SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Bolsonaristas, conservadores, indicações políticas e nomes importados do governo Jair Bolsonaro (PL) que foram preteridos pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na montagem do seu secretariado encontraram espaço em postos do segundo escalão.

Entre os 24 secretários, apenas dois são considerados bolsonaristas raiz, Sonaira Fernandes (Mulheres) e Guilherme Derrite (Segurança Pública), apesar de haver outros nomes de direita.

O rol dos fiéis ao ex-presidente se ampliou com as nomeações de Diego Torres Dourado, cunhado do ex-presidente; do ex-secretário Filipe Sabará (Republicanos) e de José Vicente Santini.

Diego, que é irmão de Michelle Bolsonaro, foi escalado por Tarcísio para ser seu assessor especial, com salário inicial de R$ 19.204,22. Ele foi ao acampamento de golpistas apoiadores de Bolsonaro em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, como noticiou o jornal O Estado de S. Paulo.

Enrolado em uma bandeira do Brasil, o irmão de Michelle aparece em uma foto no local compartilhada por amigos em novembro passado.

O governador também havia nomeado seu próprio cunhado, Mauricio Pozzobon, mas voltou atrás, já que o Supremo Tribunal Federal proíbe o emprego de parentes na gestão, incluindo concunhados.

Sabará foi secretário de João Doria na Prefeitura de São Paulo e presidente do Fundo Social do estado também na gestão do ex-tucano, mas rompeu com ele e se alinhou ao bolsonarismo. Ele foi nomeado secretário-executivo da Secretaria de Desenvolvimento Social.

Acusado de mentir sobre seu currículo, Sabará foi expulso do Novo quando era candidato à prefeitura da capital paulista, em 2020.

Tarcísio também nomeou Santini, amigo da família Bolsonaro, para chefiar o escritório de representação de São Paulo em Brasília. Em janeiro de 2020, Santini, que era secretário-executivo da Casa Civil, foi demitido por Bolsonaro por ter usado um jato da FAB (Força Aérea Brasileira) em uma viagem da Suíça para a Índia.

Na época, Bolsonaro afirmou que a conduta de Santini havia sido "completamente imoral". Posteriormente, ele ocupou outros cargos no governo federal, inclusive o de secretário nacional de Justiça.

Sonaira, cujo perfil conservador é comparado ao da ex-ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), terá Teresinha de Almeida Ramos Neves no cargo de secretária-executiva.

Nomeada nesta sexta-feira (20), Teresinha, que trabalhou no ministério de Damares, escreveu em um blog pessoal, em 2012, ser contra o aborto mesmo no caso de estupro, que é permitido por lei. Sonaira também é militante antiaborto.

A gestão Tarcísio informou que a nomeação de Teresinha é técnica e que "a legislação referente ao aborto será cumprida".

Outro ex-integrante da gestão Bolsonaro é o médico Sergio Okane, que será secretário-executivo de Eleuses Paiva (PSD) na Saúde. Okane foi braço-direito do ex-ministro Marcelo Queiroga.

De acordo com a coluna Painel, Okane fez parte de uma equipe formada por pares que incentivavam o uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19.

Ainda entre os integrantes do governo Bolsonaro trazidos para São Paulo por Tarcísio estão Marcos Heleno Guerson de Oliveira Júnior e Eduardo Aggio de Sá.

O primeiro é coronel do Exército e participou da missão de paz da ONU no Haiti, assim como o governador paulista. Ele presidiu o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e agora será superintendente do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) do estado.

Sá, que chefiou a Polícia Rodoviária Federal, foi escolhido presidente do Detran por Tarcísio. Próximo do ex-presidente, ele ocupou também um cargo na Casa Civil no governo federal.

Um coronel da reserva da Polícia Militar que está entre os 120 policiais denunciados no processo do Carandiru foi nomeado por Tarcísio para um cargo de assessor na Secretaria de Administração Penitenciária. Sérgio de Souza Merlo foi acusado de lesão corporal, mas o crime prescreveu. O governo diz que a nomeação segue critérios técnicos.

Após a escolha do secretariado, houve reclamação da parte de aliados de Bolsonaro pela escassez de representantes no time de Tarcísio, que mantém uma relação de ambiguidade com o bolsonarismo, fazendo acenos à base, mas buscando se afastar de polêmicas ideológicas.

Tarcísio esteve sob crítica da sua base eleitoral nos últimos dias, após condenar os atos golpistas em Brasília e seguir a ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para desfazer os acampamentos bolsonaristas. Ele ainda se encontrou com Lula em duas ocasiões.

Apesar de abrir espaço para nomes alinhados ao ex-presidente no segundo escalão, Tarcísio não escolheu um deputado bolsonarista como seu líder de governo. A indicação de Jorge Wilson Xerife do Consumidor (Republicanos), ligado ao deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP), foi publicada na quinta (19).

Tampouco é bolsonarista o apoiado por Tarcísio para assumir a presidência da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), André do Prado (PL). O deputado, indicado por Valdemar da Costa Neto, já integrava o PL antes de a sigla se bolsonarizar.

Já a ascendência de Gilberto Kassab, presidente do PSD e secretário de Governo, vista na escolha de secretários, se manteve no segundo escalão. A Fundação Casa, por exemplo, será presidida por um aliado de Kassab, o ex-juiz João Veríssimo Fernandes.

O espaço dado por Tarcísio aos partidos aliados e a bolsonaristas é motivo de desgaste, inclusive no Republicanos. Há insatisfação nas bancadas de deputados estaduais, que querem emplacar seus indicados em troca de formar uma base sólida na Alesp.

O PSDB, que perdeu o controle do governo paulista após 28 anos, ficou de fora do primeiro escalão de Tarcísio, apesar de apoiá-lo no segundo turno, mas nomes da gestão de Rodrigo Garcia (PSDB) foram preservados pelo sucessor.

É o caso de Marcos Penido, que será braço direito de Kassab na Secretaria de Governo. Ele foi secretário de Governo de Rodrigo e secretário de Meio Ambiente de Doria. Penido também trabalhou com Geraldo Alckmin (PSB) no governo e com Kassab na prefeitura de São Paulo.

Já Rubens Emil Cury, que era secretário de Desenvolvimento Regional de Rodrigo, agora é responsável pela Subsecretaria de Relacionamento com Municípios.

Para o segundo nível da sua gestão, Tarcísio também escolheu pessoas que ele encaixa na categoria de técnicos, que já ocupam o secretariado majoritariamente. São nomes que têm carreira na gestão pública e que, em geral, estavam ligadas ao Ministério da Infraestrutura ou da Economia, de Paulo Guedes, no governo Bolsonaro.

O presidente da InvestSP (agência de promoção de investimentos), Rui Gomes Junior, foi diretor no Ministério da Infraestrutura, chefiado por Tarcísio. A Desenvolve SP (agência de fomento) será presidida por Ricardo Dias Brito, que é professor de economia na USP.

O engenheiro do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) Wilton Ruas da Silva foi nomeado diretor executivo do Procon. Como mostrou a coluna Painel S.A., a escolha quebra uma sequência recente em que apenas bacharéis em direito ocuparam o cargo.


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