CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro em Santa Catarina seguem apostando nas bandeiras do grupo para tentar repetir em 2026 a vitória eleitoral que obtiveram regionalmente nas urnas de 2022. Mas os conflitos nas costuras eleitorais até aqui dão pistas de que o grupo pode chegar rachado na disputa de outubro.
Dois movimentos geraram fraturas no campo da direita em Santa Catarina, estado onde o bolsonarismo tem forte capilaridade. Um deles foi a entrada de Carlos Bolsonaro (PL), ex-vereador do Rio de Janeiro, na disputa por uma das duas vagas da bancada catarinense no Senado.
Com uma vaga na chapa já garantida ao filho do ex-mandatário, o PL vai precisar descartar um dos dois nomes cotados até aqui para a disputa, a deputada federal Carol de Toni (PL) ou o senador Esperidião Amin (PP), e o impasse tem gerado troca de farpas públicas entre correligionários.
Aliados da Carol de Toni têm reclamado que ela está sendo "rifada" pela família Bolsonaro, que tem sinalizado preferir a aliança com o PP de Amin para fortalecer a candidatura à reeleição do governador, Jorginho Mello (PL). A deputada ainda não decidiu se migra para o partido Novo, e insiste no Senado, ou se permanece no PL e tenta a reeleição na Câmara.
Em 2022, o PL de Jorginho Mello concorreu isolado ao Executivo, mas ao longo dos três anos de mandato ampliou sua base de apoio e passou a desenhar uma chapa para 2026 ao menos com PP e MDB, siglas que hoje integram o primeiro escalão da administração estadual.
Outro movimento que dividiu a direita catarinense foi o lançamento da pré-candidatura ao governo estadual de João Rodrigues (PSD), prefeito de Chapecó. Rodrigues atua no mesmo espectro político de Jorginho Mello e ambos são ferrenhos defensores de Bolsonaro.
Aliados do atual governador ainda tentam convencer Rodrigues a desistir da corrida, inclusive deixando a cadeira de vice na chapa à disposição do PSD.
Também apostam no alinhamento de Jorginho Mello com figuras relevantes do PSD, como o atual prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, reeleito no ano passado com o apoio do governador. Mas, até agora, Rodrigues não deu sinais de recuo.
Condenado em setembro por tentativa de golpe de Estado e preso desde novembro, Bolsonaro segue influente na política catarinense e bandeiras associadas ao seu nome devem se repetir na campanha eleitoral do ano que vem.
"Acredito que isso vai permanecer. É um grupo que não tem uma pauta econômica bem definida, por exemplo, mas tem o que chamamos de pautas morais, conservadoras, que é o que dá unidade a eles", analisa o professor Julian Borba, do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Derrotado nas urnas de 2022, Bolsonaro conseguiu em Santa Catarina sua quarta melhor votação no segundo turno da disputa. Fez 69,3% dos votos contra Lula (PT) ?o petista acabou eleito com 50,9% dos votos em todo país e deve tentar a reeleição no ano que vem.
Naquele pleito, o PL ainda conquistou o maior número de cadeiras na Assembleia Legislativa (11 deputados estaduais entre 40) e se tornou a sigla com mais representantes na bancada catarinense da Câmara ?6 deputados federais entre 16 assentos no total.
A gestão de Jorginho Mello seguiu fiel até aqui ao bolsonarismo, inclusive com alfinetadas frequentes no governo federal e no PT nas suas redes sociais.
"Esse compromisso ideológico com o bolsonarismo está muito ligado a uma espetacularização, falas públicas como ?aqui bandido não entra?. Do ponto de vista de ações, da materialidade deste alinhamento ideológico, estão a ampliação das escolas cívico-militares e o fim das cotas raciais nas universidades estaduais, por exemplo", diz Borba.
Ele se refere a um projeto de lei recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa e que veda a adoção de cotas e de políticas afirmativas por instituições públicas estaduais de ensino superior ou por aquelas que recebam algum recurso do governo catarinense.
A proposta é de um parlamentar do PL, Alex Brasil, e seguiu para avaliação do Executivo. Jorginho Mello não antecipou se irá sancionar ou vetar, mas tem repetido em entrevistas que "universidade não tem cor".
A Defensoria Pública da União já divulgou nota pública na qual sustenta que a medida é uma afronta a princípios fundamentais da Constituição Federal e "coloca em risco avanços históricos no reconhecimento de direitos de populações negras, indígenas e quilombolas".
Em 2023, após a derrota de Jair Bolsonaro ao Planalto, Santa Catarina se tornou uma espécie de bastião do bolsonarismo, não apenas para preservar ideias do grupo, mas também para abrigar aliados.
Naquele ano, o governo Jorginho Mello nomeou ex-integrantes do governo federal em sua administração, como o ex-presidente da Biblioteca Nacional Rafael Nogueira, e também deu guarida a uma das filhas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Letícia Firmo.
Desde então, ela ocupa um cargo comissionado em Brasília vinculado ao governo Jorginho Mello, de assistente de gabinete na Secretaria Executiva de Articulação Nacional.
Na Prefeitura de São José, cidade vizinha a Florianópolis, Silvinei Vasques, que foi diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal) sob Bolsonaro, atuou como secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação. Ele pediu exoneração em 16 de dezembro, ao ser condenado a mais de 24 anos de prisão por participação na trama golpista após as eleições de 2022.
Filho do ex-presidente Bolsonaro, Jair Renan também já ocupou um cargo comissionado em Santa Catarina. Em 2023, o senador então recém-eleito Jorge Seif (PL) abrigou Jair Renan no seu escritório em Balneário Camboriú.
Jair Renan depois se candidatou a vereador na cidade e acabou eleito com o maior número de votos do Legislativo local, nas eleições municipais de 2024.
No ano passado, o PL abocanhou 90 prefeituras entre 295 municípios catarinenses. Foi o melhor desempenho no estado entre todas as siglas. Depois figuram o MDB (70 prefeitos eleitos), PP (53) e PSD (41).