BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal que entregou nas mãos do ex-presidente Jair Bolsonaro parte do dinheiro da venda de relógios de luxo recebidos como presentes de Estado, segundo reportagem da revista Veja.

O valor seria de US$ 68 mil, de forma parcelada, com uma parte entregue em solo americano e outra no Brasil.

O dinheiro da venda dos relógios Rolex e Patek Philippe foi depositado na conta do pai de Cid, o general da reserva Mauro Lourena Cid, sacado e enviado para o ex-presidente, de acordo com a reportagem.

"Em mãos. Para ele", disse o militar, ainda segundo a revista. Ele foi ajudante de ordens de Bolsonaro na Presidência.

"A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal", afirma Cid em transcrição de relato publicada pela revista.

A confissão teria sido feita durante as mais de nove horas em que o tenente-coronel prestou depoimento sobre o caso aos investigadores. Nas últimas semanas, Cid depôs três vezes à Polícia Federal.

Mauro Cid deixou a cadeia no último sábado (9), após o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), homologar acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

Ele, porém, precisa usar tornozeleira eletrônica, não pode manter contato com outros investigados, a não ser familiares, e tem de se apresentar semanalmente à Justiça do Distrito Federal. O militar permaneceu preso por quatro meses em decorrência de suspeita de participação em fraudes em cartão de vacinação contra a Covid.

Ele e Bolsonaro são investigados no chamado inquérito das milícias digitais, que tramita no Supremo. O tenente-coronel e seu pai foram alvos de operação deflagrada em agosto sobre suposta "operação resgate" de joias que tinham sido vendidas no exterior.

Os primeiros depoimentos no contexto da delação, porém, devem se iniciar a partir da próxima semana. O advogado Cezar Bitencourt, que defende o militar, pediu à PF que somente convocasse Cid para novas oitivas a partir da próxima semana, porque precisa atender a outros clientes.

O teor do acordo de colaboração, assim como suas condições e detalhes, permanece sob sigilo.

Na decisão de soltura, Moraes disse que "o encerramento de inúmeras diligências pela PF e a oitiva do investigado, por três vezes e após ser decretada sua incomunicabilidade com os demais investigados, apontam a desnecessidade da manutenção da prisão preventiva".

O magistrado disse, no entanto, que o descumprimento de qualquer uma das medidas alternativas ao cárcere levará à decretação de uma nova prisão.

Em publicação em rede social, o chefe da Procuradoria-Geral da República, Augusto Aras, afirmou no sábado que o órgão não concorda com acordos de colaboração firmados pela PF, como foi o caso do celebrado pelo militar.

À Folha de S.Paulo, no início da semana, Bolsonaro afirmou que Cid "é uma pessoa decente e bom caráter". "Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar."

"Sempre o tratei como um filho meu. Eu sinto tristeza com o que está acontecendo, né? Eu não queria que ele estivesse nessa situação. Ele é investigado desde 2021. Por fake news? Por causa das minhas lives, em que eu falava de Covid-19? Qual é a tipificação de fake news no Código Penal? Não tem."


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