CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Escolhido para ser o relator no Senado do projeto de lei que reduz as penas dos condenados no processo da trama golpista, Esperidião Amin (PP-SC) assume a pauta prioritária dos bolsonaristas no mesmo momento em que enfrenta incertezas no cenário eleitoral de Santa Catarina para 2026, quando pretende disputar a reeleição.
Amin está filiado ao PP, um dos partidos do centrão com mais parlamentares no Congresso Nacional, e o peso da sigla é relevante nas costuras eleitorais em Santa Catarina. Mas a entrada de Carlos Bolsonaro (PL) na disputa catarinense embaralhou os acordos que estavam sendo desenhados para as eleições do Senado, com reflexos também na corrida ao governo estadual.
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Carlos anunciou nesta quinta-feira (11) a renúncia do seu mandato de vereador no Rio de Janeiro, confirmando a intenção de concorrer ao Senado por Santa Catarina, onde o bolsonarismo tem ampla capilaridade --nas eleições de 2024, outro filho do ex-mandatário, Jair Renan, foi eleito vereador na Câmara de Balneário Camboriú, no litoral do estado, com a maior votação da Casa.
A entrada de Carlos na disputa, ensaiada desde junho, gerou um racha na direita catarinense, que até aquele momento se organizava para lançar duas candidaturas ao Senado: de Amin e da deputada federal Carol de Toni (PL).
Para a família Bolsonaro, a solução encontrada para manter o PP na chapa seria tirar Carol de Toni da disputa majoritária, mas uma ala do PL tem reclamado abertamente dessa possibilidade.
A deputada estadual Ana Campagnolo (PL) disse que a correligionária está sendo "rifada" e criticou a decisão "de cima para baixo" para dar espaço a Carlos Bolsonaro. Já Carol de Toni ainda avalia se tentará a reeleição para a Câmara ou se vai migrar para o partido Novo e concorrer ao Senado.
A permanência de Carol de Toni na corrida, pelo PL ou mesmo pelo Novo, pode ser uma ameaça à reeleição de Amin, já que Carlos Bolsonaro é considerado, pelo grupo da direita, o nome mais forte nas urnas de Santa Catarina.
Tanto Carol de Toni quanto Ana Campagnolo são lideranças expressivas do PL catarinense. Nas eleições de 2022, as duas foram as mais votadas no estado para a Câmara dos Deputados e a Assembleia Legislativa, respectivamente.
Mas outras lideranças do PL entendem que o PP, que em 2026 deve se unir ao União Brasil para formar uma federação, é uma legenda importante para a reeleição do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e defendem que Amin esteja na composição.
Segundo o grupo, uma eventual chapa pura ao Senado com Carlos e Carol de Toni pode empurrar a União Progressista para uma aliança com o hoje principal adversário de Jorginho Mello nas urnas, o atual prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD).
Ele atua no mesmo espectro político do governador, e o PL teme que obtenha mais partidos em torno da sua candidatura.
A questão, na avaliação do mesmo grupo, também passa pelas definições nacionais, se o senador Flávio Bolsonaro (PL) vai seguir na disputa pelo Planalto e se a União Progressista irá apoiá-lo ou dar respaldo a outro nome.
Amin tem evitado falar publicamente sobre o impasse, mas dá sinais claros de que pretende seguir no campo bolsonarista para conquistar o eleitorado no ano que vem. Procurado pela Folha na quinta, ele não respondeu ao pedido de entrevista até a publicação deste texto.
Antes conhecido por ser um político da direita tradicional, Amin se radicalizou nos últimos anos e, nesta quarta-feira (10), logo após ser indicado relator do projeto de lei da dosimetria, declarou que é a favor da anistia completa. Acrescentou que perdoar ou não os condenados é "uma decisão política".
Ele não descarta a possibilidade de a proposta, sob sua relatoria, transformar-se em um perdão amplo, o que daria impulso às suas pretensões eleitorais.
Apesar das sinalizações, Amin afirmou que ainda estuda o caso e que vai entregar seu relatório na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado até a próxima quarta-feira (17). Ele disse também que trabalhará para o projeto de lei ser votado ainda neste ano.
A proposta chega ao Senado após ter sido aprovada na Câmara por 291 votos contra 148. O texto propõe uma nova regra para somar as penas dos crimes contra a democracia e prevê mudanças na progressão de regime.
Se aprovado no Senado sem alterações, Bolsonaro, que está preso desde 22 de novembro, poderia ficar menos tempo em regime fechado (entre 2 e 4 anos, contra uma estimativa atual de 6 a 8 anos).
Em 11 de setembro, o ex-presidente foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.