SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sem a presença de Jair Bolsonaro (PL), o ato de 7 de Setembro na avenida Paulista se tornou um palanque eleitoral para candidatos bolsonaristas --a exemplo do que ocorreu em Brasília e no Rio, lugares onde o presidente discursou.

Os candidatos apoiados por Bolsonaro Tarcísio de Freitas (Republicanos), que concorre ao Governo de São Paulo, e Marcos Pontes (PL), que disputa o Senado, discursaram para a multidão que se espalhou pela avenida --e estavam acompanhados de uma série de candidatos a deputado.

Nas palavras de ordem e nos cartazes, o público atacou o STF (Supremo Tribunal Federal) e chegou a exaltar a ameaça de um golpe militar.

Havia a expectativa de que Bolsonaro falasse com o público na Paulista por meio de uma transmissão ao vivo ou ligação, mas o plano não foi executado por falta de sinal, segundo os organizadores.

No 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro esteve na Paulista e discursou diante dos apoiadores. Do alto do carro de som, ele repetiu ameaças golpistas contra o STF, exortou desobediência às decisões do ministro Alexandre de Moraes e desafiou quem o investiga com a frase "[quero] dizer aos canalhas que eu nunca serei preso".

Neste ano, o presidente participou do desfile oficial em Brasília e seguiu para o Rio de Janeiro, onde esteve em manifestação e motociata.

No caminhão de som do movimento Nas Ruas, Tarcísio elogiou os bandeirantes e o presidente Bolsonaro em sua fala de tom patriótico. "Hoje é dia de fazer uma viagem na história", disse o ex-ministro. Ele também lembrou figuras como Frei Caneca e dom Pedro.

"É dia de relembrar dos nossos heróis. Daqueles que afastaram invasões francesas, holandesas", seguiu Tarcísio, referindo-se ao passado do Brasil.

"Os nossos bandeirantes, que ajudaram a termos o território de hoje", emendou, sobre os responsáveis por incursões pelo território paulista conhecidas como Bandeiras. Bandeirantes como Anhanguera, Fernão Dias e Borba Gato hoje são símbolos paulistas (eleitorado que Tarcísio quer conquistar) homenageados com nomes em rodovias e em uma estátua.

Em sua fala, o ex-ministro disse que o Brasil hoje "é o único país do mundo que está gerando emprego", "que está conseguindo combater a inflação".

"Um país que teve condução firme e forte do presidente comprometido com seu povo, que trouxe de volta o verde e amarelo, os valores da família", discursou. "Independência não é simplesmente uma palavra. É uma questão de atitude, um modo de vida."

O ex-ministro chegou acompanhado do deputado estadual Frederico d'Ávila (PL), que em 2021 xingou o papa e chamou um arcebispo e outros religiosos católicos de pedófilos, vagabundos e safados.

Por volta das 11h, o candidato ao Senado Marcos Pontes (PL) chegou ao local e abraçou manifestantes. Pontes e Tarcísio, no entanto, não pediram votos explicitamente em suas falas no caminhão de som.

Estavam presentes ainda candidatos a deputado como Eduardo Bolsonaro (PL), Carla Zambelli (PL), Cristiane Brasil (PTB), Ricardo Salles (PL), Adrilles Jorge (PTB) e Sergio Camargo (PL).

No geral, os discursos pregaram contra o comunismo e exaltaram a família. Também houve gritos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto. "Lula ladrão seu lugar é na prisão", cantaram os manifestantes.

Pontes disse que não via a manifestação bolsonarista como um ato político. "Vejo como uma coisa patriótica, e é o que tem que ser. [...] Hoje é um dia de trégua, em que a gente tem que trabalhar pelo país, afinal de contas é o bicentenário da independência."

Em meio aos carros de som posicionados na avenida, os presentes carregavam cartazes com ataques ao STF e ao comunismo. Havia faixas dizendo "a Constituição é o povo" e "Democracia = voto auditável com contagem pública". Moraes também foi alvo de críticas por meio de cartazes e bonecos.

