SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na noite de domingo (30), depois de perder o Governo de São Paulo para Tarcísio de Freitas (Republicanos), Fernando Haddad (PT) "inaugurou" a disputa pela prefeitura da capital ao reiterar o apoio do PT a Guilherme Boulos (PSOL) na eleição municipal de 2024.

Dois anos antes do pleito, partidos e candidatos começam a desenhar suas estratégias e alianças com base na herança da eleição de 2022, num cenário que tem hoje ao menos quatro nomes de destaque: Ricardo Salles (PL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e Boulos.

Amargando a terceira derrota consecutiva nas urnas, Haddad, que foi prefeito da capital de 2013 a 2016, procurava listar saldos positivos da sua experiência quando acenou a Boulos ao afirmar que venceu na capital -onde a esquerda perdeu em 2016, 2018 e 2020.

"Boulos, vai se animando aí porque, na capital, eu tive praticamente a mesma votação, em termos percentuais, quando venci José Serra [PSDB], em 2012. Isso é muito significativo, porque eu tenho um amor profundo por essa cidade e fiquei tão feliz de ver o mapa da capital todo vermelhinho", disse Haddad.

Em 2012, o petista venceu o tucano por 55,57% a 44,43% dos votos válidos. Neste ano, Haddad ficou à frente de Tarcísio na capital, com 54,41% a 45,59%. Há dois anos, Bruno Covas (PSDB) venceu Boulos, por 59,38% a 40,62%, e se reelegeu prefeito. Seu vice, Nunes, que assumiu após a morte de Covas, buscará a reeleição em 2024.

O acordo entre PT e PSOL para 2024 é consequência direta do pleito de 2022, em que Haddad conseguiu unificar a esquerda em torno da sua candidatura já no primeiro turno. Evitar a fragmentação e construir uma aliança que de preferência fure a bolha eram as chaves do PT para eleição paulista e também para a de Lula (PT), que derrotou Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Planalto.

O PSOL aceitou retirar a candidatura de Boulos ao Governo de São Paulo e apoiar Haddad em troca de apoio do PT na eleição de 2024.

Em 2020, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) teve como concorrentes do campo progressista, no primeiro turno, Jilmar Tatto (PT), Márcio França (PSB), Orlando Silva (PC do B) e Marina Helou (Rede) -nomes e partidos que se uniram com Haddad desta vez.

Na opinião de petistas, a reconquista da capital é um trunfo e dá chance para a esquerda recuperar a administração paulistana -que já foi do PT com Haddad, Marta Suplicy e Luiza Erundina (PSOL).

Por outro lado, ponderam que o desafio é grande e que será preciso esforço para não retroceder em apenas dois anos. A preferência, dizem, é que a esquerda mantenha unida a frente pró-Haddad e abrace Boulos.

Os políticos da esquerda ponderam, entretanto, que não é hora de se ocupar com a eleição municipal -a posse de Lula e a governabilidade do petista são prioridades. Até porque uma vitória desse campo na capital também depende de que o governo federal vá bem.

Integrantes do PSOL encampam a tese petista pela unidade. "Vamos dialogar com os partidos, respeitando sua autonomia e suas figuras", afirma Boulos.

As federações, uma novidade deste pleito que possibilitou a união de PSOL-Rede e PT-PV-PC do B, já garantem uma frente de cinco partidos para Boulos.

O centro da discórdia é o PSB -petistas e psolistas estão se dirigindo à sigla quando falam em diálogo e unidade. O partido deve lançar Tabata, que já assumiu o diretório municipal da legenda com esse objetivo.

Reeleita deputada federal, Tabata se engajou na campanha de Haddad e de Lula. De acordo com aliados da deputada, não houve mal-estar com Haddad pela sinalização a Boulos depois de todo o trabalho da pessebista na campanha petista, já que o apoio do PT ao PSOL já era público desde antes do pleito.

Enquanto aliados de Boulos falam em tentar atrair o PSB, o entorno de Tabata elenca razões para que ela seja candidata em 2024. Para eles, não há problema que os progressistas se dividam em duas candidaturas numa eleição de dois turnos -repetir a união seria desejável, mas não é regra geral.

