SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O jornalista Janio de Freitas, 90, deixa de publicar sua coluna semanal na Folha a pedido do jornal, por contenção de despesas.

Referência no jornalismo brasileiro, nos últimos anos dedicou-se a denunciar em seus textos os desmandos do ainda presidente Jair Bolsonaro (PL) e a conivência golpista dos militares.

Atuando na área desde 1954, ele acumula feitos em uma carreira com ampla investigação, furos de grande importância e textos com impacto na política brasileira.

Exercendo o jornalismo num lance de acaso, Janio fez curso de aviação civil e pretendia ingressar no ramo, mas lesionou-se em uma partida de basquete, o que o fez recalcular rota e ingressar no Diário Carioca --inicialmente como auxiliar de edição e depois circulando para a diagramação e o reportariado.

Migrou para a revista Manchete em 1955 e, quatro anos depois, liderou a reforma gráfica e jornalística do Jornal do Brasil, tornando as páginas do periódico mais claras e modernas, com maior alinhamento de textos, títulos mais chamativos e maior fluidez na leitura.

As alterações mudaram todo o mercado editorial, seguindo as tendências inauguradas pelo jornal carioca.

Após, passou pelo Correio da Manhã e Última Hora, em cargos de direção, até a década de 1970, quando a ditadura militar o forçou a deixar o jornalismo. Com isso, tornou-se sócio de uma gráfica, dedicada à impressão de livros.

Dez anos depois, a Folha o chamou de volta à imprensa, e Janio tornou-se colunista, capaz de embaralhar os espaços opinativos e informativos com avidez na escrita e fatos de grande relevo, dados exclusivamente por ele.

Dono de grandes furos, incomodou os governantes de plantão.

Em maio de 1987, revelou que o processo para a construção da ferrovia Norte-Sul havia sido fraudulento. Cinco dias antes do anúncio oficial, a Folha tinha publicado, de maneira cifrada e em meio aos anúncios classificados, os 18 vencedores. Ou seja, já se conheciam de antemão os resultados da licitação.

Janio, porém, não considera essa a sua reportagem mais relevante entre as publicadas pelo jornal.

Cita uma informação de junho de 1983 em sua coluna: os médicos do presidente João Batista Figueiredo cogitavam a hipótese de uma cirurgia cardíaca.

A saúde do presidente está "muito boa", reagiram o líder do governo na Câmara dos Deputados e o porta-voz do Planalto. "Levei pau de todos os lados." Uma semana depois, no entanto, o segredo em torno da cardiopatia implodiu. "Coração faz Figueiredo pedir licença" foi a manchete da Folha.

Em 16 de julho, um dia após a cirurgia nos EUA, Janio escreveu uma coluna em tom de desforra. Listava as contestações à informação publicada por ele e concluía: "Ao general Figueiredo, pronta recuperação. Aos outros citados, também".


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