FOTO: Arquivo Elizabeth Alt Parente - Pé afetado pela Síndrome mão-pé-boca
O tempo seco típico das estações mais frias do ano traz com ele a preocupação das famílias com doenças respiratórias. Porém, algumas viroses também são comuns entre as crianças, especialmente as menores nessa época, como a doença mão-pé-boca, que pode causar surtos.

Segundo a pediatra Elizabeth Alt Parente, professora da Universidade Estácio de Sá no curso de Medicina, com experiência em Saúde Materno-Infantil e Gestão em Saúde, essa virose é causada pelo enterovírus, que também é o responsável por provocar, entre outras doenças, a poliomielite. “A doença mão-pé-boca é benigna, infecciosa, causada por um vírus bastante comum na infância. É responsável, muitas vezes, por quadros clínicos importantes. Embora benigna, é muito contagiosa. Temos que tomar muito cuidado para não formar surtos”, destaca a pediatra. Ela explica que, não são raras as ocorrências de febre aguda e manifestação de pintinhas, chamadas de doença exantemática.

“No bebê e na criança menor costuma ser mais difuso, como a rubéola faz. Na criança maior costuma pegar mão, pé e boca. Às vezes, você tem só boca afetada, às vezes, só mão e pé. Às vezes, difusa, depende”, comenta. Comumente, a síndrome mão-pé-boca é causada pelos vírus coxsackie A e o coxsackie B, entre outros, conforme destaca Elizabeth.

A jornalista Laís Machado há duas semanas recebeu uma mensagem da escola em que o filho dela de 4 anos estuda, na qual, até aquele momento, havia dois casos da doença registrados. “Falaram que era para observarmos nosso filho e, se tivesse algum estado febril, para não levar para escola, buscar ajuda médica, para saber se era a doença ou não. Ali fiquei em alerta, porque meu filho estuda em uma escola pequena, então é facilmente transmissível”, relata.

Com o recado, começaram as preocupações. “Já estava acompanhando notícias sobre surto de mão-pé-boca. Soube por  mães de outras escolas da ocorrência de casos. Eu sempre tive medo do meu filho pegar essa virose pelo desconforto mesmo, por ser muito fácil de ser transmitido, ainda mais criança que coloca de tudo na boca, compartilha brinquedo. É uma virose que dá ferida, pode atrapalhar a alimentar, a beber água” narra Laís.

Elizabeth ressalta que o contato com as mãos contaminadas é o que transmite de uma pessoa para outra. Desse modo, o hábito de lavar sempre as mãos é a principal orientação para evitar a doença. “Foi fazer algo é preciso lavar a mão. É o básico para evitar problemas. Ela tem uma transmissão muito fácil. Beijar alguém que está infectado, contato com secreções respiratórias, tosse, espirro, beber água contaminada, apertar a mão de alguém que está contaminado. Alimentos preparados por alguém que está infectado pelo vírus. Por isso, lavar a mão é sempre importante. Às vezes, nem sabe que está.”

Ainda no campo da higiene, um cuidado reforçado pela pediatra é que os familiares lavem bem as mãos antes e depois de trocar as fraldas de crianças pequenas. O vírus é transmitido, conforme Elizabeth, nos sete primeiros dias, depois o risco de contaminação fica bem menor. O tempo de incubação também é relativamente curto, de três a cinco dias. Por isso, geralmente, é pedido um afastamento de sete dias da escola.

Mesmo com todos os cuidados, o filho de Laís contraiu o vírus. "Foi a primeira vez que ele pegou o mão-pé-boca e está sendo bem difícil, porque nos primeiros dias a gente teve que fazer comida pastosa, oferecer líquido pra ele, insistir mesmo sabendo que ele estava tendo dificuldade. Mas o nosso maior medo era ter uma desidratação e a gente fez uso de remédio contra a dor e foi receitado um alérgico para ajudar no coceira." Como é uma virose para a qual ainda não há uma vacina, o medo de Laís é que o filho volte a ter outro quadro da síndrome.

Para a professora Elizabeth é importante orientar que, embora seja uma doença benigna, alguns casos mais graves podem levar a uma meningite, a uma miocardite, porque não é possível prever como a doença vai se manifestar em cada organismo. Logo, caso ocorra a suspeita de infecção por mão-pé-boca, os familiares devem levar a criança ao pediatra para o diagnóstico e devido acompanhamento. Ela deve ficar recolhida e isolada durante os sete dias.

Em relação a atuação das escolas, a professora Elizabeth Alt Parente diz que é preciso falar a respeito e informar os responsáveis. “É fundamental que as escolas estabeleçam parcerias com a saúde. Para que as crianças sejam veículos de informação e se sintam participantes desse processo, que se sintam ajudando a população.”

Outro ponto importante é que as feridas, de acordo com a médica, não deixam cicatrizes. “Fica muito feio, os pais ficam preocupados com as lesões na mão, na boca. Mas ela regride, em dias, semanas não tem mais nada.”

A Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora reforçou por meio de nota, que muitas viroses são mais disseminadas nesta época do ano, no outono/inverno, pelo maior confinamento em ambientes fechados. “A melhor forma de prevenção é manter sempre a lavagem das mãos e não levar as crianças que estão doentes para a escola. Ao sinal de sintomas, levar a criança ao médico é essencial. A transmissão se dá de maneira muito rápida. No geral: para aumentar a imunidade, são importantes a alimentação saudável, as vacinas em dia e o contato com a natureza.”

Hábitos que precisam ser mudados

Muitos pais acreditavam na necessidade de expor os filhos a doenças comuns na infância, como sarampo, caxumba e catapora, entre outras. Porém,a professora Elizabeth Alt Parente adverte que esse hábito, que já foi muito comum, não é aconselhável. Ela explica que os vírus mudam com o tempo. “Temos visto casos muito mais graves de doenças que eram consideradas simples doenças de crianças. Essa é uma noção que não é correta mais. Se os pais ou responsáveis puderem evitar a contaminação, é o melhor a fazer.”

Outra situação que precisa de atenção, segundo ela, é a atualização dos cartões de vacina. “ Infelizmente, para a síndrome mão-pé-boca, a gente ainda não tem vacina. Nós, pediatras, estamos muito preocupados com esse evento de pessoas que são anti vacinas que surgiu. Mães e pais deixaram de vacinar seus filhos adequadamente. Isso representa um risco enorme. Faz toda a diferença na vida das pessoas e mudou a história da medicina.”


Ela explica que as vacinas não são tomadas para evitar as doenças. Elas existem para que não ocorram formas graves. “Quando vacinamos todo mundo, faz com que a pessoa passe o vírus vacinal. Vacinação e imunização de rebanho não é feita com a transmissão da doença, é feita com a vacina.”

 

Arquivo Elizabeth Alt Parente - Pé afetado pela Síndrome mão-pé-boca

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Famílias


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