Saiba o que fazer caso tenha sua intimidade divulgada na internet

Mesmo com a lei que pune infrator em até dois anos de prisão, casos de mulheres com intimidade exposta têm acontecido com frequência no país

Lucas Soares
Repórter
29/03/2014

Nos últimos dias, têm circulado nas redes sociais em Juiz de Fora, um material pornográfico que seria, supostamente, de uma oficial da Polícia Militar (PM) da cidade. Em conteúdo de fotos e vídeos, a mulher teve sua privacidade exposta e sua intimidade divulgada para milhares de pessoas.

Mesmo com a Lei 12.737/2012, popularmente conhecida como "Lei Carolina Dieckmann", que alterou o Código Penal brasileiro e tornou crime que pode dar de seis meses a dois anos de reclusão e multa, casos como este, no entanto, não são isolados. No Brasil, recentemente, uma jovem de 18 anos que foi morta pelo ex-namorado após fotos da vítima semi-nua serem divulgadas na rede. Casos de depressão e suicídio da pessoa exposta também são recorrentes e têm repercussão na mídia.

Pensando nisso, o Portal ACESSA.com conversou a psicoterapeuta especializada em sexualidade feminina, Jussara Hadadd, para saber o que fazer, e se prevenir, para evitar esse tipo de situação. De acordo com Jussara, registrar um momento de intimidade entre um casal é, em grande parte, uma afirmação de ser resolvida sexualmente. "Em grande parte, as meninas, as moças, no intuito de seduzir o rapaz, de ter dele a preferência sobre outras moças, levando em conta a disputa acirrada nos dias atuais entre as mulheres por um parceiro, faz com que ela queira parecer ser mais bem resolvida sexualmente. Mais "descolada". Ela também, para conquistar e manter conquistado o rapaz, aceita demonstrar extrema confiança nele como prova de sentimento verdadeiro. Pronto, está feito. Os registros podem ser em vídeo ou em fotos, que no tempo da convivência, dependendo do caráter do rapaz, podem ser utilizados mesmo enquanto se relacionam para se vangloriarem com os amigos ou mais tarde, se a moça não o desejar mais, como forma de vingança", explica.

Para Jussara, esse tipo de situação acontece por um problema moral implícito na cultura brasileira. "Nossa sociedade, que se diz tão liberada sexualmente, não aceita e repudia saber que isso acontece em larga escala, o que as pessoas fazem em sua intimidade. Nas pessoas maduras, nos homens casados e de faixa etária alta, esta é uma pratica já quase habitual. Fazer sexo pelos chats, se exporem fisicamente, exporem suas reações sexuais e salvarem imagens e vídeos desses momentos, seja com profissionais do sexo ou mesmo com parceiras que também já preferem o sexo virtual. No caso dos jovens, a situação fica grave, escandalosa e passível de virar uma tragédia, dado a insegurança pertinente aos falsos valores passados por suas famílias, visto que até mesmos seus pais ou mães podem praticar o sexo virtual, e que colocam o sexo ainda como algo repugnante, pecaminoso e imoral", afirma.

 

A vida em sociedade

Entender a sociedade em que vivemos é o principal obstáculo para quem for vítima deste crime. Principalmente a tendência sensacionalista que o brasileiro dá para essa situação. "No fundo, todos sabemos no que pode dar uma exposição dessa natureza. Em tragédias, os seres humanos ainda sentem enorme prazer em ver o sofrimento alheio. Pouca coisa mudou no sentimento humano desde os massacres nas covas de leões, nas touradas. Também pelo mito que envolve o comportamento sexual do homem e sua concepção judaico-cristã que proíbe o sexo fora do casamento e antes da idade, julgada apropriada", comenta a especialista.

Por isso, segundo Jussara, a melhor coisa a se fazer numa situação dessas é manter a cabeça fria. "Não tem receita, mas não deve ser fácil. Imagino a dificuldade tendo como parâmetro minha profissão como psicoterapeuta, especializada em sexualidade feminina, mulher e terapeuta sexual. Particularmente, já tive que transpor muitas barreiras de preconceito. Perder possíveis amigos, ser julgada pessoalmente, advertida quando no exercício de palestrante "olha, quando você for falar, toma cuidado, temos algumas senhoras na plateia", antes de ser referência e de ser respeitada. E no caso das jovens que estão sendo expostas, é muito difícil prever uma maneira de reagir a inconsequência de seus atos. Eu sugiro, pensar que tudo passa. Meu conselho é tentar não se desesperar e lembrar que hoje tudo é muito rápido, efêmero, pueril e que em bem pouco tempo tudo será esquecido e melhor, lembrar que possivelmente, este fato que hoje é um escândalo, um clichê de vergonha, amanhã pode até virar exemplo de bom comportamento. Manter a cabeça fria pode ser a saída para sobreviver", assegura a psicoterapeuta.

Tratamento e providências

No entanto, a pessoa que teve sua intimidade exposta deve contar, principalmente, com o apoio da família. "Em primeiro lugar, se o desespero for muito grande, a vítima deve contar com o apoio da família, por mais repressora e hipócrita que seja, ali sempre haverá amor e compaixão. Se a moça resistir e os pais ajudarem, talvez sair de cena por uns tempos, viajar, trancar matricula, não ver suas redes sociais, fugir mesmo do flagrante, tentando evitar um caso de suicídio da vitima ou mesmo de assassinato do criminoso que divulgou as imagens. Tentar evitar a possível tragédia. Passado este primeiro momento mais traumatizante, partir para uma terapia, onde a analise das causas podem atenuar as consequências e diminuir o sofrimento e a vergonha. Aos pais, fica o conselho de orientar seus filhos a contarem sempre com eles em primeiro lugar, por pior que possa ser, e prometerem aos filhos que não vão reagir como loucos ao virem seus filhos em apuros dessa natureza. Muitas vezes, as pessoas jovens se matam, cometem desatinos com medo de fazer sofrer pai e mãe", diz.

Além disso, o assessor de comunicação do 27º Batalhão de Polícia Militar, capitão Jean Michel Amaral, dá dicas para que esse tipo de situação não aconteça. "A orientação que a gente dá é para que as pessoas tenham cuidado na manipulação dos seus documentos pessoais, principalmente na transmissão de dados na internet, que não é segura. É importante ter cuidado, já que o acesso às facilidades para produzir vídeos e fotos é grande, e por isso acabamos infringindo a lei. Se uma imagem de alguém acaba sendo veiculada sem a autorização da pessoa, é crime", orienta.

Em relação ao conteúdo sexual da suposta oficial da PM em Juiz de Fora, a Assessoria de Comunicação Organizacional da 4ª RPM informa que "o fato está sendo apurado e se na conclusão do procedimento for comprovada a prática de transgressão disciplinar as medidas cabíveis serão adotadas."

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