Juliano Nery Juliano Nery 27/5/2011

Brincadeira tem limite

MontagemSempre liguei minha personalidade ao humor e à abstração. Talvez por isso, tenha recorrido, desde cedo, a inventar histórias e, inclusive, criando os textos que ocupam páginas de livros e jornais, além dos portais eletrônicos, como é o caso do Portal ACESSA.com. Sou a favor da invencionice e das mentiras bem contadas, aquelas que bem poderiam ter sido verdades ou, simplesmente, "verdades que não aconteceram". No entanto, estarrecido fiquei esta semana ao ler sobre os altos índices de trotes recebidos pelo Batalhão de Corpo de Bombeiros Militar de Juiz de Fora. Nada mais, nada menos de 60% das 165 mil ligações recebidas no ano passado, ou seja, 99 mil ligações eram trotes. Se preferirem, podemos chamar de falta do que fazer.

Conforme apurado pela valorosa corporação, a maioria destas ocorrências foi iniciada por crianças, que deveriam estar ocupadas em atividades mais produtiva, em vez de ficar oferecendo pistas falsas para quem trabalha em prol do salvamento de vidas. É aquela estranha e paradoxal relação: enquanto uns vivem de brincadeiras, outros levam a vida a sério. E, pelo visto, não são casos de exceção. Mais da metade das notificações são trotes e apenas 10% são atendimentos que necessitam da ação dos bombeiros. E estes mais de 16 mil telefonemas, muitas vezes, não são atendidos com a agilidade necessária porque tem alguém na linha, ocupando o ramal de uma ocorrência que realmente precisa da corporação. O pior é que não acontece só com o telefone 193. Com o 190 da Polícia Militar, a situação deve ser bem parecida.

Como resolver uma situação deste tipo, então? – Confio na educação das crianças, afinal, "é de pequeno que se torce o pepino", como quer a sabedoria popular. Acredito mais nisso, do que no "pau que nasce torto nunca se endireita". Noções de cidadania parece ser um primeiro passo, que deve ser conduzido, primeiramente, em casa e complementado na escola. E ocupar essas crianças com atividades produtivas e, aí entra até a parte do Estado, oferecendo, por exemplo, escola em tempo integral, atividades extraturno escolar, como esporte e cursos livres, parece-me interessante. Quem sabe até realizar uma visita ao próprio Corpo de Bombeiros, para mostrar como são os procedimentos para se atender a uma demanda e o quão negativamente pode implicar um trote. Ou seja, trazer este jovem à participação, que, caso permaneça alienado e sem nada para fazer, não vai hesitar em pegar o telefone. "Cabeça vazia, oficina do diabo", complementa, mais uma vez, a sabedoria popular.

Portanto, principalmente os pais, poderiam tentar se ocupar mais das crianças, já que, de acordo com informações da própria corporação, o número de trotes aumenta nos finais de semana, horários em que os pais, geralmente, estão com os filhos. Em vez de ir para o bar tomar uma cerveja com os amigos ou ir para o cabeleireiro e passar a tarde por lá, seja interessante dar um pouco de conversa à garotada. Às vezes, essas brincadeiras são só para chamar a atenção...

Vamos preservar o lado lúdico e as invencionices das crianças, mas, chamando os meninos e as meninas à responsabilidade dos seus atos. Existem brincadeiras e brincadeiras. Algumas bacanas, outras muito sem graça. E quem começa pelo segundo caminho, torna-se, possivelmente, adulto sem as devidas noções de cidadania. Lembre-se do primeiro ditado popular do terceiro parágrafo, aquele do pepino.

Juliano Nery gosta de ser engraçadinho e, assim como as crianças, só quer saber de chamar a atenção.

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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.


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