BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Integrantes do centrão ameaçam, nos bastidores, deixar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) isolado tanto em seu esforço pela anistia como em sua possível tentativa de se tornar presidente da República.
Ele desagradou a políticos do grupo ao afirmar que a retirada de sua recém lançada pré-candidatura ao Palácio do Planalto só ocorreria com a liberdade de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A análise predominante, exposta à reportagem por diversos congressistas e dirigentes partidários, é a de que não há clima para a anistia no Congresso. A exigência de Flávio, na visão desses políticos, pode mobilizar a base bolsonarista, mas não tem força para alterar esse cenário e pode até atrapalhar.
O filho de Jair Bolsonaro (PL) se lançou como pré-candidato a presidente na sexta-feira (5), contra a vontade dos partidos do centrão, que preferem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No domingo (7), Flávio afirmou que poderia negociar para retirar seu nome. Um dia depois, disse em entrevista à Folha de S.Paulo que sua candidatura é irreversível, com uma ressalva: "A única possibilidade de o Flávio Bolsonaro não ser candidato a presidente da República é o candidato ser o Jair Messias Bolsonaro", disse.
Bolsonaro só poderá ser candidato se tanto sua condenação no processo da trama golpista quanto sua inelegibilidade declarada pela Justiça Eleitoral forem anuladas.
Na visão de integrantes do centrão, a candidatura de Flávio será esvaziada ao longo das próximas semanas ou meses, com a divulgação de pesquisas que mostrem maior viabilidade eleitoral de Tarcísio.
Assim, eles avaliam que não seria necessário nenhum gesto agora para aprovar a anistia em troca de demovê-lo da candidatura.
Pesquisa Datafolha divulgada no sábado (6) mostra que Lula (PT) bate Flávio por 15 pontos e Tarcísio por 5 no 2º turno.
Por outro lado, líderes do centrão consideram o bolsonarismo imprevisível e costumam fazer essa ressalva ao analisar os movimentos da família Bolsonaro e de seus aliados.
Caso o filho de Bolsonaro leve sua candidatura até o fim, fica reduzida a possibilidade de partidos como União Brasil, PP e Republicanos apoiarem em bloco um mesmo candidato.
Políticos do PP, por exemplo, disseram à reportagem que, se o senador for candidato, o partido deverá liberar seus filiados para apoiarem quem quiserem em seus estados.
O motivo seriam as menores chances de ele derrotar Lula no segundo turno e sua rejeição, que poderia contaminar as candidaturas a deputado e senador, foco atual da sigla.
A análise de partidos do centrão é que Flávio parte de um piso alto de votos, por causa do eleitorado bolsonarista, mas tem dificuldade para aglutinar setores moderados da sociedade por carregar a rejeição a seu pai.
Já Tarcísio é visto como o político de direita com mais chances de vencer a disputa presidencial. Por isso, a chance de esse grupo de partidos ficar coeso em torno dele é maior.
ANISTIA
A anistia ao ex-presidente e aos presos por participação nos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023 foi um dos temas mais importantes na Câmara meses atrás. Depois, uma redução de penas, sem perdão completo, passou a ser debatida em seu lugar. Mas mesmo essa ideia perdeu força nas últimas semanas.
O relator do projeto, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), disse que a pressão de Flávio, vista por alguns políticos como chantagem, não muda nada na proposta.
"O pessoal do PL voltou a falar nessa história de anistia", disse ele. "No meu relatório não tem anistia. Anistia zero. O que tem é redução de penas", declarou o deputado.
O parlamentar e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), negociam há semanas a votação do projeto, sob a condição de que os bolsonaristas se comprometam a não tentar converter a redução de penas em anistia durante a deliberação. Na falta de um acordo, o projeto segue parado.
Diante desse impasse, um dos deputados ouvidos avalia que o movimento do senador não facilita a votação, uma vez que dá força aos bolsonaristas que só aceitam um projeto com perdão completo.
Pré-candidato ao governo da Paraíba com apoio da família Bolsonaro, o senador Efraim Filho (União Brasil) afirma que o lançamento da candidatura de Flávio reacende o debate sobre a anistia, mas que os presidentes da Câmara e do Senado não deram sinais de que estejam dispostos a pautar o tema.
"Tem um apoio significativo, não dá para avaliar ainda se é majoritário", admite.
Aliados de Tarcísio descartam a hipótese de ele atuar pela anistia do ex-presidente. Lembram que o governador não obteve sucesso meses atrás, quando se dedicou a essa empreitada, em um momento bem mais favorável. Duvidam que seja bem-sucedido agora, muito menos sob chantagem.