Juliano Nery Juliano Nery 6/5/2011

Próxima estação

Foto da praça da EstaçãoEnquanto no Rio de Janeiro, discute-se acerca de "bondes sem freio" e "trens-bala" no futebol, Juiz de Fora parece estar um passo adiante em trilhos mais denotativos, com a iniciativa de revitalização da Praça da Estação. E já não era sem tempo, como todo projeto que envolve o patrimônio histórico de nossa cidade. O que se espera na verdade é que os vagões do comboio cultural nunca fiquem parados e que sempre possam chegar a uma próxima estação. Neste sentido, o projeto da municipalidade, apoiado pela empresa férrea que atua por aqui e amparado pela Lei Rouanet, demonstra um bom exemplo do que acontece, quando há a sinergia entre essas esferas... Oxalá, tenhamos notícias de outras venturosas parcerias deste porte.

No caso específico da Praça da Estação, há muito que comemorar. A história da cidade teve seu berço por esses trilhos. A formação municipal desenvolveu-se por ali e, se hoje Juiz de Fora é uma das mais importantes cidades do estado, o vértice esteve naquela praça, no que atualmente corresponde às imediações da avenida Francisco Bernardino, da avenida Brasil, da rua Marechal Deodoro e da rua Halfeld. Triste verificar que o glamour impresso nas frases deste parágrafo não encontre eco com a imagem do local nas últimas décadas, que retrata o descaso e a falta de projeto. E que possui no cardápio de consequências, o asilo para pequenos delitos, crimes e depredação em que, infelizmente, veio a se transformar.

Fico feliz em saber que o município ganhará um novo espaço turístico. Estranho dizer "novo" para algo tão antigo e com tanta bagagem. Mas, uma nova roupagem, um banho com sabonete e uma escovada nos dentes darão outro brilho para o local, tornando-o praticamente novo. A praça João Penido — da Estação para os íntimos — merece este "tapa" no visual. E a ideia de fazer um grande corredor de cultura, unindo as forças com a Praça Antônio Carlos e com o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, parece-me bastante oportuna e bem sacada. Quem sabe, desta forma, o ambiente histórico prevaleça ao da violência. Daí, novas casas comerciais, unidas as já existentes, mudarão o perfil das imediações e o movimento reaparecerá. Com ele, a segurança pública também deverá ser ampliada e, com isso, a antiga estação ferroviária voltará a se tornar atrativa e mais frequentada.

Daí, quem sabe, se tornará possível observar a felicidade de crianças nos fins de semana, correndo pela praça, buffet de comida japonesa nos cardápios e cafés requintados, com gente mirando a estação e os passantes. Talvez, esperando, futuramente, uma próxima sessão de cinema, em um revitalizado Cine São Luiz, por que não?... Tudo isso, convivendo com a tradição e tudo que ela agregou ao longo do tempo. Mas com as feições de quem partiu em busca de um novo embarque, de uma nova estação.

O mesmo vale para outros pontos que podem vir a se tornar turísticos em Juiz de Fora e que, também, carregam sua bagagem. Vale para o Parque da Lajinha, para o Morro do Cristo, para a Igreja Melquita e para o Mirante da BR-040. A solução, para tanto, parece-me bem próxima do que vem sendo elaborado para a Praça da Estação. Os cidadãos e o município merecem este tipo de melhoria. É sinal de respeito com a trajetória da maior cidade da Zona da Mata.

Juliano Nery, como bom mineiro, espera não perder o trem do desenvolvimento e está sempre em busca de novas iniciativas.


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.