BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), recebeu Mounjaro do empresário Roberto Leme, conhecido como Beto Louco, investigado pela Polícia Federal na Operação Carbono Oculto, segundo reportagem do portal UOL.

Mensagens trocadas entre Leme e um motorista particular de Brasília mostram, de acordo com a publicação, que o empresário presenteou o senador com canetas do produto, indicado para tratamento de diabetes e que é comumente utilizado para perda de peso.

A Folha de S.Paulo procurou Alcolumbre, via assessoria, e ainda aguarda retorno. A reportagem do UOL também procurou o presidente do Senado desde a tarde de quarta (3), mas não houve resposta.

Leme está foragido e é apontado pela PF como líder de um esquema de fraude em combustíveis e lavagem de dinheiro. Ele também é alvo de mais duas operações: Tank e Quasar. Uma das suspeitas envolve a ligação de postos de gasolina investigados com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

O caso das canetas Mounjaro teria acontecido por volta de agosto de 2024, quando Alcolumbre já era o favorito à sucessão na presidência da Casa, no lugar de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Ao saber do interesse do senador no medicamento, sob o relato de dificuldades para acessar o produto no Brasil, Beto Louco teria prometido a Alcolumbre arrumar algumas canetas com um contato em São Paulo e entregá-las rapidamente em Brasília, de acordo com o UOL.

O motorista de Alcolumbre, Janduí Nunes Bezerra Filho, confirmou ao portal que se lembrava da entrega feita e confirmou conhecer o motorista de Beto Louco que entregou o medicamento.

A defesa de Beto Louco disse à reportagem do Uol desconhecer os fatos. Também negou que o empresário tenha relação com o PCC.

O caso foi revelado em um momento de instabilidade na relação entre Alcolumbre e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O clima entre os dois teve uma piora após o petista indicar Jorge Messias, advogado-geral da União, para o STF (Supremo Tribunal Federal), frustrando os planos do chefe do Senado, que tinha Pacheco como favorito.

De lá para cá, o Planalto tentou reaproximações com Alcolumbre. Lula chegou a se reunir com o relator da indicação de Messias na Casa, Weverton Rocha (PDT-MA), em busca de garantir a aprovação do nome pelos senadores, e o próprio Messias fez elogios públicos a Alcolumbre.

O chefe do Senado, por sua vez, acabou cancelando a sabatina, sob alegações de que o governo não enviou à Casa a mensagem referente à indicação, o que vai contra o protocolo e atrapalha o cronograma, segundo Alcolumbre. Sem essa etapa, o Senado não pode decidir se aceita ou não a indicação

Com esse cancelamento, agora há mais tempo para Messias fazer campanha e obter apoio de senadores, o que é bom para o governo. Por outro lado, Alcolumbre usou palavras fortes para se referir à ausência da comunicação formal da indicação pelo Planalto. Ele acusou o Executivo de "omissão de responsabilidade".

A última vez que um indicado para o STF foi rejeitado foi no século 19. Barrar a indicação de Messias causaria uma crise política quase inédita.

Desde o anúncio do nome de Messias, a reação de Alcolumbre foi negativa. Na sequência da confirmação de Lula, o chefe do Senado incluiu na pauta um projeto com potencial de impacto de bilhões de reais para o orçamento do governo, em um dos primeiros gestos iniciais da crise entre os Poderes.

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