SALVADOR, BA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) teve um crescimento em sua votação no Nordeste em comparação ao primeiro turno das eleições de 2018, mas prevaleceu sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em apenas 15 das 1.794 cidades da região.

O cenário é distinto ao de 2018, quando o presidente teve proporcionalmente menos votos na região, mas teve mais força nos grandes centros urbanos e venceu em 42 cidades, incluindo cinco capitais de estados nordestinos: Recife, Maceió, Natal, João Pessoa e Aracaju.

Bolsonaro teve 27% dos votos válidos na região contra 26% na eleição de quatro anos atrás. Numericamente, houve um avanço de 1,3 milhão de votos, resultado impulsionado pelo maior número eleitores aptos a votar.

Por outro lado, Lula teve desempenho superior ao de Fernando Haddad (PT) em 2018. O petista atingiu 67% dos votos do Nordeste na eleição deste ano contra 51% de Haddad há quatro anos.

Em geral, a votação de Bolsonaro caiu nos grandes centros urbanos do Nordeste, incluindo capitais, mas houve um avanço nos pequenos municípios, onde é maior a influência dos líderes políticos locais e da máquina do Governo Federal.

Dentre os 15 municípios em que Bolsonaro prevaleceu no Nordeste estão redutos do agronegócio, uma cidade com maioria de evangélicos, um epicentro de embates entre ruralistas e indígenas e, sobretudo, redutos eleitorais do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP).

Ao todo, 8 das 15 cidades em que Bolsonaro venceu no Nordeste estão em Alagoas, incluindo Maceió, única capital nordestina onde o presidente saiu vitorioso neste domingo (2).

A capital alagoana é governada por João Henrique Caldas, o JHC. Ele é filiado ao PSB do candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin, mas tem boa relação com a família Bolsonaro. Focado nas querelas da política local, ele não se envolveu na disputa nacional.

No entorno de Maceió, Bolsonaro também venceu em Barra de São Miguel, cidade de 8,2 mil habitantes, governada pelo pai de Arthur Lira, o ex-senador Benedito de Lira (PP).

Conforme apontado pela Folha de S.Paulo, a cidade teve o orçamento turbinado com verbas das emendas de relator. Recebeu R$ 4,7 milhões em 2021 e R$ 5,8 milhões em 2020 por meio do orçamento secreto e foi o município alagoano que mais recebeu recursos desse tipo de emenda proporcionalmente à sua população.

A despeito do derrame de verbas na cidade governada por Benedito de Lira, Bolsonaro prevaleceu na cidade por apenas 30 votos: foram 2.769 votos no presidente na cidade contra 2.739 votos em Lula.

Bolsonaro ainda venceu em outras seis cidades de Alagoas: Maragogi, Porto Calvo, Japaratinga, Marechal Deodoro, Corupipe e Matriz de Camaragibe (a única das 15 em que o PT ganhou em 2018). A maioria são bases eleitorais de Arthur Lira e de Marx Beltrão, ambos reeleitos deputados federais pelo PP.

No Maranhão, o presidente teve mais votos que Lula em Imperatriz, Açailândia e São Pedro dos Crentes. As duas primeiras ficam no sul do Maranhão e são polos do agronegócio no estado.

São Pedro dos Crentes, por sua vez, foi fundada por missionários evangélicos e é única cidade nordestina em que a maioria da população é evangélica, segundo dados do IBGE.

Na eleição deste ano, São Pedro dos Crentes foi a cidade do Nordeste que deu, proporcionalmente, mais votos a Bolsonaro. Foram 58,6% de votos válidos para Bolsonaro contra 37,4% de Lula.

Grande parte da votação foi impulsionada pelo apoio de Lahésio Bonfim (PSC), prefeito da cidade que renunciou para concorrer ao governo do estado. Ele teve 24,9% dos votos e foi derrotado no primeiro turno, mas terminou a eleição fortalecido. Na cidade, ele teve 81% dos votos.

Na Bahia, Bolsonaro também prevaleceu em Buerarema (454 km de Salvador), cidade que vota sistematicamente contra o PT desde 2014. As urnas refletem o histórico de conflitos entre os fazendeiros e os indígenas tupinambás, que isolaram a esquerda e fizeram da cidade bastião da direita baiana.

Os conflitos na cidade giram em torno da criação da Terra Indígena Tupinambá, área de 45 mil hectares localizada entre os municípios de Ilhéus, Una e Buerarema. O processo de demarcação da área, onde vivem cerca de 8.000 indígenas, foi iniciado em 2004, mas o processo está parado desde 2016.

O prefeito da cidade, Vinícius Ibrann (União Brasil) diz que a cidade vem, em sucessivas eleições, dando sinais de que quer mudança.

"Buerarema historicamente tem sido abandonada pelas gestões do PT na Bahia e a população responde no voto. A questão dos conflitos indígenas só fez acentuar a oposição aos petistas", afirma.

O cenário é semelhante em Luís Eduardo Magalhães, cidade do oeste baiano que é um dos principais polos do agronegócio no estado com a produção de soja, milho e algodão. Foi a segunda cidade do Nordeste em que Bolsonaro teve, proporcionalmente, mais votos.

O viés antipetista também se refletiu na eleição estadual: o petista Jerônimo Rodrigues foi superado na cidade por ACM Neto (União Brasil) e pelo bolsonarista João Roma (PL).

Pernambuco, terra natal de Lula, foi um dos que registrou maior recuo do bolsonarismo. Em 2018, Bolsonaro teve mais votos em nove cidades do estado, incluindo os cinco maiores colégios eleitorais: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista e Caruaru.

Desta vez, o presidente venceu apenas em Santa Cruz do Capibaribe, único município pernambucano onde ele teve maioria dos votos tanto no primeiro quanto no segundo turno em 2018.

A cidade do agreste pernambucano é conhecida por abrigar um polo de confecções e foi palco de motociatas lideradas por Bolsonaro duas vezes durante a campanha eleitoral.

Nos estados do Ceará, Piauí, Paraíba e Sergipe, Lula prevaleceu nas urnas em todas as cidades. No Rio Grande do Norte, deu Bolsonaro apenas em Parnamirim.


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