SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ex-ministro do Turismo, Gilson Machado Neto afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu que ele devolvesse o relógio de luxo que recebeu do governo do Qatar durante viagem em outubro de 2019. No entanto, ele diz ter ouvido da Comissão de Ética Pública da Presidência que seria uma deselegância enviar de volta o presente e que por isso decidiu mantê-lo.

Na última quarta-feira (1º), o Tribunal de Contas da União notificou a Comissão de Ética, disse que o recebimento de presentes caros extrapola "princípios da razoabilidade e da moralidade" pública e sugeriu a devolução dos objetos.

Procurado pelo Painel na quarta-feira (8) para comentar a recomendação do TCU, Machado encaminhou mensagem que dizia que o órgão de ética autorizava que ele continuasse com o relógio.

Nesta sexta-feira (10), publicou em suas redes sociais um vídeo com interpretação distinta.

"Em 2020 [2021], eu ainda era presidente da Embratur, fui a primeira pessoa que procurou o presidente Bolsonaro, acusei que tinha recebido esse relógio. Inclusive veio a mim através da Presidência da República. E ele me deu a orientação de devolver o relógio. No mesmo momento, peguei o relógio e mandei de volta para a Presidência", afirma Machado.

"Me disseram lá que não era para devolver, pelo simples fato de o Conselho de Ética ter se reunido e ter liberado. E que seria uma questão de deselegância até com quem deu o relógio. Não tem problema. Estou à disposição do TCU, em nenhum momento disse que não iria devolver, para devolução, se assim for", completa.

Reportagens têm mostrado que Bolsonaro adotou outra postura em relação a joias e outros artigos de luxo enviados pelo governo da Arábia Saudita.

O presidente e membros de seu governo buscaram de maneira insistente ter acesso a um pacote retido pela Receita Federal na alfândega do Aeroporto de Guarulhos. Um assessor do ex-ministro Bento Albuquerque tentou entrar com as joias escondidas em uma mochila, sem declarar que estava com os itens, contrariando a legislação.

Bolsonaro ainda incorporou a seu acervo privado um outro pacote de presentes encaminhado pelo governo da Arábia Saudita em 2021.

De acordo com o TCU e com documentos da Comissão de Ética Pública da Presidência, receberam os relógios quatro então ministros: Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Osmar Terra (Cidadania).

Além deles, também foram presenteados na ocasião Sergio Segovia, presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e investimentos); Gilson Machado, presidente da Embratur e que depois viraria ministro do Turismo, Caio Megale, então chefe da Assessoria Especial de Relações institucionais do Ministério da Economia, e Roberto Abdala, então embaixador do Brasil em Doha.

Abdala e Megale tomaram uma atitude distinta dos demais, antes de qualquer questionamento. O embaixador imediatamente "providenciou a devolução do presente, um relógio de pulso da marca Hublot, em razão do seu custo elevado", como relatou o TCU.

Megale foi o responsável por acionar autoridades brasileiras ao questionar formalmente a Comissão de Ética da Presidência sobre se seria ético ficar com um relógio da marca Cartier que recebeu de um ajudante de ordens da Presidência da República, quando já estava no Brasil, pouco mais de um mês depois da viagem ao Qatar.

O economista relatou à coluna que enviou uma carta ao Ministério da Fazenda na segunda-feira (6) pedindo informações dos procedimentos que deverá adotar para abrir mão do objeto.


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