SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto o PSDB administrava a crise gerada pelo pior resultado eleitoral da sua história, o apoio declarado pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), a Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) voltou a abalar um partido já dividido e ainda provocou a demissão de quatro nomes do governo.
Mesmo tucanos do grupo de Rodrigo viram a atitude de ir ao encontro do presidente nesta terça-feira (4) e dizer que seu apoio é "incondicional" como algo precipitado.
Com 18,4% dos votos e em terceiro lugar, o governador teve a pior derrota do PSDB no estado. Tarcísio e Fernando Haddad (PT) avançaram para o segundo turno.
Na entrevista ao lado de Bolsonaro, o governador afirmou que havia comunicado a decisão ao presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, e nacional, Bruno Araújo, mas membros do PSDB e integrantes do governo afirmam terem sido pegos de surpresa.
Rodrigo também afirmou que sua decisão era pessoal, algo que repetiu a aliados e secretários após a repercussão.
Em nota, a assessoria do governo afirmou que a premissa da administração "é garantir que o interesse público esteja acima de qualquer corrente político/partidária". "Um governo é feito por pessoas, ideias e crenças diferentes. Na prática, Rodrigo Garcia sempre pautou a sua vida pública por atuar ao lado de pessoas que nem sempre pensam como ele", completa.
O apoio do tucano foi declarado antes mesmo que o PSDB nacional oficializasse a liberação de seus diretórios e filiados para declarar voto em Lula ou Bolsonaro.
O PSDB paulista ainda não anunciou um rumo, enquanto o diretório municipal do partido reagiu com seu presidente, Fernando Alfredo, afirmando que está disposto a conversar tanto com Tarcísio como com Haddad e que tomará uma posição colegiada ?em crítica à decisão individual de Rodrigo.
Ao mesmo tempo em que gerou mal-estar e isolou Rodrigo entre parte do tucanato, a adesão aos bolsonaristas foi lida por políticos como um sinal de que o governador deve deixar o PSDB e retornar ao DEM (agora União Brasil).
Rodrigo não é um tucano histórico e se filiou em 2021 apenas para concorrer à reeleição. Integrantes da União, porém, afirmam que trata-se de especulação, embora ressaltem que as portas do partido estão abertas.
No encontro com Bolsonaro, o governador estava acompanhado de seu vice na chapa, Geninho Zuliani (União Brasil), de quem é aliado. A União Brasil seguiu os passos do tucano e declarou apoio a Tarcísio nesta quarta-feira (5).
Dois fatores pesaram na reação negativa de integrantes do PSDB, além da rapidez com que Rodrigo costurou a aliança. Primeiro, o termo "apoio incondicional" ?a avaliação é a de que o apoio deveria ter vindo acompanhado de compromissos programáticos de Bolsonaro e Tarcísio.
Aliados do governador saíram em sua defesa para afirmar que houve uma interpretação equivocada e que o "incondicional" significava que não havia acordos por trás do apoio.
Nos bastidores, políticos de diferentes siglas dizem que Rodrigo pretende manter cargos, além de proteger-se contra investigações e retaliações do eventual sucessor.
De qualquer forma, afirmam integrantes do governo, Rodrigo teria que ajudar Tarcísio na transição e até na composição da nova gestão, já que o PSDB domina a máquina do estado desde 1995.
O segundo ponto que não foi engolido por líderes do PSDB foi a fala de Tarcísio de que não queria o PSDB em seu palanque, apesar de aceitar o apoio de Rodrigo. "Eu preguei mudança o tempo todo, não faz sentido agora estar com eles [PSDB] no palanque", disse.
"Estamos dispostos a conversar com quem quer o apoio do PSDB, que é um partido colegiado, que respeita sua história e legado", reagiu Alfredo, presidente do PSDB da capital, à reportagem.
Entre os membros do PSDB histórico, que apoiam Lula para a Presidência, o endosso de Rodrigo a Bolsonaro também foi alvo de críticas. José Aníbal, ex-presidente do partido, afirmou ao UOL que a atitude não condiz com a história do PSDB e que não houve consulta ao partido.
"O PSDB perdeu a narrativa e sai manco desse processo. Vou trabalhar para que se recupere", afirma ele à reportagem.
Num PSDB dividido, Lula conta com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de ex-presidentes da sigla ?Tasso Jereissati (CE), Pimenta da Veiga (MG), Teotônio Vilela Filho (AL), José Serra (SP) e José Aníbal (SP).
Além de Rodrigo, a lista de tucanos que estão com Bolsonaro inclui os prefeitos Duarte Nogueira (Ribeirão Preto) e Orlando Morando (São Bernardo do Campo), além do candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, e o presidente licenciado do PSDB gaúcho, Lucas Redecker.
O alinhamento de Rodrigo com Bolsonaro e Tarcísio tem o respaldo de prefeitos do interior, que vão pelo mesmo caminho na maioria. No primeiro turno, Rodrigo tinha o apoio de mais de 500 deles.
A disputa do PSDB em outros estados, sobretudo no Rio Grande do Sul, onde Eduardo Leite (PSDB) precisa dos votos de petistas contra o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), também foi lembrada por aqueles que viram na decisão de Rodrigo uma ação individualista e que não levou em conta o futuro do partido.
Outros minimizaram, argumentando que as ações do paulista não repercutem em todo o país. Eduardo Leite ainda não se posicionou entre Lula e Bolsonaro. Aécio Neves (MG) também não fez declarações.
Para além do PSDB, houve estragos também no governo. Nesta quarta, pediram demissão Rodrigo Maia (Projetos e Ações Estratégicas), que será substituído por Tarcila Reis Jordão; Laura Muller (Desenvolvimento Social), que passa o bastão a Célia Leão; e a economista Zeina Latif, que sai da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, herdada por Bruno Caetano.
O presidente da Desenvolve SP, banco de fomento do governo, Sergio Suchodolski, também saiu.
Segundo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Maia ele tem ajudado na articulação da campanha de Lula com empresários e nomes de mercado. Mas, segundo amigos do tucano, ele não declarou apoio ao petista porque isso afetaria seus compromissos privados.
Interlocutores de Rodrigo afirmam que sua decisão teve coerência, já que ele sempre combateu o PT. Também dizem que tucanos pró-Lula se manifestaram sem consultar o PSDB. Além disso, apontam mágoa com os ataques de Haddad na campanha.
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Colaboraram Igor Gielow e Victoria Azevedo, de São Paulo
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