A disputa na esquerda se dará entre dois campeões de votos. Boulos foi o deputado federal eleito mais bem votado em São Paulo, com pouco mais de 1 milhão de eleitores. Tabata ocupa o sexto lugar, com 338 mil. Em 2018, ela também foi a sexta mais votada do estado, com 264 mil.

Integrantes da cúpula do PSB dizem que a decisão de concorrer cabe a Tabata, mas a veem preparada e credenciada pelo aumento de sua votação. Além disso, acreditam que sua rejeição é menor do que a de Boulos.

A leitura no PSB é a de que Tabata teria uma candidatura mais ampla, de centro-esquerda, podendo atrair siglas como PDT e até PSDB-Cidadania e Podemos.

Na direita, também há fragmentação entre Nunes, que representa partidos mais tradicionais desse campo, e os bolsonaristas, que ensaiam uma candidatura própria com Salles ou outro nome.

Na tentativa de reeleição, o prefeito quer manter o amplo arco de partidos de direita e de centro que elegeram Covas em 2020 -PSDB, PP, PL e Podemos entre os principais, além do que hoje seria a União Brasil. Na época, Republicanos e PSL apoiaram o tucano no segundo turno.

Mas o contexto agora é outro. PL, Republicanos e PP são partidos de sustentação do bolsonarismo, que demonstrou força nas urnas. Nesta eleição, Nunes acenou para o bloco ao apoiar Tarcísio e Bolsonaro, esperando reciprocidade daqui a dois anos.

Partido de Tarcísio, o Republicanos lançou o deputado Celso Russomanno para a prefeitura em três pleitos seguidos --ele derreteu em todos. De acordo com o presidente da sigla, Marcos Pereira, já está acertado que a legenda não lançará o deputado novamente em 2024.

Atualmente, o Republicanos integra a gestão de Nunes com o comando da secretaria de Habitação.

Deputados bolsonaristas argumentam a favor de lançar um representante genuíno desse campo em 2024 e pleiteiam que Tarcísio e seu partido endossem o nome bolsonarista em vez de Nunes. Em 2020, Bolsonaro apoiou Russomanno, que não foi bem recebido na base fanática do presidente.

A avaliação de deputados bolsonaristas é a de que a aliança entre Tarcísio e Nunes não tem necessariamente que se repetir em 2024. Eles pregam que um nome mais próximo de Bolsonaro terá mais chances contra Boulos, além de criticarem a gestão do atual prefeito.

Interlocutores do prefeito trabalham com a hipótese de um rival bolsonarista no pleito, mas afirmam que a eleição está distante e que o foco atual é a gestão da cidade. Adversários de Nunes ponderam que sua força está na máquina pública a seu favor.

Entre os bolsonaristas, Carla Zambelli (PL) também é cotada. A deputada, no entanto, diz não considerar essa possibilidade, enquanto Salles já sinalizou que toparia concorrer. O episódio em que Zambelli perseguiu um apoiador do PT com uma arma apontada pelas ruas de um bairro nobre da capital também colaborou para que seu nome não seja o favorito.

Quem defende Salles afirma que o deputado, que já foi ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro e secretário do Meio Ambiente no governo Alckmin, em São Paulo, teria mais experiência e poderia ter o apoio de empresários.

RESULTADO DE ELEIÇÕES NA CAPITAL PAULISTA

2012 - Eleição municipal (2º Turno)

Fernando Haddad (PT) - 55,57%

José Serra (PSDB) - 44,43%

2016 - Eleição municipal (1º turno)

João Doria (PSDB) - 53,29%

Fernando Haddad (PT) - 16,7%

2018 - Eleição presidencial (2º turno)

Jair Bolsonaro (então PSL) - 60,38%

Fernando Haddad (PT) - 39,62%

2020 - Eleição municipal (2º turno)

Bruno Covas (PSDB) - 59,38%

Guilherme Boulos (PSOL) - 40,62%

2022 - Eleição estadual (2º turno)

Fernando Haddad (PT) - 54,41%

Tarcísio de Freitas (Republicanos) - 45,59%


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