BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Jornalistas que realizaram a cobertura dos atos de vandalismo contra as sedes dos Três Poderes em Brasília relataram agressões e intimidações por parte dos bolsonaristas radicalizados.
Em nota publicada na noite do domingo (8), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal informou ter recebido informações de ao menos seis profissionais atacados, de diferentes veículos.
A repórter Marina Dias, que trabalhou na Folha e no domingo acompanhou os atos golpistas para o The Washington Post, relatou ter sido cercada, empurrada, chutada e xingada pelos manifestantes.
"Eu e colegas jornalistas fomos agredidos enquanto trabalhávamos na cobertura de atos terroristas em Brasília. Fui cercada, chutada, empurrada, xingada. Quebraram meus óculos, puxaram meu cabelo, tentaram pegar meu celular. É preciso punir essas pessoas. Isso é crime", escreveu Marina nas redes sociais.
O fotógrafo da Folha Pedro Ladeira foi chutado, empurrado e teve os equipamentos roubados durante a cobertura dos atos golpistas e de depredação.
Ladeira havia conseguido entrar na Esplanada dos Ministérios e começou a fotografar os golpistas logo depois de saber da invasão dos prédios públicos que representam os Poderes da República. Após 20 minutos, quando chegou à frente do Palácio do Planalto, sede do Executivo, ele foi cercado por seis depredadores. Alguns usavam a camisa da seleção brasileira de futebol, outros, roupa camuflada do Exército.
Enquanto era agredido pelos homens, uma mulher mais velha que acompanhava o grupo conseguiu puxar parte dos equipamentos, uma câmera Canon DX e uma lente. Sobrou uma máquina sem lente, que estava rente ao corpo do fotógrafo.
"Enquanto me agrediam, diziam que eles estavam lá para tomar o Brasil, e que eu estava ali 'para foder com eles', porque eu era fotógrafo ", disse Ladeira. "Há outros casos de agressão. Tiraram os cartuchos da máquina de outro colega."
O jornal O Tempo publicou na noite de domingo um texto informando que um profissional da empresa também foi agredido. A vítima estava no Congresso Nacional e foi ameaçada com arma de fogo.
"[O profissional] chegou a ser mantido em cárcere por cerca de 30 minutos. Teve o celular e a mochila tomados, alguns itens roubados -como o crachá, bloco de anotação e R$ 20 (único dinheiro em espécie na carteira)-, levou tapa na cara, chutes e socos. Foi ameaçado de morte, com arma de fogo", diz o texto.
O sindicato que representa a categoria no DF, no seu comunicado, responsabilizou o que classificou de "inoperância do governo do Distrito Federal".
"Todos os acontecimentos em curso são resultado da inoperância do Governo do Distrito Federal, de setores da segurança pública e Forças Armadas, que permitiram a escalada da violência e se mostraram coniventes com os grupos bolsonaristas, golpistas, que não respeitam o resultado das eleições, a Constituição e a democracia", disse a entidade.
Os ataques foram condenados por associações de jornalismo, que cobraram um posicionamento das autoridades.
"A liberdade de imprensa é inerente ao Estado democrático de direito, que não pode tolerar ou conviver com a baderna e o vandalismo", disse a ANJ (Associação Nacional de Jornais).
"A ANJ condena ainda os ataques a jornalistas que fazem a cobertura das invasões em Brasília e exige uma posição firme das forças de segurança contra essas agressões e os atentados à liberdade de imprensa e à democracia".
A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) afirmou que "terroristas a serviço de uma força política fascista, que tem como principal líder o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)" promover ataques lamentáveis à democracia.
"A Fenaj e os sindicatos filiados denunciam firmemente esse agrupamento que insiste em desafiar a Constituição, mantendo acampamentos em frente a quartéis do Exército, promovendo ações terrorista em Brasília e pedindo intervenção militar".
"Os jornalistas brasileiros, no exercício de seu trabalho profissional, têm sido vítimas de intimidações e agressões por membros e apoiadores desse grupo político violento e antidemocrático. São centenas os casos registrados nos últimos anos, quase uma dezena apenas na primeira semana desse ano", disse.
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e a Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) manifestaram repúdio e destacaram que a escalada de violência dentro de grupos extremistas havia sido denunciada antes dos ataques.
No período de 30 de outubro a 6 de janeiro, levantamento feito pela a Abraji e a Fenaj registrou 77 ataques de violência política contra a imprensa. Em grupos bolsonaristas foram identificados ameaças de invasão a meios de comunicação "como forma de coagir, constranger e impedir o exercício do jornalismo."
"A Abraji e a Jeduca repudiam de forma veemente a invasão e os ataques aos poderes e à imprensa, e se solidariza com os jornalistas agredidos, seus familiares e colegas. E exortam as autoridades públicas a identificar e responsabilizar os culpados pelas tristes cenas registradas no coração político do Brasil".
A Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas) defendeu o trabalho da imprensa, condenou os ataques abusivos contra jornalistas e cobrou a identificação dos responsáveis.
"Defendemos que a imprensa seja livre, respeitada como um elemento essencial para a informação apurada e disseminada de forma responsável para toda a população brasileira", disse.
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) classificou a invasão como cenas lamentáveis cometidas por "terroristas bolsonaristas, em atos golpistas que haviam sido previamente anunciados nas redes sociais".
"Trata-se de inédita agressão ao Estado Democrático de Direito, que tem de ser punida com os rigores da lei", escreveu.
"As autoridades do GDF foram ausentes, para não dizer coniventes. A ABI confia na firmeza do ministro da Justiça, Flávio Dino, e espera que a ordem seja restabelecida o mais rapidamente possível. Democracia para Sempre!".
A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) também condenou a omissão das autoridades diante dos ataques e da proteção dos profissionais da imprensa.
"É inconcebível a omissão do governo do Distrito Federal em proteger os Três Poderes da República e garantir a segurança da imprensa que está nas ruas da cidade em coberturas complexas. As invasões e atos de depredação a prédios públicos, assim como os ataques aos profissionais da comunicação são uma afronta à democracia e à Constituição Brasileira".
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