BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Mensagens em posse da Polícia Federal indicam que Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal no governo de Jair Bolsonaro (PL), ordenou um policiamento direcionado contra eleitores de Lula (PT) nos 2º turno das eleições presidenciais de 2022.
Essas conversas são parte dos elementos utilizados pela PF para solicitar a prisão de Vasques, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e efetuada nesta quarta (9).
De acordo com a PF, integrantes da PRF, sob ordens de Vasques, teriam direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro do ano passado.
No segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado principalmente à região Nordeste, colégio eleitoral então mais favorável ao presidente Lula (PT) nas intenções de voto.
Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de prevaricação e violência política, previstos no Código Penal.
Sobre o direcionamento da fiscalização, a PF cita um conversa entre Adiel Pereira, então coordenador de Análise de Inteligência da PRF, e o policial Paulo César Botti Alves.
No diálogo, Adiel critica Vasques que, diz ele, teria falado em uma reunião de gestão antes da eleição sobre a necessidade de "policiamento direcionado".
A mensagem, aponta a PF, corrobora as suspeitas e "os elementos de prova que indicam as ações policiais visando dificultar ou mesmo impedir eleitores de votar."
Para esclarecer os fatos sobre o direcionamento do policiamento, a PF ouve nesta quarta (9) todos os policiais que participaram da reunião em que Vasques teria solicitado a ação. O objetivo de ouvir todos de uma vez, diz a PF, é "evitar uma combinação de versões".
O ministro Alexandre de Moraes cita, inclusive, a necessidade de ouvir os policiais como motivo para conceder o pedido de prisão de Vasques feito pela PF.
"A efetividade das inúmeras e necessárias oitivas de agentes da Polícia Rodoviária Federal sobre eventual determinação de Silvinei Vasques, então Diretor Geral da PRF, para realização de "policiamento direcionado", pode ser prejudicada pela manutenção de liberdade do investigado, conforme já ressaltado anteriormente na representação da Polícia Federal, cujo trecho ?pela importância? se repete", afira Moraes.
A ação suspeita da PRF foi revelada pela Folha de S.Paulo no dia do 2ª turno. Segundo a reportagem publicada à época, as abordagens dos policiais rodoviários se concentravam na região nordeste e mostrava um aumento exponencial em relação ao 1º turno.
Segundo números internos da PRF aos quais a Folha de S.Paulo teve acesso naquele momento, o órgão já tinha realizado 514 ações de fiscalização contra ônibus até as 12h35 do dia da votação,
O número era 70% maior do que o que foi registrado na primeira etapa do pleito, no dia 2 de outubro.
Após a publicação, da matéria Vasques foi chamado ao Tribunal Superior Eleitoral pelo ministro Alexandre de Moraes. Na conversa, ele teria se comprometido a paralisar as abordagens.
A reportagem também mostrava um documento enviado pela direção da PRF aos estados e que abordavam o foco do trabalho do órgão deveria ser em veículos que transportam passageiros.
"A fiscalização deverá ser focada nos veículos transportadores de passageiros, com o intuito de prevenir acidentes de trânsito nesse período que há um incremento de movimentação de passageiros, e de verificar possíveis crimes eleitorais, especialmente transporte irregular de passageiros ou dinheiro", dizia o documento.
O documento também é citado pela PF no pedido de prisão de Vasques.
"Entretanto, em 26 de outubro de 2022, houve novo Plano de Trabalho, nomeado 2º Turno", em que houve deliberação pelo Diretor-Geral e pelo Diretor de Operações desta PRF, gerando novo Plano de Trabalho previsão de fiscalização de transporte de passageiros, que não foi abarcada no planejamento inicial, havendo, portanto, diferença de procedimentos entre o 1º Turno e o 2º Turno das Eleições", diz a PF.
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