BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira (2) mandados de busca e apreensão em endereços da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e prendeu Walter Delgatti Netto, conhecido como o hacker da "Vaza Jato".
Ambos são suspeitos de atuarem em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos.
Delgatti é famoso por ter invadido contas de Telegram de procuradores da Operação Lava Jato, e teve encontros em agosto de 2022 com integrantes da campanha de Jair Bolsonaro (PL). Já Zambelli, uma das principais aliadas do ex-presidente, teria pedido a invasão dos sistemas de Justiça do país e transferido valores ao hacker por meio de pessoas próximas.
No dia 27 de junho, uma primeira etapa da investigação cumpriu mandado de busca e apreensão contra o hacker, que foi ouvido e confessou parte da prática delituosa. O depoimento foi base para a autorização, dada por Moraes, da operação.
Entenda os principais pontos da trama:
Pedido e objetivos
No depoimento à PF em junho, Delgatti disse ter recebido um pedido de Zambelli no ano passado para ele invadir uma urna eletrônica "ou qualquer sistema da Justiça Brasileira".
Segundo o hacker, o objetivo era demonstrar a fragilidade do sistema judicial do país. À época, o então presidente Bolsonaro --aliado de Zambelli-- promovia uma cruzada contra o sistema de votação e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afirmando não ser seguro e nem transparente.
Invasão ao CNJ e falha ao invadir TSE
Foi nesse contexto, disse Delgatti aos investigadores, que ele invadiu o sistema do CNJ. A invasão resultou na inclusão de um mandado de prisão falso contra Moraes no Banco Nacional de Mandados de Prisão.
Delgatti também contou não ter conseguido invadir o TSE. "Mesmo após diversas tentativas, pois o código-fonte da urna eletrônica não fica hospedado em um computador com acesso à internet, mas fica em um computador offline, não sendo possível o acesso externo."
Ele relata o pedido de Zambelli para invadir o celular de Moraes e obter conversas comprometedoras, afirmando não ter acessado o dispositivo do ministro. "A deputada disse que, caso o declarante conseguisse invadir os sistemas, teria emprego garantido, pois estaria salvando a democracia, o país, a liberdade."
Valores recebidos
Delgatti também entregou dados de transações financeiras à PF. As informações mostram que pessoas próximas a Zambelli repassaram R$ 13.500 ao hacker.
"Verifica-se que, do montante de R$ 13.500,00, a quantia de R$ 10.500,00 foi enviada por Renan Goulart, valendo-se de 3 transferências bancárias via PIX; e que o valor de R$ 3.000,00 foi enviado, numa única transferência bancária via PIX, por jean Vilela", diz a corporação.
Goulart, segundo a PF, é servidor comissionado da Assembleia Legislativa de São Paulo, lotado no gabinete de Bruno Zambelli (PL), irmão da deputada. Vilela, por sua vez, é secretário parlamentar no gabinete da própria Zambelli.
Delgatti e Bolsonaro
Em agosto do ano passado, a revista Veja revelou que houve um encontro entre Delgatti e o próprio Bolsonaro. O objetivo da reunião, segundo a revista, foi tentar engajar o hacker na cruzada do então presidente contra as urnas eletrônicas.
Delgatti confirmou a versão e disse aos investigadores ter se encontrado com o à época mandatário. Segundo ele, Bolsonaro perguntou se ele conseguiria invadir o sistema das urnas eletrônicas.
"O declarante, conforme saiu em reportagem, encontrou o ex-presidente JAIR BOLSONARO no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código-fonte, conseguiria invadir a Urna Eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá", diz no depoimento.
Zambelli disse que ficou surpresa com a operação e que estava à disposição do Judiciário para esclarecimentos. Ela também disse considerar que há uma tentativa de atingir o ex-presidente Bolsonaro por meio do caso.
A deputado disse que não houve nenhum serviço relacionado à fraude das urnas, nem a elaboração de um falso mandato contra o ministro Moraes no sistema do CNJ.
"Não participaria de uma piada de mau gosto com o Alexandre de Moraes. Eu sei o que pode acontecer com um deputado que brinca com ministros do Supremo Tribunal Federal, haja visto nosso amigo Daniel Silveira", disse, em referência ao ex-parlamentar preso por ofender magistrados da corte.
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