BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Líder do PP na Câmara, o deputado doutor Luizinho Teixeira (RJ) afirma que seu partido se sentiu livre para construir uma candidatura presidencial de centro-direita, desvinculada dos Bolsonaros, quando o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) resolveu se lançar candidato à Presidência sem falar com as demais legendas.
"Neste momento, a federação [com o União Brasil] se sente liberada para fazer o movimento que ela quiser, porque o PL fez o movimento dele isolado", disse ele em entrevista à Folha de S.Paulo, ao destacar que Flávio terá mais dificuldades por causa da rejeição maior ligada à família.
Luizinho afirma que o PP está hoje dividido entre os que querem apoiar o presidente Lula (PT), os que querem lançar um candidato de direita e os que preferem a independência, parcela essa que seria a majoritária. "Nossa prioridade é eleger deputado e senador. A gente vai olhar qual é o melhor projeto para isso", afirma.
Na opinião dele, Flávio pode até recuar da candidatura em junho ou julho, mas será tarde para construir um projeto nacional único, porque os palanques regionais já estarão resolvidos.
Líder de um bloco com 275 deputados que reúne os partidos de centro e centro-direita, o deputado afirma também que o grupo será o fiel da balança nas votações e defende medidas de contenção do STF (Supremo Tribunal Federal). "As pessoas aprenderam a usar o Judiciário para intimidar o Parlamento."
O sr. é o líder do novo bloco formado por Hugo Motta, sem o PL e sem o PT. Qual é o papel desse bloco majoritário? É um bloco de apoio ao presidente [da Câmara] Hugo Motta, que a cada votação vai delineando para onde vai a Casa. Se esses 275 votos estiverem com o governo, o governo é vencedor. Se estiverem com a oposição, a oposição é vencedora.
PERGUNTA - Esse bloco vai construir a reeleição de Motta?
LUIZINHO TEIXEIRA - A gestão dele tem sido contestada. A eleição é construída no dia a dia, mas ele é o candidato natural do nosso bloco. Ele sofre por ser um presidente de consenso em um país polarizado. Quando atende a pauta do governo, a oposição execra. Quando atende a oposição, o governo é que execra. Mas tem o mérito de enfrentar todos os temas.
O PP apoiará a candidatura do Flávio? O PP, junto com o União Brasil, participava da construção de uma candidatura de centro-direita. A partir do momento em que Flávio Bolsonaro puxa a candidatura dele por uma decisão familiar e impõe para a direita, todo mundo que é de centro e centro-direita está livre. Nossa prioridade é eleger deputado e senador. A gente vai olhar qual é o melhor projeto para isso. E precisa apresentar um projeto de país.
Não basta ter um sobrenome. Não basta. Tenho relação pessoal com o senador, mas uma candidatura presidencial envolve apoio político, chamar todo mundo para participar, definir qual é o projeto. Neste momento, a federação se sente liberada para fazer o movimento que ela quiser, porque o PL fez o movimento dele isolado. No PP, muitos no Nordeste querem apoiar o presidente Lula. Muitos querem o candidato de direita, e muitos querem ficar independentes porque cada estado faz seu arranjo.
P. - Qual ala tem mais peso?
LT - A da independência. É 50%. 25% querem caminhar com Lula e 25% com a candidatura de direita, seja ela qual for, até o Flávio. A tendência maior é para a centro-direita, pelo perfil do presidente [do PP] Ciro [Nogueira]. Mas, a partir do momento em que ele não pleiteia mais ser candidato a vice-presidente, deixa o partido numa outra configuração.
O presidente do PP, Ciro Nogueira, falou recentemente nos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Júnior (PSD-PR). Tem o Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), que é da federação. Esses três nomes têm viabilidade eleitoral. O Ratinho e o Tarcísio têm mais porque são governadores de estados maiores. A gente precisa entender quais nomes surgirão. E aí avaliar se vale a pena para o partido dar apoio ao candidato ou liberar nos estados como forma de trazer mais parlamentares.
P. - Qual é a viabilidade eleitoral de Flávio?
LT - O que vai impactar é a rejeição. Ele já sai com uma rejeição muito alta, tem mais dificuldade de conquistar o eleitor de centro do que o Tarcísio e o Ratinho. O Eduardo nos Estados Unidos fez com que a população brasileira visse uma movimentação dele contra o país, e cresceu a rejeição à família Bolsonaro. Mas a eleição deixou de ser uma maratona para ser uma corrida de cem metros, então pequenas coisas mudam uma eleição. Pode ser que o Flávio, como não é o pai, consiga diminuir essa rejeição. O que acho é que a forma não foi a melhor de construir uma candidatura.
