SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pelo segundo ano seguido, Jair Bolsonaro (PL) usou o 7 de Setembro para atacar instituições como Supremo Tribunal Federal. A cerca de três semanas do primeiro turno, porém, ele não replicou nesta quarta as ameaças feitas em 2021 ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ao seu atual presidente, Alexandre de Moraes.
O candidato à reeleição até repetiu frases, expressões e palavras, em Brasília e no Rio de Janeiro, que haviam sido bradadas por ele em 2021, quando subiu no palanque também na capital federal e na avenida Paulista, em São Paulo.
Brasil, 34 vezes, Deus, 21, Constituição, 15, e liberdade, 16, foram as campeãs de reincidência no vocabulário bolsonarista ao longo de quatro discursos do 7 de Setembro em 2021 e 2022.
A novidade deste ano ficou por conta do jocoso "imbrochável", repetido cinco vezes como piada machista ao lado da primeira-dama, Michelle, durante discurso em Brasília.
O que deixou de dizer, ou melhor, o que não reprisou nesta quarta-feira e que havia falado em 2021 talvez decifre melhor a imagem que Bolsonaro quis passar a cerca de três semanas do primeiro turno da eleição presidencial.
Os ataques ao sistema eleitoral e ao TSE, repetidos à exaustão pelo presidente no feriado do último ano e ao longo dos primeiros meses de 2022, desapareceram. Em 2021, prometeu aos apoiadores que exigiria "voto auditável e contagem pública dos votos".
"Não podemos ter eleições que pairem dúvidas. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral [Luís Roberto Barroso, na época]", afirmou em 2021.
Os ataques e questionamentos feitos no passado sumiram da versão Bolsonaro candidato. No palanque deste ano, ele fez propaganda do seu governo, pediu votos e afirmou acreditar na vitória nas urnas.
"A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar, vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil", afirmou.
Há um ano, o hoje presidente do TSE, Alexandre de Moraes, foi lembrado quatro vezes pelo presidente em discurso na avenida Paulista. Em uma delas, a citação ao nome do ministro do Supremo foi seguida do xingamento: "deixa de ser canalha".
Referências semelhantes, porém, não nominais haviam sido feitas horas antes, em 2021, no discurso em Brasília. "Um ministro do STF perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal", afirmou o presidente há ano.
No replay do 7 de setembro bolsonarista, Moraes, responsável pela condução e fiscalização do processo eleitoral, foi ignorado como alvo direto. Não teve seu nome citado, nem quando o presidente defendeu empresários aliados, que são alvos de operação autorizada pelo ministro do STF.
"Hoje estive em Brasília com os empresários acusados de golpistas. Pelo amor de Deus. Estamos ao lado dessas pessoas, que as suas privacidades violadas", afirmou no Rio de Janeiro, sem citar o ministro que determinou a operação.
O presidente, porém, deu deixas para que seus milhares de ouvintes fizessem o papel de acusadores. Numa fala repetida em Brasília e no Rio de Janeiro, o mandatário se colocou como guia da verdade.
"Fico feliz em ter mostrado que o conhecimento também liberta. Hoje todos sabem quem é o Poder Executivo, hoje todos sabem quem é a Câmara dos Deputados, hoje todos sabem o que é o Senado Federal e também, todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal", disse, na capital federal, antes de fazer um pausa no discurso, ocupada com xingamentos e vaias do público.
No Rio, a fala foi replicada quase que idêntica, com algum improviso, mas sem mudança na ordem, o que que fez do STF o último a ser citado, antes de uma parada no discurso, na medida para apupos do público.
Nesse clima eleitoral, Bolsonaro também mirou certeiro num alvo que foi ignorado em 2021. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi citado nominalmente, mas esteve presente no discurso repetidas vezes.
Ora elencado como o "mal" que "deseja voltar a cena do crime" ou como o aliado de países como Venezuela e Nicarágua, numa amostra do que deve ser a linha de ataques do restante da campanha presidencial.
"Todos os chefes dessas nações são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil. Eles [petistas] querem voltar apenas à cena do crime. Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública", gritou.
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