Reitora fala sobre o sistema de cotas


Em coletiva na UFJF, Margarida Salom?o defendeu a utiliza??o do sistema de cotas e chamou o vestibular de "processo de exclus?o social"

Ricardo Corr?a
Rep?rter
13/02/2006

D? tamb?m a sua opini?o! Voc? acha justo a ado??o de uma classifica??o diferenciada para negros e estudantes de escolas p?blicas?

Veja!

"A melhor forma de incluir um cidad?o no conv?vio da UFJF ? torn?-lo um aluno da UFJF". A frase parece ?bvia, mas tenta explicar todas as raz?es que a universidade alega ter para adotar o sistema de cotas no Vestibular 2006.

E, ap?s a realiza??o do primeiro exame com essa modifica??o, a reitora da institui??o, Margarida Salom?o, reuniu a imprensa para fazer um balan?o do processo e explicar, como nessa frase, os motivos e os pr?ximos passos que ser?o tomados para garantir a presen?a e a adapta??o desses alunos na universidade.

Margarida Salom?o fala dos auto-declarados negros e dos alunos provenientes de escolas p?blicas, que foram aprovados em faixas de pontua??o diferentes do vestibular. Sem querer generalizar, ela tentou elencar poss?veis raz?es para as diferen?as de notas. Em rela??o aos alunos de escolas p?blicas, o desempenho foi bem parecido com o dos postulantes ?s vagas normais do vestibular. J? os auto-declarados negros tiveram um desempenho mais baixo na realiza??o dos exames.

De acordo com a reitora, s?o v?rios os motivos que fazem com que isso aconte?a. Basta ver as salas de aula da UFJF para notar que os negros s?o poucos, em algumas turmas eles simplesmente n?o existem. A discrimina??o e as dificuldades vividas historicamente at? podem ter contribu?do, mas Margarida Salom?o aponta uma outra quest?o como poss?vel raz?o para as notas baixas desses candidatos.

Tamb?m remete ? hist?ria, mas ao preconceito velado, que fez com que muitos deixassem de dizer que s?o negros no decorrer dos tempos. Assim foi tamb?m na prova, segundo acredita Margarida. E dessa forma, o n?mero de postulantes ?s vagas destinadas a pessoas negras foi pequeno, reduzindo a concorr?ncia e abaixando as notas das provas. Para provar que isso acontece e sempre aconteceu e, exatamente assim, defender a utiliza??o do sistema de cotas, Margarida foi buscar exemplos antigos.

"Foi um gesto pol?tico da UFJF. O Brasil ? um pa?s em que o branqueamento foi uma pol?tica de estado. Vejam os exemplos de grandes negros que tivemos na literatura. Machado de Assis. Algu?m o reconhece como negro? Ou Cruz e Souza. Auto-declarar-se negro no Brasil sempre foi negativo. Ent?o isso agora ? uma revers?o. Um gesto pol?tico importante que a universidade est? fazendo", explicou Margarida, que diz n?o ver outra forma para que o negro mude essa situa??o no momento.


Em rela??o ? diferen?a das notas, Margarida demonstra que, em primeira inst?ncia, parece ser uma prova de que o sistema ? necess?rio. "Isso mostra que para os negros, que podemos observar que s?o mais pobres, faz diferen?a o sistema de cotas. Aparentemente, para os estudantes de escola p?blica n?o", disse a reitora, lembrando, no entanto, que esse foi apenas o primeiro teste do sistema e que os candidatos aprovados ainda n?o s?o conhecidos. S? depois se poder? fazer uma an?lise mais completa.

"? uma avalia??o feita nesse momento, mas ainda precisamos conhec?-los melhor, quando fizerem a matr?cula", disse a reitora.

Escola p?blica X escola particular

Margarida Salom?o ressaltou o fato de que as listas de aprovados da faixa destinada a escolas p?blicas e a do vestibular normal, sem cotas, ficou muito parecida.

"Houve uma converg?ncia alt?ssima. H? uma fort?ssima compatibilidade entre escolas p?blicas e particulares. Mas devemos ter calma com essa an?lise, pois podemos ter pegado apenas o topo das escolas p?blicas", disse a reitora, que lembrou o fato de que apenas 30% das vagas foram reservadas para este tipo de aluno. No futuro devem ser 50%. Isso, segundo ela, pode ter feito com que a concorr?ncia aumentasse, aumentando a sele??o dos candidatos. Existe tamb?m uma outra quest?o, que ? relativo ? caracter?stica das escolas p?blicas onde estudaram os candidatos. Col?gios como o CTU ou o Col?gio de Aplica??o Jo?o XXIII, ligados ? UFJF, sempre foram reconhecidos por sua qualidade de ensino, e no entanto seus candidatos se incluem na categoria escolas p?blicas.

