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Ricardo Corr?a
Rep?rter
27/04/06
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Para a maioria das pessoas, boa parte da primeira etapa da vida se passa dentro das salas de aula. ? sentado na cadeira em frente ao quadro que, quando crian?a, ou jovem, o homem obt?m conhecimentos que ir?o refletir futuramente em suas escolhas profissionais e no desenvolvimento de uma carreira que lhe dar? sustento. ? na escola que costumam nascer sonhos ou crescer esperan?as. Cada etapa tem uma caracter?stica especial e ? ainda mais especial quando trata-se de um rein?cio. Independente da idade. Neste caso, o que vale ? ser jovem na cabe?a, ter os sonhos ainda acesos e descobrir que a vida ainda pode tomar rumos diferentes.
Com Viviani Bellini Gouv?a foi assim. Ela tentou vestibular em 1983. Realizou o sonho em 2000, dezessete anos depois. Hoje, com 44 anos, est? terminando seu primeiro curso de p?s-gradua??o. Redefiniu a sua vida e n?o quer parar por a?: vai fazer mestrado ou outra faculdade.
Quando era adolescente, Viviani fez um curso t?cnico de tradutor/int?rprete. ?a bem na escola, desenvolveu-se nos estudos mas, em 1983, ent?o com 22 anos, sua vida mudou. A hoje graduada em Letras, casou-se, engravidou, teve filhos e decidiu parar de estudar, depois de tentar dois vestibulares: um para Educa??o F?sica e outro para Letras.
"Acho que o que a gente se prop?e a fazer, temos que fazer bem feito. Eu optei por parar de estudar para educar meus filhos e n?o me arrependo disso. Se eu continuasse, tinha duas op?es. Ou deixava em uma creche, que n?o era t?o boa como hoje, ou deixava com a empregada, o que n?o entendia como as melhores op?es", lembra Viviani Gouv?a.
Em 1996, quando sua filha j? estava com 13 anos, e o filho com 11, ela resolveu recome?ar. "A base da educa??o, que ? o mais dif?cil, eu j? havia conseguido dar a eles. Agora eles j? tinha como se defender", conta ela. O motivo para a volta aos estudos foi a no??o de que estava ficando para tr?s.
"Eu fiquei pensando. Ouvia meu marido e meus filhos faralem de Word, Excel, computador e tudo, e eu ficava pensando como poderia fazer para me atualizar. Pensava: 'eu tenho que fazer alguma coisa porque estou saindo desse mundo'. E decidi", lembra Viviani, que naquele ano decidiu fazer um curso t?cnico de processamento de dados. Formou-se dois anos depois mas n?o parou.
Na Universidade |
"Naquela ?poca ainda n?o tinham tantas faculdades assim. E foram 12 candidatos por vaga. Passei em quarto lugar e fiquei orgulhosa porque foi ?s custas do meu h?bito de ler, antigo, j? que eu n?o me preparei para o vestibular. Passei com os conhecimentos que consegui lendo revistas e livros", lembra Viviani Gouv?a.
Os filhos, lembra ela, adoeceram. Acostumados a ficar com a m?e, tiveram uma hepatite sem que fosse descoberta a fonte de contamina??o. O marido deu for?a, principalmente na ?poca do curso t?cnico. Depois achou estranho e n?o gostou de ela estudar ? noite, mas apoiou. E ela fez por onde.
"Eu sempre fiquei entre as melhores logo que entrei e hoje minha auto-estima fica l? em cima. Sinto-me extremamente orgulhosa. Em oito anos consegui o que tem gente que leva 30 anos e n?o consegue", ressalta Viviani, que formou-se em 2004 e entrou em um curso de p?s-gradua??o logo no ano seguinte. Agora ela est? no meio da monografia de conclus?o da Especializa??o em Globaliza??o, M?dia e Defici?ncia, e j? quer fazer Mestrado em Ling?istica, ou encarar o desafio de outra faculdade: agora no curso de Comunica??o Social. Tudo a ver com o trabalho de Viviani, atualmente secret?ria no setor de Comunica??o da Prefeitura de Juiz de Fora. E ela d? um conselho a quem pensa em seguir o mesmo caminho:
"As pessoas dizem: 'ah, eu queria tentar, eu queria voltar', e eu digo que n?o usem o verbo no passado porque ainda n?o passou. Que eles devem tentar. Eu dou a maior for?a e recomendo a todos a quem eu puder recomendar", avisa, ressaltando tamb?m o relacionamento com pessoas mais novas como mais uma das vantagens da retomada dos estudos.
"As minhas coleguinhas agora s?o todas novas. E ? uma rela??o muita boa. S?lida e amiga, de troca de experi?ncias mesmo. Eu pego um pouco da atualiza??o e recupero o tempo que perdi por ter ficado trancada em casa tanto tempo, e elas ganham com minha maturidade"
Pela qualidade de vida |
"Percebi que s? estava conversando sobre empregada, comida e comecei a me achar meio burra. Ent?o quis estudar para ampliar as coisas na cabe?a", conta Maril?cia, que deixou os estudos em 1966 e s? voltou j? neste novo s?culo. Ano passado ela se formou em um curso de Recursos Humanos, no qual ficou dois anos.
"Estava me sentindo muito sozinha e, ent?o fiz o vestibular, passei e comecei a fazer o curso. Mas tive algumas dificuldades no in?cio porque estava h? muito tempo sem estudar. Parei em 1966 pois naquela ?poca era diferente. Ent?o casei, formei fam?lia e agora fui estudar de novo", lembra Maril?cia, que logo se tornou representante de turma. De tudo o que viu na faculdade, diz o que mais te surpreendeu.
"A globaliza??o, essa corrida, de quando voc? pensa que est? bem em alguma coisa tudo j? mudou. Isso me surpreendeu muito", contou Maril?cia Lucheses, que adorou o contato com os jovens. "Jovens s?o mais corajosos. Eu tamb?m j? fui jovem, mas n?s nos esquecemos disso. Os jovens s?o mais atirados, medem menos as conseq??ncias. Isso ?s vezes ? bom ?s vezes ? ruim", diz Maril?cia que, ao contr?rio de Viviani, vai parar por um tempo novamente.
"Estudar ? muito bom mas fazer prova ? muito cansativo. Por enquanto vou parar de novo, mas valeu muito ? pena. Tudo vale muito ? pena nessa vida. Mas eu continuo dona de casa. Nunca deixei de ser dona de casa".
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