BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O senador Weverton Rocha (PDT-MA), alvo de busca da PF (Polícia Federal) nesta quinta-feira (18), é um dos integrantes mais influentes do Senado e tem proximidade com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP). Também é apoiador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em nota, o gabinete de Rocha afirma que o senador recebeu com surpresa a busca na sua residência. "Ele se coloca à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas assim que tiver acesso integral à decisão."

A proximidade tanto com a cúpula do Senado quanto com o governo federal colocou o senador em dentro do esforço político que tenta reaproximar Lula e Alcolumbre depois de a aliança entre os dois chefes de Poder ficar abalada nas últimas semanas.

O presidente do Senado confia missões difíceis a Weverton. Ele é, por exemplo, relator do projeto de nova lei do impeachment e da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).

A escolha de Lula por Messias em vez de pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), favorito de Alcolumbre e de outros integrantes do Senado, foi o estopim para uma crise na relação entre o Legislativo e o governo federal.

Weverton foi um dos senadores com os quais Lula conversou pessoalmente para tentar obter apoio para Messias e baixar a temperatura política de forma geral. Além do pedetista, políticos como Eduardo Braga (MDB-AM), Renan Calheiros (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA) e Omar Aziz (PSD-AM) estão no esforço de reaproximar Alcolumbre do presidente da República.

Ele ocupa uma cadeira no Senado pelo Maranhão desde 2018, quando foi eleito com 34,91% dos votos válidos, com apoio do então governador Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal. Quatro anos depois, Rocha concorreu ao governo maranhense e perdeu para o candidato de Dino, o atual governador Carlos Brandão (PSB).

Durante a campanha, quando esteve licenciado do Senado por 120 dias, o parlamentar compôs chapa com partidos tradicionalmente alinhados à direita ?PTB, PL, Agir, Republicanos e PROS.

Paralelamente, Weverton Rocha se tornou um dos políticos mais visados pelas investigações da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga os descontos irregulares em benefícios do INSS por causa de ligações com Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS" e apontado como um dos operadores do esquema.

O senador também já empregou em seu gabinete o secretário-executivo do Ministério da Previdência, Adroaldo Portal, colocado em prisão preventiva domiciliar pela operação desta quinta-feira.

Além disso, Weverton apoiou a indicação de André Fidelis como diretor de Benefícios do INSS. Preso em novembro, Fidelis é apontado como um dos principais nomes do esquema de descontos irregulares.

A Polícia Federal apontou o político como um possível beneficiário final e sócio oculto do esquema de descontos irregulares. O órgão pediu a prisão do senador, mas o ministro do STF André Mendonça negou.

"O senador Weverton Rocha informa que recebeu com surpresa a busca na sua residência, com serenidade se coloca à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas assim que tiver acesso integral a decisão", diz nota divulgada pela equipe do senador logo depois da operação.

CPI MIRA WEVERTON

O senador é citado em requerimentos e em depoimentos da CPI do INSS. São mencionadas principalmente ligações entre Weverton e o Careca do INSS. O relator do colegiado, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirma que o político deveria falar à comissão.

Acusado de ser um dos operadores do esquema, Antunes declarou à CPI do INSS que foi a um churrasco de costela na casa de Weverton, quando teria falado com ele sobre a regulação da venda de derivados de cannabis ?ou seja, uma atividade de representação empresarial sem ligação com descontos em aposentadorias.

O Careca do INSS também disse que esteve no gabinete do senador em outras ocasiões, mas que não conversou com o político. O interlocutor teria sido Adroaldo, secretário-executivo do Ministério da Previdência, mas que, na época, trabalhava no gabinete de Weverton. A visita também teria sido para tratar sobre o mercado de cannabis.

Diante das suspeitas sobre o envolvimento de Weverton, a CPI requisitou ao Senado a lista de gabinetes visitados por Antunes. A relação nunca foi tornada pública porque a Advocacia do Senado elaborou um parecer alegando se tratar de informação sigilosa.

Um ex-assessor de Weverton também apareceu nas apurações. Gustavo Gaspar teria assinado uma procuração de movimentação de contas bancárias e entregado para Rubens Oliveira, apontado como um operador dos descontos irregulares. Ele também foi alvo de pedido de prisão.

Integrantes da CPI também citam como motivo de suspeita contra Weverton uma suposta relação entre empresas do senador com um contador que também prestava serviços para firmas de Camilo Antunes. Além disso, é mencionado o suposto compartilhamento de um jatinho entre o senador e o careca do INSS.

Em setembro deste ano, o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi depôs ao colegiado e disse que Fidelis foi uma indicação política da qual Weverton participou. Lupi e o senador são do mesmo partido, o PDT.

"Fiz o apoiamento do André Fidélis por ser um funcionário de carreira, que chegou a mim com um ótimo currículo dentro da Previdência", disse Weverton em nota divulgada na época.

"Conheci Antônio Carlos Camilo Antunes em um costelão na minha casa, para a qual ele foi levado por um convidado. Na ocasião, ele se apresentou como empresário do setor farmacêutico. Depois disso, eu o recebi no meu gabinete umas três ou quatro vezes para tratar da pauta legislativa de legalização da importação de produtos a base de canabis para fins medicinais", afirmou o senador na mesma nota.

As investigações da Polícia Federal e da CPI correm em paralelo. O colegiado não teve poder sobre a operação contra Weverton deflagrada nesta quarta.