disciplina e faz quest?o de que ela n?o seja uma aluna comum. E n?o ? mesmo, afinal, Caroline, mais do que filha de um campe?o de karat?, tamb?m est? se tornando uma. Do pai, Rousimar, herdou muito mais do que os ensinamentos aprendidos na academia. ? em casa que os dois t?m mais experi?ncias para trocar. Ser pai e treinador, de acordo com Rousimar, n?o ? t?o simples.

"? bem complicado, porque se n?o tomar cuidado, pode-se misturar as posturas de pai e professor. Isto porque sou muito r?gido durante o treinamento, exijo muito em tudo, parte t?cnica , disciplina, etc... E como pai tento ser um pouco mais male?vel, conversando muito e tentando mostrar o caminho correto, longe de bebidas e drogas", conta, mas ressalta.

"Por outro lado ? uma sensa??o indescrit?vel ver que minha filha participa das minhas aulas e vai aos poucos absorvendo os ensinamentos que transmito dos mestres japoneses. N?o s? a mais velha, Caroline, como tamb?m a mais nova, Aline e minha esposa Eliane tamb?m s?o minhas alunas", lembra.

Rousimar fala da maleabilidade de um pai, mas reconhece que acaba ?s vezes sendo mais exigente por ser sua filha.

"Hoje tento ser um pouco mais imparcial, mas h? algum tempo atr?s cobrava um pouco mais dela que dos outros. Isto porque achava que ela estava relaxando nos treinos. Fui aprendendo aos poucos a conhec?-la, a respeitar seus limites. Assim como fa?o com os outros. ?s vezes, quando ela n?o vai treinar por algum motivo, ainda n?o gosto muito, mas vejo que realmente ela tem outras atividades que t?m que ser cumpridas tanto quanto o karat?" , explica. Caroline concorda.

"Com certeza, pelo menos, ? o que eu sinto. Ele, por ser pai, naturalmente, quer que eu seja a melhor, ent?o h? uma cobran?a maior", mas ressalta o prazer que ? receber duplamente os ensinamentos do pai.

"No meu caso ? muito bom, porque ele sendo bom no que faz ? um incentivo para mim, uma fonte de inspira??o. Por ser filha, eu sei dos problemas que ele passa, e vejo que mesmo assim ele tem todo o prazer de treinar. Essa quest?o me motiva quando estou desanimada", lembra a karateca. Rousimar Ferreira Neves ficou pr?ximo de realizar um sonho. Classificado para o Mundial de Karat? da Austr?lia, viu sua filha tamb?m conseguir a vaga. Mas se j? era dif?cil conseguir patroc?nio para ele, imagina para dois atletas. Assim, o talento de Caroline ficar? no Brasil, diferente do que aconteceu em outros campeonatos.

"S?o poucos os pais que sentem o prazer de estar competindo lado a lado em um esporte com sua filha ou seu filho. Ela j? me acompanha em campeonatos nacionais. ? a primeira vez que disputou uma seletiva para um mundial e conseguiu sua classifica??o", exalta Rousimar, que depois lamenta.

"Uma pena que este sonho n?o vai se concretizar desta vez. Por falta de patroc?nio ela n?o vai poder ir ao Mundial. ? lament?vel que com tantas empresas em nossa cidade, n?o consigamos o apoio necess?rio, j? que estaremos representando Juiz de Fora, Minas e o Brasil. Dos oito classificados em Minas, sete s?o meus alunos e alguns tamb?m n?o devem conseguir ir ao Mundial", reclama, afinal ? a primeira vez que Juiz de Fora tem tantos atletas em uma Sele??o Brasileira.

Caroline, que venceu no tatame, mas dessa vez ainda perdeu fora dele, est? chateada e desabafa. "Infelizmente, por falta de patroc?nio, n?o poderei acompanhar meu pai neste campeonato. Nem sei se terei essa oportunidade novamente. Um dos grandes problemas do pa?s condiz com a falta de patroc?nio e incentivo para atletas. Mas se voc? vai para um Mundial, por exemplo, ?s suas custas, e faz um bom nome, o governo corre para dizer que voc? ? brasileira e te d? tudo. O governo deveria se envergonhar dessa atitude. Fico triste de n?o poder ir, pois ? um dos sonhos que alimento desde pequena e estive a um passo de realiz?-lo, e ? decepcionante n?o poder ir por falta de apoio", lamenta.

Talento que segue

Mas independente da disputa ou n?o do Mundial este ano, a fam?lia j? mostrou que domina o karat?, e que ele ? mais do que simplesmente uma disputa nos tatames.

"N?s n?o encaramos o karat? somente como um esporte, ela faz parte da nossa vida, s?o muitos anos neste caminho, eu pratico h? 28 anos e ela h? 10 anos. Mas na parte competitiva do karat? eu acredito que ela ainda vai muito longe. Tem futuro. E para chegar onde eu cheguei, e aonde ainda quero chegar, ? s? ter muita disciplina, for?a de vontade e compreender o que o karat? nos transmite. Quando se compreende isto, ? que temos mais for?a para continuar em frente. E isto ? para tudo na nossa vida, para superarmos toda e qualquer dificuldade. Seja no col?gio, no trabalho, no relacionamento inter-pessoal, nas ansiedades, nos medos... Sempre digo isto a meus alunos. Uma parte depende de mim, outra parte dela", ensina Rousimar. A filha n?o pensou em fazer outra coisa.

"Sempre fui f? de artes marciais, desde pequena me identifiquei com coisas consideradas ?brutas? para uma garota. Preferia brincar de lutinha com os garotos do que fazer bal? como grande parte das meninas. Se eu tivesse que escolher agora, que sei o que quero, certamente escolheria o karat?, que al?m de me agradar como esporte, eu aprecio muito como estilo de vida", conta.

Treinar dezenas de alunos, participar de campeonatos, se defender de socos e chutes e aplic?-los realmente n?o parece ser f?cil. Mas Rousimar Ferreira Neves n?o tem d?vidas ao afirmar: "ser pai ? muito mais complicado", e justifica.

"Al?m de tudo que gira em torno do crescimento dela (dos filhos) sabe-se que nosso sangue que est? ali junto de voc?. E nos momentos dif?ceis fazemos de tudo para n?o deixar que os filhos sejam prejudicados. Claro que n?o podemos tamb?m fech?-los em uma redoma, eles tem que aprender a conviver com os outros, e aos poucos superarem sozinhos suas dificuldades, mas estamos sempre do lado deles", encerra.


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