SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As Forças Armadas são consideradas confiáveis por 34% dos brasileiros, maior índice entre dez instituições listadas pelo Datafolha, mas esse índice já foi bem maior: 45% em abril de 2019, na aurora do governo do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PL).
Os 34% de agora representam o menor índice da série histórica, iniciada em 2017.
O tombo de 11 pontos desde 2019 chama a atenção no grupo pesquisado pelo instituto, que questionou a 2.016 eleitores em sua mais recente pesquisa, feita na terça (12) e quarta-feira (13). A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
Consideram os militares um pouco confiáveis 44%, e não confiam neles 21%. Os índices eram, respectivamente, 35% e 18% em 2019, e a imagem veio em declínio desde então. No mais recente levantamento, em setembro do agudo ano de 2021, confiavam nos fardados 37%, ante 39% que o faziam um pouco e 22%, que diziam não confiar.
O preço vem sendo pago em prestações devido ao decantado apoio do estamento militar ao governo de Bolsonaro, com a ilusão de que ele poderia ser controlado e assim, redimir a imagem da caserna, em reclusão desde o fim da ditadura em 1985.
Não deu certo e Bolsonaro cooptou setores com cargos e influência, chegando a derrubar uma cúpula da Defesa mais resistente a ele em 2021, ano que registrou um dos auges de sua agitação de inspiração golpista. O criticado desempenho do general da ativa Eduardo Pazuello à frente da Saúde em plena pandemia foi sintomático do período.
Para piorar para os fardados, pessoas em uniforme são hoje investigadas sobre seu papel nos atos golpistas de 8 de janeiro, e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, firmou acordo para delação premiada após passar meses preso.
Acusado de falsificar um registro de vacinação para que o chefe pudesse ir aos EUA, Cid agora está no centro do escândalo das joias saudita recebidas pelo ex-presidente, que ele vendeu no exterior. Ainda assim, a imagem dos militares, que de 2017 a 2019 variou acima dos 40%, ainda é melhor do que a das outras instituições.
O quadro geral sugere fraqueza, dado a baixa confiança apontada.
Mas os dados mostram uma resistência em alguns casos e resiliência em outros, se considerados os anos seguidos de erosão desde 2012, quando começa esta série histórica. De lá para cá, houve recessão, impeachment, implosão da política tradicional na Operação Lava Jato, Bolsonaro e o 8 de janeiro.
Isso dito, os políticos se saem particularmente mal. Partidos são confiáveis para meros 7%, enquanto 46% confiam um pouco neles, mesmo índice daqueles que rejeitam qualquer credibilidade nas agremiações. Medidas autocentradas como a proposta de reforma eleitoral em curso não deverão melhor o quadro.
O Congresso é visto como confiável apenas por 9%, enquanto 55% o consideram regular e 35%, inconfiável. Prêmio de consolação, na grande turbulência institucional de 2017 e 2018, entre o escândalo Joesley Batista e a eleição de Bolsonaro, 65% chegaram a rejeitar confiança no Parlamento, em junho de 2017.
O mesmo se viu na Presidência. Naquele mês, sob o impacto da acusação de obstrução de Justiça na conversa com o empresário Joesley, a instituição era vista como inconfiável por 65% dos brasileiros. Temer acabou absolvido dois anos depois.
A Presidência, de certa forma, também, saindo dos 3% de confiabilidade daquele momento para os atuais 24%. Outros 40% dizem confiar um pouco na entidade e 34%, não confiam. Os índices na rodada passada, de 2021, eram respectivamente 16%, 33% e 50%.
Já o Supremo passou relativamente incólume à campanha promovida contra alguns de seus ministros por Bolsonaro. Em setembro de 2021, 15% diziam confiar na corte, índice que agora foi para 20%. Outros 40% afirmam confiar um pouco, enquanto 38% consideram o órgão não confiável.
Na última rodada antes da chegada de Bolsonaro ao poder, em 2018, eram 39% a não confiar na corte. Nas três medições em seu mandato, contudo, houve uma queda para 32% até uma subida na mais recente pesquisa, de 2021, para o mesmo nível atual.
O Judiciário no geral segue um padrão semelhante, com 21% dizendo confiar nele e 48%, um pouco. Não confiam 29%. Patamares quase idênticos aos do Ministério Público: 19%, 51% e 28%, respectivamente.
Fora do âmbito público, as grandes empresas nacionais surgem como as instituições mais confiáveis, com 25% de citação positiva. Confiam um pouco nelas 55% e 19%, não confiam.
Já a imprensa, vital para a interface entre população, poder público e a esfera privada, registra 20% de confiabilidade. Consideram a mídia um pouco confiável 48%, e 31% descartam confiar nela. Na série histórica, a melhor colocação da instituição foi em dezembr de 2012, com respectivamente 31%, 51% e 18%.
Por fim, o fenômeno recente das redes sociais ainda não conquistou a confiança do brasileiro, apesar do conhecido impacto delas em campanhas políticas, comportamentos e estratégias empresariais. Dizem confiar nas redes 8%, ante 45% que afirmam confiar um pouco e 46%, que não confiam.
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