SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) Kelmon Luis da Silva Souza (PTB), 44, ganhou fama no último debate presidencial ao fazer dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Após o evento no SBT, no sábado (24), ele agora se prepara para de novo ganha os holofotes no debate da TV Globo, neste quinta (29), graças à regra eleitoral que dá o direito de participação a candidatos com representação de cinco ou mais parlamentares no Congresso.

Padre Kelmon, como se intitula, era vice e foi promovido à cabeça de chapa após Roberto Jefferson, liderança do PTB e candidato original, ter sido vetado pela Justiça Eleitoral devido à condenação no escândalo do mensalão. O plano de governo apresentado por Kelmon ao TSE é o de Jefferson.

No PTB desde dezembro de 2020, Kelmon já foi filiado ao PT e, hoje, se diz arrependido por este ato praticado em sua juventude. Nas redes sociais, Kelmon exalta políticos como Bolsonaro, Jefferson e Daniel Silveira (PTB-RJ) e pede "o fim do STF e a prisão de todos os seus ministros".

Ao final do debate no SBT, Kelmon defendeu Bolsonaro. "Só o fato de o presidente não ser de esquerda, já nos garante um alívio muito grande."

Entre 2020 e 2021, o religioso recebeu 15 parcelas do auxílio emergencial, totalizando R$ 5.100, segundo o portal da transparência. Hoje, em seu canal no Instagram, Kelmon pede doações para sua igreja informando chaves de Pix como o seu email ou CPF. As contas bancárias pertencem ao padre.

A assessoria de imprensa do petebista disse que, "ao contrário da Igreja Católica, os padres da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru não recebem salário e vivem de doações. E prossegue: "Durante a pandemia, as igrejas foram fechadas no Brasil, e o padre Kelmon precisou do auxílio para sobreviver".

O novo presidenciável é pároco de uma igreja autônoma peruana envolta em polêmica mesmo em seu país natal. Segundo a assessoria do candidato, Kelmon foi ordenado padre em agosto de 2015.

O candidato pertence à Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, sem nenhuma ligação com qualquer outra denominação Ortodoxa, o que gerou, inclusive, manifestação da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil ressaltando este ponto.

Durante o debate no SBT, Simone Tebet (MDB) afirmou que não se confessaria com Kelmon. Desde agosto, ele está licenciado da igreja devido às eleições.

Antes disso, segundo sua assessoria, ele celebrava os sete sacramentos --batismo, crisma, eucaristia, confissão, ordens, matrimônio e unção de enfermos.

Segundo a igreja peruana, Kelmon é pároco interino na Missão Paroquial Ortodoxa Malankar de São Lázaro, na Ilha de Maré (BA). A estrutura do templo atualmente limita-se a um barracão de madeira.

O presidenciável, porém, diz que para ministrar a palavra de Deus basta contar com "altar, um telhado e um padre". Além da Bahia, segundo a assessoria, a igreja do Peru possui paróquias em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Nas redes sociais, além de pedir transferências em dinheiro para o seu Pix com o objetivo de construir um templo na Ilha de Maré, Kelmon já pleiteou ajuda para viabilizar a instalação de um cais na região.

A Ilha de Maré, localizada na baía de Todos-os-Santos, reúne 4.200 moradores e não tem ligação por terra com o continente. A travessia até Salvador é feita por barco.

Kelmon também faz apelo para que os seguidores destinem o dízimo à igreja ou façam doações mensais para que consiga realizar ações pastorais na ilha. "Vamos fazer como disse Jesus: Lavai os pés uns dos outros" [sic], publicou o candidato.

No Peru, a igreja à qual Kelmon pertence também já foi alvo de questionamentos e polêmica. Um dos líderes da igreja, que assina documento confirmando o pertencimento de Kelmon à instituição, foi citado em reportagem do jornal La Republica em tom de denúncia.

"A Polícia Nacional do Peru (PNP) afirmou que falsos sacerdotes realizam atividades fora de seus poderes em diferentes lugares de Lima. São quatro pessoas que até têm instalações, realizam missas e pedem donativos que utilizam em benefício próprio", diz o texto.

Ángel Morán Vidal, citado na reportagem, posteriormente aparece em outra matéria do jornal defendendo a legitimidade da instituição e afirmando que ela é reconhecida pelo Estado peruano.

Questionada sobre esse assunto, a assessoria de Kelmon afirmou que houve uma averiguação quando a igreja estava se estabelecendo no Peru, mas que ela já foi reconhecida oficialmente e representantes foram até recebidos pelo presidente Pedro Castillo, conforme fotos enviadas à reportagem.

A aparição de Kelmon fez com que a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil, predominante entre as denominações ortodoxas no Brasil, emitisse nota se desvinculando do candidato.

De acordo com o padre Caio Queiroz, membro da igreja, o candidato usa um tipo de véu chamado eskimo, que é específico deste patriarcado e usado exclusivamente por monges celibatários (na igreja, padres podem ser casados).

"O referido candidato não é membro de nossa Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil em nenhuma de suas paróquia, comunidades, missões ou obras sociais, bem como não é e nunca foi seminarista ou membro do clero de nossa Igreja em nenhum dos três graus da ordem (diácono, presbítero/padre e bispo), quer no Brasil, quer em qualquer outro país, e também não é nem nunca foi membro leigo ou clérigo de nenhuma de nossas Igrejas irmãs", diz o comunicado emitido pela igreja.

A igreja ortodoxa tem diversos patriarcados independentes no mundo, sendo a Sirian uma delas.

A assessoria de Kelmon afirmou que a igreja à qual pertence usa vestuário regulamentado por ela própria. "Existem várias ordens ortodoxas e todas são independentes e autocéfalas, ou seja, possuem domínio de si próprias. Nenhuma precisa estar subordinada a outra. Cada uma se autorregulamenta. Portanto, a afirmação da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia não faz sentido", afirmou a assessoria do candidato.

Ao TSE Kelmon declarou um patrimônio de R$ 8.548,13. Para a sua campanha, a direção nacional do PTB investiu R$ 1,545 milhão até esta segunda (22). Boa parte do recurso, R$ 1,2 milhão, foi direcionada a uma empresa de marketing sediada em Cuiabá (MT), segundo portal da Receita Federal.


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