P. - Aprovar o projeto de redução de penas foi uma forma de o centrão fazer Flávio recuar?
LT - Foi decisão do presidente Hugo, porque ele está com o sentimento de encerrar os problemas postos em 2025. Posso garantir que não houve, por parte dos partidos aliados, um pedido desse, com o objetivo de demover o Flávio.
P. - Mas a consequência pode ser a de ele retirar a candidatura?
LT - Não acho. Não acho. Acho que é o contrário. O Flávio fez uma fala ruim [de sua candidatura "ter um preço"], e agora ele mesmo está refém do que falou, não vai poder abrir mão tão cedo. Se ele for rever a posição, isso vai ser em junho, julho. Acho que hoje ele é candidato de verdade, porque é um sentimento da família de querer manter o nome ativo.
P. - Esse prazo atrapalha a construção de outra candidatura presidencial?
LT - Se lá na frente ele desistir, ele comprimiu esse tempo para que a eleição presidencial seja a construção principal. Em janeiro vai todo mundo para o estado organizar a base. Quando a gente voltar para cá [em fevereiro], a eleição estadual já está organizada, com os acordos feitos com nossos candidatos a governador e ao Senado, e isso vai impactar nas coligações nacionais. "Olha, mas eu já construí lá. Agora vamos fazer uma aliança que vai ser contra a minha aliança estadual? Como isso vai se dar?"
P. - Falta ao Ratinho se apresentar mais para a disputa?
LT - Eu tenho essa visão. Se ele quer ser candidato, precisa participar mais da política em Brasília. O Tarcísio sai de uma vantagem porque foi ministro, todo mundo com mandato conheceu ele. Política é relação de confiança.
P. - Uma candidatura de direita sem Bolsonaro não acabará como Geraldo Alckmin em 2018, que teve o apoio de vocês e 4,7% dos votos?
LT - Quero esclarecer que não estou participando da construção de nenhum projeto presidencial. Minha função é liderar a bancada, ajudar a estabilizar o país e votar os temas, o que me faz ter uma relação estreita com o governo e de super respeito com o presidente Lula. Se eu estivesse construindo candidatura presidencial, o nosso bloco seria de oposição, o que não é. Só que a gente tem posição clara sobre alguns temas, como foi na derrubada da MP [medida provisória] dos impostos, e às vezes o governo não acredita.
P. - A segurança pública será a pauta para derrotar o governo Lula na eleição?
LT - O governo Lula está dando essa bandeira para a direita. Sou do Rio de Janeiro, a gente vive um medo constante. Mas a população estará com essa preocupação em todo o Brasil. O governo não captou isso. Talvez o Ministério da Segurança Pública seja mais importante hoje que o Ministério da Defesa, para tratar esse assunto de uma forma diferente.
P. - O corte de benefícios fiscais tem apoio na Câmara?
LT - Tem, porque é bandeira do PP, de não aumentar a carga tributária e rever condições tributárias diferenciadas que fazem com que o governo e o país estejam muito pesados. Não tem dificuldade nesse tema. Precisa só olhar onde vai tirar.
Há um embate com o STF. O sr. vê alguma proposta de contenção votada pela Câmara? Temos que enfrentar todos os temas. Se o Senado votou, que é a Casa que constitucionalmente tem mais relação com o Supremo, a Câmara tem que votar. A PEC [Proposta de Emenda à Constituição] das decisões monocráticas deveria ser votada. A gente pode até ser contra, mas não podemos ficar engavetando.
P. - Existe clima de tensão com o STF e o governo por causa de investigações como as das emendas, da Refit, do Banco Master?
LT - As pessoas aprenderam a usar o Judiciário para intimidar o Parlamento. A gente está sendo intimidado diariamente. Quando tem alguma suposta ação judicial, isso acaba com a nossa imagem. A gente tem, como sempre teve, sempre vai ter, ações públicas e privadas que precisam ser investigadas. O problema é como isso é colocado. As pessoas vão lançando a informação e isso vai colando como se fosse uma verdade. "Fulano tem ligação com o Sicrano". Relação de amizade a gente tem com muita gente de todos os lados. Informação é uma coisa, investigação de Polícia Federal é uma coisa. Agora, vazamento de uma investigação é outra.
P. - O governo insiste em aumentar imposto sobre bets e fintechs. Há apoio?
LT - As fintechs são a maior libertação das altas taxas de juros dos bancos, e o movimento feito é para emparedá-las, tanto as colocando como organizações criminosas como de aumento de tributo. Em relação às bets, há um movimento de concentração em poucas empresas, principalmente as multinacionais, e dois terços do mercado é ilegal. Não acredito que aumentar a taxação vai resolver o problema.
RAIO-X | Dr LUIZINHO TEIXEIRA, 51
Médico, foi secretário de Saúde do Rio de Janeiro. É líder do PP na Câmara dos Deputados e está no segundo mandato de deputado federal.