BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) pode adiar a criação do Ministério da Pequena e Média Empresa, que tinha sido anunciada pelo próprio petista na semana passada. O motivo é resistência do ministro Márcio França (hoje em Portos e Aeroportos) de migrar para a pasta que seria criada e, assim, facilitar a conclusão da reforma ministerial.

Lula teve nesta segunda-feira (4) reuniões com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e os líderes do governo no Congresso para tentar fechar o mapa das mudanças na Esplanada. A sinalização de que o ministério da Pequena e Média Empresa pode ficar para outro momento foi dada nesses encontros.

Auxiliares de Lula destacam que o processo da reforma ministerial só deve ser concluído após Lula conversar com os ministros que podem deixar os seus cargos, em particular Ana Moser (Esportes), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) e o próprio França.

As negociações da reforma ocorrem com o objetivo de atrair o centrão para a Esplanada. Nesse sentido, está consolidado o cenário segundo o qual os deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) devem ser convidados para ocupar as pastas do Esporte e de Portos e Aeroportos, respectivamente.

Assessores palacianos descartaram nesta segunda a hipótese de um Ministério dos Esportes turbinado com o anunciado Ministério da Pequena e Média Empresa, como foi ventilado na semana passada. Por outro lado, agora citam uma possível costura com o Congresso para que os recursos provenientes de apostas esportivas sejam destinados para a pasta, que deve ser chefiada por Fufuca.

Os aliados de Lula dizem que não vão se opor a essa solução se houver consenso no Congresso.

Lula também planeja uma conversa com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Aliados do petista apontam que há uma possibilidade de que o vice decida ceder o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para evitar que um correligionário (no caso, França) seja desalojado da Esplanada.

Articuladores políticos no Congresso veem o movimento de Lula de sinalizar que França pode ficar sem pasta como uma forma de pressão para que Alckmin ceda espaço ao correligionário. Nesse caso, integrantes do PSB já fizeram chegar ao Planalto o recado de que França -e não Alckmin- é o nome apoiado pelo partido para liderar um ministério.

A hipótese já foi cogitada nas discussões sobre reforma, mas abandonada após o vice-presidente demonstrar interesse em permanecer à frente do Ministério do Desenvolvimento.

A possibilidade do adiamento da criação da pasta da Pequena e Média Empresa ocorre apenas uma semana depois de o presidente dizer que criaria o ministério.

A declaração foi feita durante sua live semanal, após ser questionado sobre desenvolvimento e geração de empregos. Na ocasião, ele não mencionou as negociações com o centrão.

"Nós vamos criar, eu estou propondo a criação do Ministério da Pequena e Média Empresa, das cooperativas e dos empreendedores individuais. Para que tenha um ministério específico para cuidar dessa gente que precisa de crédito e de oportunidade", afirmou o presidente.

Lula e sua equipe vêm soltando o que políticos apelidaram de "migalhas": pequenos gestos para indicar que fará a reforma e assim buscar acalmar os ânimos.

O ministro Paulo Pimenta, da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), disse nesta segunda que a oficialização da reforma era uma questão de horas. Ele esteve reunido pela manhã com Lula no Palácio da Alvorada.

"As conversas estão acontecendo. Acredito que nas próximas horas nós vamos poder concluir esse processo todo", disse, em entrevista à GloboNews.

A expectativa de que pode haver um desfecho ainda nesta segunda ou na terça já era compartilhada também por integrantes do PP e do Republicanos que participam das conversas com o Palácio do Planalto.

Mas integrantes do governo já fizeram em outras ocasiões anúncios de que as mudanças ministeriais seriam oficializadas em outros momentos, o que não ocorreu até o momento. O ministro Padilha, por exemplo, disse no dia 4 de agosto que Lula havia decidido que Silvio Costa Filho e Fufuca seriam ministros.

"Primeiro, já tem uma decisão do presidente Lula de trazer esses dois parlamentares que representam duas bancadas importantes no Congresso", disse Padilha na ocasião.

"Mas, mais do que elas, podem atrair outros parlamentares, trazê-los para o governo, convidá-los para ocupar postos de ministérios. São parlamentares que só podem vir para ocupar ministérios", completou, após um evento em Belém.

Dois dias antes, Lula havia se reunido com a cúpula do PT no Palácio da Alvorada. Ele disse naquele encontro que cortaria pastas de ministros do PT e do PSB, além dos titulares "sem padrinho".

A reforma ministerial já se arrasta há mais de dois meses. Articuladores do governo negociam para abrir espaço no primeiro escalão para membros do centrão como forma de garantir apoio no Congresso.


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