BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Uma das principais lideranças do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stedile afirmou nesta terça-feira (15) que o agronegócio está dividido no Brasil hoje e que parcela do setor é burra e só "pensa em lucro fácil". Segundo Stedile, essa parte do setor está "com os dias contados".
"Uma parcela do agronegócio ainda vai para o céu, porque eles estão se dando conta que eles podem ganhar dinheiro, podem aumentar produtividade com outras práticas. Agora, aquele agronegócio burro, que só pensa em lucro fácil, esse está com os dias contados", disse Stedile.
Aliado de longa data do presidente Lula (PT), o líder sem terra participa, na condição de testemunha, de sessão da CPI do MST da Câmara, que investiga o movimento --sua convocação foi aprovada pelo colegiado em junho.
"O agronegócio está dividido: a metade que tem juízo, que estuda, apoiou o Lula e é a parcela representada pelo [ministro da Agricultura, Carlos] Fávaro. A outra parcela do agronegócio que insiste em só ganhar dinheiro é a Aprosoja [Associação Brasileira dos Produtores de Soja], que só pensa em ganhar dinheiro e não tem responsabilidade com o meio ambiente", continuou Stedile.
Para ele, uma parte já tem consciência de limites e está "migrando para uma outra agricultura, que chamam agora de maneira mais simpática de agricultura regenerativa".
Desde que foi eleito, o presidente fez gestos numa tentativa de se aproximar de ruralistas, com quem o tem tido uma relação conturbada desde a campanha. Membros do governo têm feito esforços para melhorar a relação com o agronegócio, setor próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um exemplo disso foi o anúncio de Lula, em junho, que o Plano Safra 2023/2024 vai somar R$ 364,22 bilhões para o financiamento da atividade agropecuária de médio e grandes produtores.
Apesar de medidas elogiadas por representantes do setor, Lula tem dado declarações que geram mal-estar com produtores rurais.
Nesta terça, Stedile está acompanhado do criminalista Roberto Podval, que também advoga para o relator da CPI, deputado Ricardo Salles (PL-SP), que foi ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro.
O depoimento do líder do MST desta terça-feira ocorre num momento em que a CPI ameaça ser encerrada depois do esvaziamento promovido pelo governo federal em articulação com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e membros do centrão.
Lira blindou o Planalto e evitou a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, na semana passada.
Stedile foi alvo de três requerimentos aprovados na CPI. Um deles, de autoria do deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP), dizia que o líder do movimento deveria prestar esclarecimentos sobre as práticas e ações do MST, "bem como sobre possíveis violações legais decorrentes das invasões de terra e ocupações realizadas pelo movimento".
Em entrevista à Folha de S.Paulo, em maio deste ano, Stedile já contava que seria chamado para depor na comissão. Naquele momento, afirmou que iria usar da CPI para "denunciar as invasões das terras indígenas, o trabalho escravo, as invasões de terras quilombolas, o uso abusivo dos agrotóxicos".
"Mas, de consequência real, não terá nada, porque nós não cometemos crime nenhum, não há fato [para ser investigado]", disse na época.
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