Outra quest?o observada na lista, mas que a reitora acha perfeitamente normal, relaciona-se com o melhor desempenho dos candidatos do Pism. "Isso ? n?tido. O Pism sempre traz os melhores resultados. At? porque existe uma sele??o natural. S? se escreve no Pism III aquele candidato que est? bem nas provas dos anos anteriores. Ent?o s? ficam os melhores alunos. E o Pism ? uma cobran?a em presta??o. ? mais confort?vel. S?o menos quest?es, se faz com mais calma", lembrou a reitora.

Em defesa das cotas

Embora reconhe?a que ? cedo para se avaliar a efic?cia da ado??o de cotas, Margarida Salom?o defende sua necessidade e n?o deixa de dar exemplos de sua utiliza??o. Foi assim na universidade em que estudou, na Calif?rnia. L?, 51% das vagas s?o destinadas aos que se chamam "n?o brancos", categoria que inclui latinos, negros e orientais, por exemplo. O objetivo, segundo a reitoria, ? diversificar a forma??o de suas elites. E ? mais ou menos isso o que a UFJF quer, segundo Margarida.

"? aumentar a inclus?o e ampliar o espectro de atendimento da UFJF. A diversidade ? melhor para o aprendizado. Isso pode espantar os pedagogos mais tradicionais e ? dif?cil tirar isso da cabe?a das pessoas porque n?o ? t?cnica, ? cren?a e, por isso, ? um gesto corajoso", explicou a reitora.

Se ? justo ou n?o, Margarida indiretamente respondeu. O vestibular, por si s?, n?o parece ser justo para ela. N?o avalia os melhores, e sim seleciona quem entrar? ou n?o. "? um processo de discrimina??o social. N?o ? para saber quem sabe mais. ? bobagem reduzir a um processo pedag?gico. Vestibular ? um processo social e por isso cria tantas discuss?es. Todos querem ter seus posicionamentos. Mas ? um dos processos mais tristes, por ser de exclus?o. N?o tenho nenhuma alegria em falar de vestibular", declarou.

Nova clientela

"A UFJF precisa se preparar para receber essa nova clientela". Dessa forma, a reitora avisa como ser? o trabalho, a partir de agora, para integrar os alunos que foram aprovados e que possam estar distantes dos restantes no quesito desempenho. Para isso, a reitora aposta nos estudos e em um projeto desenvolvido pela Pro-reitoria de Gradua??o (Prograd).

"O importante ? tornar esse indiv?duo um cidad??o brasileiro. A? ? l?gico que teremos processos de apoio. N?o vamos diversific?-los, s?o os processos de apoio pedag?cio que j? existiam. At? porque, o n?mero de cotistas ? muito pequeno ainda. Mas claro que temos que nos preparar porque a Universidade tem o compromisso de atender a todos os seus alunos", disse a reitora, que n?o descartou a possibilidade de oferecimento de um n?mero maior de bolsas de aux?lio acad?micas, para os novos alunos.

"? poss?vel, mas como ? um pequeno n?mero, temos que avaliar primeiro. Eles v?o pedir e, em rela??o aos alunos de escolas p?blicas, as notas foram t?o pr?ximas que eu n?o sei se est?o t?o apartados assim. E j? h? na UFJF uma pol?tica de apoio".

Este ano a UFJF n?o divulgou o nome dos alunos aprovados, o que a reitora da UFJF, Margarida Salom?o, sempre achou mais justo. ? uma forma, segundo ela, de evitar constrangimentos e preservar os nomes das pessoas aprovadas e reprovadas no vestibular. No caso dos estudantes cotistas, que poderiam vir a sofrer algum tipo de discrimina??o, isso fica ainda mais claro.

"Eu sempre fui contra divulgar os nomes. Quem passa faz o que quer. Pode mandar o nome para coluna social, convidar para a festa... Por outro lado, os que n?o passam devem ser preservados. At? porque a maior parte dos que ficam de fora possuem todas as condi?es de ingressar em uma universidade", explicou a reitora.


Voc? acha justo a utiliza??o de classifica?es separadas para negros e estudantes de escolas p?blicas?
      N?o. Todos deveriam disputar as mesmas vagas, sendo aprovados os que fizerem mais pontos
      Sim, para promover a inclus?o social de negros e alunos de escolas p?blicas
      Sim, mas s? para os negros, que sempre foram discriminados
      Sim, mas s? para os estudantes de escolas p?blicas, que possuem condi??o financeira inferior
   

ATENÇÃO: o resultado desta enquete não tem valor de amostragem científica e se refere apenas a um grupo de visitantes do Portal ACESSA.com.


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