Também presente na avenida Paulista, a atriz e ex-secretária especial da Cultura Regina Duarte cantou trecho do Hino da Independência, disse que no Brasil a "barra tá pesada" e afirmou que "enquanto der", vai ser "a namoradinha de vocês".

"É esse tipo de manifestação que o Brasil e todas as autoridades precisam para entender que nós somos e queremos a paz, a democracia e a liberdade e que o voto de cada brasileiro seja respeitado", disse Regina.

A TV Globo, o âncora do Jornal Nacional William Bonner e a jornalista da Jovem Pan Amanda Klein foram criticados em coro.

O líder do movimento Nas Ruas e candidato a deputado estadual, Tomé Abduch (Republicanos), perguntou se os manifestantes confiavam na Globo, na Folha de S.Paulo e "na velha imprensa". A resposta foi "não!", e então ele rasgou elogios à Jovem Pan, emissora que, segundo ele, faz jornalismo de qualidade e "sem narrativas".

Mensagens em inglês também estampam faixas e cartazes. "We want printed ballots -- with public counting votes", "out communism", "we the people want the end of the toga dictatorship" e "presidente Bolsonaro trigger FFAAS" são algumas delas.

Em tradução livre, as frases acima significam, respectivamente, "nós queremos voto impresso --com contagem pública dos votos", "fora comunismo", "nós, o povo, queremos o fim da ditadura da toga [termo usado por bolsonaristas para criticar ações do STF]" e "presidente Bolsonaro acione as Forças Armadas".

Os manifestantes bolsonaristas começaram a se concentrar na avenida Paulista pela manhã, debaixo de chuva. O carro de som do grupo Nas Ruas foi o que reuniu a maior concentração de pessoas em seu entorno, na esquina da avenida Paulista com a rua Peixoto Gomide.

Os bolsonaristas dançaram ao som de uma música com Anitta, apoiadora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e crítica de Bolsonaro.

A voz da cantora carioca embalou a dança de alguns dos presentes, quando o carro do Nas Ruas tocou a música "Mostra tua Força Brasil", canção patrocinada pelo Itaú para a Copa da Rússia, em 2018. A música tem Anitta, Tiaguinho e Fabio Brazza como intérpretes.

Outros carros de som espalhados pela avenida Paulista também reproduziam jingles de Bolsonaro, assim como versões de músicas como "Me Leva" e "Baile de Favela" com letras de apoio ao ato desta quarta e ao chefe do Executivo federal.

O caminhão estacionado em frente ao Masp trazia faixas pedindo liberdade para Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB.

Em outro, parado em frente ao prédio da Fiesp, os organizadores tentaram transmitir uma chamada do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos aproximando o microfone do celular. Mas audição da fala de Allan, que atualmente mora nos Estados Unidos, ficou ruim, então desistiram da ideia.

Manifestantes em um dos carros de som associaram as eleições a uma luta espiritual e pediram para o público na Paulista rezar o Pai-Nosso. Os discursos também com frequência citavam Deus e a família. Participantes também fizeram fila para tirar foto com policiais militares que trabalhavam no local.

Pela manhã, sob chuva fina e temperatura de 16 graus na capital, o desfile que celebrou o bicentenário da Independência reuniu um público no Ipiranga bem abaixo do estimado pela prefeitura, que organizou esquema com bloqueios de vias no bairro e alterou o itinerário de 27 linhas de ônibus.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), participou do desfile, mas o governador de São Paulo e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), não compareceu. Ele optou por visitar o Museu do Ipiranga, nesta quarta às 10h, pela primeira vez após abertura.

O tucano estava acompanhado por alunos e professores da rede pública, além de trabalhadores que participaram das obras de reforma e ampliação do museu. Depois, ele segue para compromissos no interior do estado, como a visita à feira de flores em Holambra, além de eventos em Bragança Paulista e Atibaia.

O evento da Independência não teve a presença de militantes de partidos ou de políticos --boa parte do público era formado de mães e pais com crianças. Alguns com camisas nas cores do Brasil ou bandeira do país, apenas.


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