BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), antecipou as articulações para a formação de uma aliança para garantir ainda neste ano apoio à sua reeleição no comando da Casa. O deputado, fiel apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) até as eleições, tenta impedir o surgimento de qualquer adversário competitivo nessa disputa.
A eleição ocorre em 1º de fevereiro e vale para um mandato de dois anos (2023-2025).
Apesar da declaração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que não deve interferir na disputa pela chefia da Câmara, um grupo de aliados do presidente eleito tem defendido nos bastidores que o novo governo deveria construir uma candidatura alternativa a Lira --que eles enxergam com desconfiança.
Esse plano dependeria da formação de uma base ampla no Congresso e de uma articulação entre os partidos governistas para o lançamento de um nome para enfrentar Lira na eleição.
Nos últimos dias, o atual presidente da Câmara avançou sobre partidos que devem integrar a coalizão de Lula, com o objetivo de esvaziar essa possibilidade. Lira reforçou o compromisso de apoio do PSD e de uma ala do MDB. Também abriu conversas para fechar uma aliança com parlamentares da União Brasil.
Lira já tinha indicações dentro desse trio de partidos de que haveria apoio a sua reeleição em caso de vitória de Bolsonaro. Agora, ele trabalha para manter as promessas dentro do novo cenário e obter logo a garantia de um número suficiente de legendas a seu lado para inviabilizar a chance de um concorrente.
PSD, MDB e União Brasil são considerados estratégicos na disputa pela presidência da Câmara. As legendas contam com 143 deputados eleitos. Com os 187 do núcleo do centrão (PP, PL e Republicanos), esses parlamentares seriam mais que suficientes para superar a metade das 513 cadeiras da Casa.
É por isso que uma adesão de PSD, MDB e União Brasil à reeleição de Lira pode impedir, matematicamente, a construção de uma candidatura alternativa.
O cálculo de aliados de Lula para o lançamento de uma candidatura governista dependeria de um acerto entre PSD, MDB, União Brasil e as siglas de esquerda, que têm 136 deputados eleitos.
Auxiliares do petista resistem a um acordo com Lira por entenderem que o presidente da Câmara acumulou poder demais nos últimos anos com o controle e a distribuição das emendas de relator. Além disso, o deputado demonstrou alinhamento com Bolsonaro.
Os petistas ponderam, no entanto, que pode ser muito pior enfrentar Lira, principalmente se houver chance de derrota.
O medo é repetir o ano de 2015, quando o governo Dilma Rousseff (PT) patrocinou um candidato à presidência da Câmara contra Eduardo Cunha (MDB-RJ), perdeu e viu instalado um adversário no comando da Casa.
O núcleo político do governo acredita que Lula deve se manter completamente afastado dessas articulações para não atrapalhar a tramitação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, essencial para acomodar no Orçamento verbas para cumprir promessas de campanha.
Depois disso, com a montagem da base do governo e a distribuição dos ministérios, seria possível ter um quadro mais claro do tamanho da coalizão do petista e saber se o melhor caminho é fazer um acordo com Lira ou enfrentá-lo.
Em caso de confronto, Lula teria a distribuição de verbas do governo e cargos nos ministérios para atrair as siglas, enquanto Lira tem a promessa dos recursos bilionários das emendas de relator, além da simpatia de deputados oposicionistas e independentes.
O presidente da Câmara aproveita o momento para amarrar o apoio dos partidos, antes de uma possível investida do novo governo. Aliados de Lira afirmam que as articulações podem ser concluídas já nas próximas semanas.
O presidente da Câmara recebeu um "sim" do PSD em reuniões reservadas com dirigentes da sigla. Em outro encontro, com os deputados eleitos da sigla, ele recebeu elogios do líder da legenda, Antonio Brito (BA) --que também é um dos representantes do PSD no governo de transição.
Durante a semana, Lira também se reuniu com integrantes da cúpula da União Brasil, que surgiu da fusão do DEM com o PSL.
Parte da legenda vê a reeleição com bons olhos, ainda que o presidente do partido, Luciano Bivar (PE), trabalhe com a possibilidade de lançar sua própria candidatura ao comando da Casa. Lira quer conversar com Bivar nos próximos dias.
O MDB permanece como uma interrogação. Sem respaldo do comando do partido, Lira aposta no varejo, em articulações com deputados emedebistas das regiões Norte e Sul.
O líder da sigla, Isnaldo Bulhões (MDB-AL), diz que não há negociação para a disputa na Câmara e que será necessário aguardar a formação da base aliada do próximo governo antes de tomar qualquer decisão nesse sentido.
No encontro de cerca de duas horas entre Lula e Lira, na quarta-feira (9), o petista disse que não pretende interferir na eleição para o comando da Câmara. Se confirmada, a neutralidade fortalece a possibilidade de reeleição de Lira em fevereiro.
Em troca desse comportamento, dizem aliados do petista, Lira trabalharia em prol da aprovação da PEC da Transição.
Num segundo momento, a ideia é que haja até mesmo uma aliança formal entre o presidente da Câmara e Lula, o que daria ao presidente eleito parte do centrão e uma base que seria muito mais sólida do que se contasse apenas com a esquerda e partidos de centro e de direita hoje independentes.
Lira foi eleito deputado federal pela primeira vez em 2010 e iniciará em 2023 seu quarto mandato consecutivo. Sua eleição para o comando da Câmara, em fevereiro de 2021, teve como ponto crucial a aliança que firmou no ano anterior com o Bolsonaro.
Nos primeiros meses da pandemia, sob ameaça de impeachment, o presidente fechou acordo com o centrão e abandonou a fracassada ideia de se relacionar com o Congresso por meio de frentes parlamentares.
Em troca da sustentação no Legislativo, o bloco recebeu de Bolsonaro a chave do cofre das bilionárias emendas de relator, o que pavimentou a vitória de Lira sobre Baleia Rossi (MDB-SP), candidato apoiado pelo então presidente da Casa, Rodrigo Maia.
Em sua gestão, Lira atuou de forma alinhada a Bolsonaro e foi um dos principais cabos eleitorais do presidente. Entre outras iniciativas, ele conduziu a aprovação do pacote de bondades que tinha o objetivo de aumentar as chances eleitorais do aliado.
Meses antes da eleição presidencial, Lira chegou a reconhecer publicamente que sua candidatura a mais um biênio no comando da Câmara não dependeria de quem fosse o ocupante do Palácio do Planalto. Mesmo antes do resultado do dia 30, ele já trabalhava por sua recondução --com Bolsonaro reeleito (o que tornaria o caminho mais fácil) ou com Lula.
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