SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência fraturou o diretório paulista do Partido Liberal entre um grupo que ainda prefere Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa e outro que cobra apoio à eleição do filho mais velho de Jair Bolsonaro (PL).
No primeiro grupo, a estratégia é evitar uma oposição explícita ao nome do senador, mas não trabalhar por sua candidatura. O entendimento é que o próprio Flávio deve construir as alianças eleitorais que sustentariam uma eventual campanha.
Essa linha de ação é baseada na avaliação, segundo membros do partido, de que os principais partidos da centro-direita não devem aderir ao projeto e que, isolado, Flávio teria de abrir mão da disputa, abrindo espaço para Tarcísio.
O segundo grupo é composto pela base parlamentar de Bolsonaro em São Paulo e já iniciou publicações diárias nas redes sociais promovendo o pré-candidato.
Em conversas sob reserva ao longo desta semana com a Folha, bolsonaristas de São Paulo criticaram a outra ala do partido, afirmando que ela se preocupa mais com a manutenção de espaços no governo paulista do que com a fidelidade ao ex-presidente.
"A candidatura de Flávio foi escolha de Bolsonaro. O partido só chegou ao tamanho que tem por causa de Bolsonaro", disse o deputado estadual Lucas Bove (PL).
Tarcísio, até o momento, agiu de modo interpretado pelos bolsonaristas como alinhado ao primeiro grupo. Cotado à Presidência e preterido por Bolsonaro, ele demorou três dias para declarar apoio ao senador, o que fez na última segunda-feira (8), ao afirmar que a direita deve ter outras candidaturas.
Nos bastidores, disse que não tem perfil de articulador eleitoral, que se dedicará à campanha em São Paulo e que não deve trabalhar pela eleição de Flávio. Mesmo em conversas informais, contudo, nega a intenção de se lançar à Presidência.
Partidos de centro-direita que haviam declarado apoio explícito ao governador de São Paulo, como o PSD de Gilberto Kassab e o PP de Ciro Nogueira, anunciaram o desembarque do projeto de Flávio menos de uma semana após o senador se apresentar à disputa.
A fricção entre os dois grupos resultou em uma disputa dentro da Alesp (Assembleia Legislativa) pelo posto de líder da bancada no ano que vem.
O bolsonarista Gil Diniz (PL), um dos principais aliados do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no estado, vinha se empenhando pelo posto e havia colhido a assinatura de 11 dos 20 deputados do PL. O presidente da Alesp, André do Prado (PL), trabalhou pela indicação do aliado Alex de Madureira (PL), nome que deve assumir a liderança.
Entre bolsonaristas, a avaliação é que o grupo não alinhado a Flávio não quis um nome fiel ao ex-presidente na liderança do partido no período eleitoral. Além de ter um gabinete próprio, em que pode alocar aliados, o líder tem maior influência na escolha da pauta de votações. Diniz esteve nos Estados Unidos com Eduardo no início do mês e, segundo aliados, é cotado para disputar o Senado.
André do Prado nega que a disputa interna tenha como pano de fundo as reações à indicação de Flávio. "Gosto muito do Gil, me dou bem com ele. Mas, para a liderança, para me ajudar, preciso de um nome da minha confiança, mais próximo a mim. O Alex vai precisar negociar com todos os partidos", disse.
"O presidente Bolsonaro, como nosso líder, indicou o Flávio e todos no partido vão apoiar", afirmou o presidente da Alesp. "Eu já liguei para o Flávio e me coloquei à disposição de tudo o que ele precisar", complementou.
Membro do partido e um dos aliados mais fiéis de Jair Bolsonaro em São Paulo, o vice-prefeito da capital, coronel Mello Araújo (PL), reconhece as divisões internas, mas defende a indicação feita pelo ex-presidente.
"É um cenário que todos queriam. O Tarcísio dizia que gostaria de ficar em São Paulo. O prefeito Ricardo Nunes dizia que gostaria de ficar na prefeitura. Com Flávio na Presidência, todo mundo deveria estar satisfeito", disse.
"Com o Flávio, a gente tem uma chance de, pela primeira vez, a direita ter o governo federal, o governo do estado e a prefeitura", afirmou.