Entrevistas

Oh! Linda - O primeiro palha?o gay do Brasil

Ludmila Gusman
13/08/02

Mauricio Jos? de Santana, 37 anos, ? produtor cultural, ator, core?grafo, maquiador, cozinheiro e nas horas vagas encanta o p?blico com o personagem Oh! Linda - o primeiro palha?o Gay do Brasil. Este ano, ele vir? a Juiz de Fora, nos dias 16 e 17 de agosto, para o Encontro GLS do Partido dos Trabalhadores (PT). No s?bado, pela manh?, Maur?cio Santana estar? no Cal?ad?o da Rua Halfeld fantasiado de seu personagem. Em entrevista ao JFService, ele conta um pouco de seu trabalho e sua luta como ativista homossexual nas paradas Gays do Recife. Portador do v?rus HIV h? 13 anos, o personagem Oh! Linda revela, com exclusividade, sua vida de for?a e testemunhos.

JFService - De onde surgiu a id?ia de criar o palha?o gay?
Oh! Linda - No ano de 1997, ap?s um momento muito dif?cil de minha vida. Estava deprimido, sofri muito preconceito por ser soropositivo, por ser homossexual. Fiquei um pouco perdido, pois tudo parecia ser pecado: namorar, ser homossexual, ser artista, ser portador do v?rus... Aconselhado por meu psic?logo criei for?as para depois de v?rias terapias ter a id?ia de criar o pol?mico personagem. A id?ia surgiu no bloco de carnaval Galo da Madrugada de Recife, considerado o maior bloco de rua do mundo. Foi maravilhoso, estava voltando a ser artista e precisava chamar aten??o para realizar o sonho da inf?ncia de ser um dia um artista famoso. Consegui depertar a aten??o do p?blico e o Palha?o Gay se tornou um objetivo pol?tico social, al?m de um meio que encontrei para ajudar a comunidade homossexual e os portadores do HIV. Hoje fa?o shows e realizo palestras pelo pa?s dando o meu testemunho.

JFService - Como ? o trabalho do Palha?o Gay?
Oh! Linda - O palha?o gay j? ajudou muitas pessoas com seus depoimentos em r?dios, TV, jornais... Os depoimentos t?m uma carga emocional muito forte, eu conto minha vida e Deus faz o restante. Acho que tenho uma miss?o e fui chamado para ser o que sou para levar exemplo e for?a a quem n?o acredita que mesmo com tantos preconceitos a gente pode ser feliz. Acredito que o Maur?cio atua muito mais que o palha?o gay. Eu sempre gosto de visitar pessoas e dar minha total contribui??o na medida do poss?vel. Recebo e-mails de pessoas querendo me conhecer, isso ? muito importante para mim tamb?m. Agora quero trabalhar no sul-sudeste do Brasil, pois j? realizei v?rios trabalhos em Recife, Jo?o Pessoa, Sergipe, Salvador, Macei? e em v?rios estados do Brasil. Estou sempre contribuindo com os meus depoimentos junto a algumas coordena?es DST/AIDS tamb?m. Acredito que assim estou fazendo minha parte.

JFService - Como s?o esses depoimentos?
Oh! Linda - Sou portador h? 13 anos. J? fui chamado para dar meus depoimentos em confer?ncias de sa?de, semin?rios, f?runs, para comunidades homossexuais e soropositivas, al?m de comunidades de baixa renda, escolas para grupos de adolescentes, feiras de ci?ncias, prost?bulos. Um trabalho que, no in?cio, era muito dolorido, pois rolava muita emo??o de minha parte e do p?blico. Agora estou mais acostumado, mas sempre as pessoas se emocionam muito quando estou falando. Enfrentei todo preconceito. Assumi a Aids desde o in?cio quando fui aos jornais de Recife e disse para todos que tinha o v?rus. Reivindiquei muitas coisas na sa?de p?blica para beneficiar os portadores do HIV na regi?e Nordeste. No in?cio, os m?dicos e a m?dia tinham medo de mim. Nos depoimentos conto tudo isso. Como ? minha vida, como foi dif?cil passar por tudo.

JFService - E como ? o seu trabalho como ativista homossexual?
Oh!Linda - Meu primeiro ato p?blico aconteceu em 1999, na praia de Boa Viagem. A partir da? n?o parei mais, continuei fazendo em 2000, 2001, mas nunca pensei numa parada gay em Recife. As coisas foram acontecendo naturalmente. Dia 23 de mar?o de 2002, no Semin?rio do Grupo Le?es do Norte, foi colocada uma proposta por todas as ONG?s, de organizar a Parada Gay de Recife. Os movimentos homossexuais de Recife, ao meu ver, eram desacreditados e composto somente por homossexuais assumidos e bastante discriminados. Depois de muita luta, hoje possuimos o apoio de diversas classes sociais e profissionais, de pol?ticos, representantes de todas as esferas do poder. O grupo organizador se re?ne toda a semana. Este ano mesmo fizemos uma passeata em junho.

JFService - Mesmo com os preconceitos, voc? se diz uma pessoa forte e batalhadora. De onde vem essa for?a?
Oh! Linda - Eu estou sempre com muita vontade de viver, estou sempre disposto a aprender e viver cada dia o seu dia. Sou um pouco comunista crist?o, uma pessoa comunicativa e sem preconceito. Sou um pessoa vitoriosa, pois sei que enfrentei v?rios preconceitos por ser pobre, homossexual, portador do HIV, mas acredito na constru??o de uma sociedade menos preconceituosa. Sei perdoar todos que fazem o mau, acredito que Jesus ? o modelo perfeito. N?o consigo ser igual a Ele, mas me sinto muito bem tendo Ele como meu amigo n?mero 1. Sou feliz porque tento levar ?s pessoas um pouco sobre a for?a que Jesus me transmite.

JFService - O que o Miss Brasil Gay representa para voc??
Oh! Linda - O Miss Brasil Gay ? o mais antigo evento realizado pela comunidade gay do Brasil. Acho que a coisa vai al?m das festividades. O pessoal se re?ne para trocar informa?es sobre a comunidade GLBT do Brasil, al?m de namorar, fazer novas amizades, dar visibilidade ao movimento, para que a sociedade veja o potencial que temos. O Concurso promove tamb?m varios artistas do pa?s. ? vitrine para os artistas, cabelereiros e estilistas. A primeira vez que fui a Juiz de Fora para o Miss Brasil Gay foi em 1997, quando surgiu a id?ia de criar meu personagem. Gostei muito da cidade e sempre que posso retorno. ? um evento aben?oado por Deus. Parab?ns aos homossexuais que ajudaram a construir este evento maravilhoso, ao Chiquinho, Orlando Almeida, Oswaldo Braga, enfim todos e principalmente ? popula??o da cidade que deu cr?dito a nossa comunidade.

JFService - E os projetos? Quais s?o?
Oh! Linda - Tenho muitos projetos, principalmente aqueles voltados para as quest?es sociais como as comunidades soropositivas e homossexuais. Atualmente estou morando no Rio de Janeiro, tentando articular com as ONG?s novos projetos. Tenho sido muito bem aceito por todos, estou com muita f? de que o Rio ser? o in?cio de uma nova etapa na minha vida, claro com ajuda de Deus.


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