SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com um histórico de críticas contundentes ao PT de Lula e a quadros do partido, a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy indicou que aceita o convite feito pelo presidente para ser vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo.
Marta, que se filiou ao PT em 1983, foi eleita pelo PT deputada federal em 1995, prefeita de São Paulo (2001 a 2004) e senadora (2011 a 2019). Ela também exerceu cargos em governos petistas, ao comandar os ministérios do Turismo e Cultura.
Em 2015, desfiliou-se do partido, que chamou de protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que o Brasil já havia enfrentado. No ano seguinte, quando era senadora pelo MDB, deu voto favorável ao impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Também não poupou críticas à gestão de Fernando Haddad (PT), que chamou de "pior prefeito que São Paulo já teve".
Atualmente sem partido, Marta é secretária municipal de Relações Internacionais da gestão Ricardo Nunes (MDB) e chegou a dizer que apoiaria a reeleição do atual prefeito.
Porém, nesta terça-feira (9), a ex-prefeita indicou ao presidente Lula que aceita o convite para ser vice de Boulos na disputa pela prefeitura da capital paulista. O anúncio oficial agora só depende de uma conversa dela com Nunes.
Veja as idas e vindas de Marta com o PT e as críticas que recebeu ao explorar a vida pessoal de adversário político na campanha eleitoral de 2008.
Prefeitura de São Paulo
Marta Suplicy foi prefeita de São Paulo pelo PT de 2001 a 2004, ao derrotar nas urnas Paulo Maluf (PPB).
Na época, em sua primeira declaração pública, ela reforçou a ligação com o partido ao dizer que era a "dona Marta do PT", em referência ao fato de ter sido chamada assim repetidas vezes durante o segundo turno por Maluf.
"O PT sai das eleições fortalecido. Este PT mais maduro e responsável e defensor ferrenho do sistema democrático e do socialismo moderno", afirmou a prefeita na ocasião.
Nas eleições de 2004, Marta tentou a reeleição, mas foi derrotada por José Serra (PSDB).
'Casado?' 'Tem filhos?'
Em 2008, na tentativa de voltar à Prefeitura de São Paulo, Marta estreou o horário eleitoral do segundo turno com insinuações a respeito da vida privada de seu adversário, Gilberto Kassab (então no DEM), que estava 17 pontos à frente da petista na pesquisa Datafolha.
Na televisão e no rádio, um locutor disse que o eleitor deveria saber se ele é casado e se tem filhos. Após repercussão negativa, a propaganda foi retirada. Kassab venceu o pleito com 61% dos votos válidos.
Cargo nos governos petistas
Marta integrou a equipe do governo federal por duas vezes nas gestões petistas, ao aceitar cargos em ministérios. O primeiro foi na gestão Lula quando assumiu a pasta do Turismo (2007-2008). O segundo, no governo Dilma, quando comandou a pasta da Cultura (2012-2014).
Senadora
Marta foi eleita senadora em 2010, com mais de 8 milhões de votos. Ela se licenciou do cargo em 2012 para assumir o Ministério da Cultura.
Depois de dois anos, deixou a função no governo federal e reassumiu o mandato de senadora, que terminou em janeiro de 2019.
'Roubalheira'
Em 2015, Marta fez uma série de críticas ao governo petista. Em março, uma coluna da então senadora na Folha de S.Paulo irritou correligionários por ela ter se referido ao escândalo da Petrobras como "roubalheira" e dizer que a ex-presidente Dilma Rousseff estava reunindo as duas condições que levariam "a vaca para o atoleiro": "negação da realidade e trabalhar com a estratégia errada".
No artigo, Marta disse que a tentativa de creditar a crise da Petrobras a FHC era "diversionismo". Ela ainda chancelou as acusações da oposição, em especial do senador Aécio Neves (PSDB-MG), de que Dilma mentiu durante a campanha eleitoral para se reeleger.
"Afunda-se o país e a reeleição navega num mar de inverdades, propaganda enganosa cobrindo uma realidade econômica tenebrosa, desconhecida pela maioria da população", escreveu à época.
O artigo foi interpretado pelo PT como um passo na estratégia da senadora de sair do partido e embarcar em outra sigla, o PSB, para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2016.
Desfiliação do PT
Em abril de 2015, Marta formalizou sua saída do PT depois de 33 anos no partido.
Na carta em que justificou sua decisão, ela citou o escândalo da Petrobras e afirmou que os princípios e o programa partidário do PT foram renegados pela própria agremiação.
"É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou", escreveu.
Impeachment de Dilma
Em entrevista à TV Folha, em janeiro de 2023, Marta afirmou que o impeachment de Dilma --para o qual deu voto favorável quando era senadora pelo MDB-- não foi um golpe, ao contrário do que afirmou o presidente Lula.
"Votei pelo impeachment e achei que era coerente com o que eu achava que era o certo naquele momento. Depois, é [analisar] o prédio pronto, [...] porque depois os resultados... Não sei se foi fruto só do impeachment, mas tivemos o Bolsonaro, que foi uma praga para o Brasil", afirmou.
"Não achei que foi golpe, de jeito nenhum. Passou por todos os canais legais, foi absolutamente dentro da Constituição", completou.
Em 2016, após deixar a sigla e se filiar ao PMDB, Marta já havia afirmado que o impeachment veio tarde e chamado o governo da petista de "corrupto".
Haddad pior prefeito
Fora do PT, Marta teceu críticas à gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura de São Paulo. "Haddad é o pior prefeito que São Paulo já teve", publicou em redes sociais em 2016. "Todos os dias há um improviso na cidade."
Quatro anos antes, ela havia sido preterida por Lula para disputar o comando da cidade. O petista preferiu o seu atual ministro da Fazenda, o que ajudou a contribuir para o descontentamento de Marta com o partido.
Aproximação com Nunes
Marta é atualmente secretária municipal de Relações Internacionais da gestão Ricardo Nunes (MDB), cargo que assumiu a convite do então prefeito Bruno Covas (PSDB), para quem fez campanha na eleição de 2020.
A ex-prefeita da capital disse à Folha de S.Paulo, em janeiro de 2023, que apoiaria a reeleição de Nunes, que tem como oponente Boulos.
A secretária disse ainda na ocasião que Nunes estava empenhado em fazer uma boa gestão, mas esbarrava na falta de popularidade, o que precisava solucionar até a campanha à reeleição. "Ele está indo muito bem. Não vejo por que eu vá apoiar outra pessoa", afirmou à época.
Sem filiação partidária, ela disse ainda que "nunca mais" seria candidata e endossou o discurso de que Lula seria um candidato natural para 2026.
Vice de Boulos
Nesta terça-feira (9), a ex-prefeita indicou ao presidente Lula que aceita ser vice na chapa de Boulos à Prefeitura de São Paulo. O anúncio oficial só depende de uma conversa dela com o prefeito Ricardo Nunes.
Marta se encontrou nesta segunda-feira (8) com Lula no Palácio do Planalto, ocasião em que o presidente formalizou o pedido para que ela retorne ao PT e seja vice na chapa de Boulos.
A possibilidade de que Marta voltasse ao PT para ser vice do psolista foi revelada pela Folha de S.Paulo em novembro.
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