BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou nesta sexta-feira (5) ter sido escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como seu candidato para disputar a Presidência da República nas eleições do ano que vem.
O parlamentar viajou para São Paulo nesta quinta-feira (4) para informar a decisão de Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), antes do anúncio.
A decisão teria sido consolidada após visita de Flávio ao pai na prisão na terça-feira (2), na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Os dois conversaram por cerca de meia hora na ocasião.
A escolha foi revelada inicialmente pelo portal Metrópoles e, nesta tarde, o senador publicou um texto em suas redes sociais dizendo que não vai ficar de braços cruzados.
"É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação", escreveu.
"Eu me coloco diante de Deus e diante do Brasil para cumprir essa missão. E sei que Ele irá à frente, abrindo portas, derrubando muralhas e guiando cada passo dessa jornada."
Parte dos líderes do centrão preferia que a escolha fosse por Tarcísio, apostando que ele teria mais viabilidade eleitoral e poderia unir siglas da direita e da extrema direita. O governador segue afirmando publicamente que será candidato à reeleição.
Na leitura de dirigentes desse campo, a candidatura de Flávio não tem o mesmo poder aglutinador, o que faria com que a oposição a Lula (PT) se fragmentasse entre diversos nomes, principalmente de governadores.
Antônio Rueda, presidente da federação que reúne as duas principais siglas do centrão, União Brasil e PP, criticou a polarização em reação negativa à escolha de Flávio.
Alguns políticos ouvidos sob reserva avaliam ainda que candidatura possa ser blefe da família Bolsonaro para tentar, em reação ao apoio do centrão a Tarcísio, retomar o controle da sucessão política e manter o espólio eleitoral no clã.
A escolha de Flávio mantém o sobrenome Bolsonaro em evidência -atenuando o receio do ex-presidente de ser esquecido pelo centrão enquanto cumpre pena em regime fechado por tentativa de golpe de Estado.
O anúncio desta sexta também mantém a extrema direita e a direita sob o comando da família Bolsonaro, em um momento em que parte dos governadores busca protagonismo junto a esse eleitorado.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, divulgou nota na tarde desta sexta na qual afirmou: "Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado."
Rival interno de Flávio, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que viajou aos Estados Unidos em busca de sanções com o objetivo de salvar Bolsonaro da prisão, celebrou a escolha do irmão. Eduardo é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a acusação de coação.
"Todos sabemos que o povo desejava nosso pai como candidato. Essa era a vontade popular. Mas a tirania que avança sobre nossa nação arrancou essa escolha das mãos da população. Meu irmão erguerá a bandeira dos ideais do nosso pai", publicou em rede social.
O deputado afirmou ainda que o momento exige união. "Deixemos nossas diferenças para trás. Não é hora de disputas menores. [...] Nenhum interesse pessoal pode se sobrepor ao destino de uma nação."
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) fez postagem pedindo que Deus abençoe Flávio na "nova missão pelo nosso amado Brasil".
A ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para prender Bolsonaro, no último dia 22, aumentou a pressão no campo bolsonarista sobre a escolha de um sucessor, até porque o ex-presidente está inelegível.
Por outro lado, congressistas de direita e aliados do senador afirmam que o ocorrido também fez com que Flávio entrasse na mira de Moraes. A vigília convocada pelo senador foi mencionada pelo ministro do STF na ordem de prisão ao ex-presidente.
Como mostrou a Folha, as apostas de aliados de que Flávio seria o nome de Bolsonaro se intensificaram nos últimos meses, quando ele assumiu a linha de frente do ex-presidente nos bastidores políticos e passou a adotar uma defesa pública mais enfática e dura do pai contra o STF.
A avaliação era que o ex-presidente confia mais em seus filhos e acharia justo manter o espólio eleitoral no clã. Dentro dessa lógica, Flávio seria o nome mais viável.
Por outro lado, o ex-presidente dava sinais contraditórios. Em determinado momento, segundo relatos, ele já chegou a dizer que não quer sua família em cargos do Executivo, por acreditar que seus ocupantes são mais suscetíveis que os parlamentares a supostas perseguições do Judiciário.
Em 2021, o STF anulou as provas do caso da rachadinha, que implicou Flávio e Fabrício Queiroz, acusado de ser o operador do esquema no gabinete do então deputado estadual.
Em entrevista à Folha em junho, o senador afirmou que, para receber o apoio de Bolsonaro nas eleições de 2026, o candidato à Presidência deveria não só conceder indulto ao pai dele, mas brigar com o Supremo por isso, se for preciso.
"Estou fazendo uma análise de cenário. Bolsonaro apoia alguém, esse candidato se elege, dá um indulto ou faz a composição com o Congresso para aprovar a anistia, em três meses isso está concretizado, aí vem o Supremo e fala: é inconstitucional, volta todo mundo para a cadeia. Isso não dá", declarou, na ocasião.
Flávio Bolsonaro, 44, é filho do ex-presidente Jair Bolsonaro com Rogéria Nantes Nunes Braga. Nascido em Resende, no interior do estado do Rio de Janeiro, formou-se em direito na Universidade Cândido Mendes e tem especialização em políticas públicas pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e em empreendedorismo pela FGV.
Sua carreira na vida pública começou em 2003, quando se elegeu, no Rio de Janeiro, ao cargo de deputado estadual pela primeira vez. Foi reeleito em 2006, 2010 e 2014. Disputou as eleições para a prefeitura da capital fluminense, em 2016, mas acabou em quarto lugar ?Marcelo Crivella sagrou-se vitorioso, na ocasião. Dois anos depois, conseguiu se eleger ao cargo de senador.
Ao longo de sua carreira política, Flávio passou por diferentes partidos: PP, PFL, PSC, PSL, Republicanos, Patriota e, finalmente, PL.
Dos filhos, Flávio sempre foi o mais moderado e defendia uma anistia "a todos, inclusive a Moraes". Mais recentemente, adotou tom mais crítico e passou a defender o impeachment do ministro do STF.