BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal investiga um pagamento de R$ 300 mil feito por ordem do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, a uma empresária que é amiga de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, um dos filhos do presidente Lula (PT).
Em uma mensagem apreendida pela PF em uma das fases da operação Sem Desconto, o Careca do INSS pede a um operador que faça o pagamento de uma parcela nesse valor a uma empresa em nome de Roberta Luchsinger, a RL Consultoria e Intermediações.
O operador pergunta quem seria o destinatário do dinheiro. Antunes responde que seria "o filho do rapaz" e, em seguida, recebe o comprovante do pagamento para a empresa de Luchsinger. A PF tenta identificar se o Careca do INSS se referia a Fábio Luís.
A empresa RL Consultoria tem entre seus sócios a empresária Roberta Moreira Luchsinger, que foi alvo de busca e apreensão no bairro de Higienópolis, em São Paulo, e é próxima ao filho do presidente.
Em uma troca de mensagens com Antunes em abril desse ano, Roberta afirma que "acharam um envelope com nome do nosso amigo no dia da busca e apreensão". Ele responde, "PUTZ", e ela acrescenta: "Antônio, some com esses telefones. Joga fora".
Segundo a PF, alguns dias depois, em maio, Roberta envia um áudio para o Careca tentando tranquilizá-lo com o seguinte teor: "Na época do Fábio falaram de Friboi, de um monte de coisa o [sic] maior... igual agora com você".
Roberta é herdeira de um ex-acionista do antigo banco Credit Suisse , o suíço Peter Paul Arnold Luchsinger, que era seu avô, segundo a coluna de Mônica Bergamo. Ela foi também casada com o ex-delegado da PF Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha.
Em 2017, ela anunciou que faria uma doação milionária a Lula, que estava sendo investigado pela Operação Lava Jato.
A defesa de Roberta afirma que as transferências não têm qualquer relação com o INSS, mas sim com um projeto de canabidiol que desenvolvia com o lobista.
Em nota, a defesa diz que "Roberta Luchsinger e sua empresa atuam com a prospecção e intermediação de negócios com empresas nacionais e estrangeiras e, nesse âmbito, foi procurada no ano passado pela empresa Brasília Consultoria Empresarial S/A, de Antônio Carlos Camilo Antunes, para atuação na regulação do setor de empresas de canabidiol".
Também afirma que os negócios que mantiveram foram apenas tratativas iniciais que não chegaram a prosperar e que essas tratativas aconteceram em momentos anteriores às revelações dos desvios de descontos do INSS.
Lulinha não é investigado formalmente no caso e não contratou advogados, mas em ações no passado foi representado por Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, que se manifestou em nome do filho do presidente.
Ele diz que Lulinha não é alvo e que as citações referidas na investigação "são absolutórias".
"Uma das investigadas diz de forma categórica que o Lulinha, uma vez mais, é alvo de mentiras e vilanias, como foi no passado em relação à suposta sociedade que mantinha com a empresa Friboi. A própria história já se encarregou de desmentir", diz Marco Aurélio.
"Quanto à citação do termo 'filho do rapaz', seguramente não está se referindo a Fábio Luís. Ele pode ser 'filho do cara', segundo [Barack] Obama, ou eventualmente de um senhor de mais de 80 anos de idade que atualmente preside o país."
Segundo ele, a operação é prova de que "a Polícia Federal e as demais instituições do Estado brasileiro foram devolvidas pelo presidente Lula ao povo brasileiro. Não buscam proteger aliados e perseguir adversários".
A defesa de Antonio Carlos Camilo Antunes não se manifestou sobre a operação.
Em entrevista nesta quinta, o presidente Lula foi questionado sobre o tema. Ele disse que "ninguém ficará livre" de investigação, se estiver envolvido.
"Se tiver filho meu metido nisso será investigado. Se tiver o [ministro da Fazenda Fernando] Haddad vai ser investigado, o [ministro-chefe da Casa Civil] Rui Costa com essa seriedade vai ser investigado", afirmou.
A PF fez buscas e prisões nesta quinta-feira (18), em uma nova fase da Operação Sem Desconto. A ação foi autorizada pelo ministro André Mendonça, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Os investigadores cumpriram 16 mandados de prisão preventiva e 52 de busca e apreensão. A ação da PF e da CGU (Controladoria-Geral da União) foi autorizada por Mendonça.