A vida em duas rodas
"Vital andava a pé e achava que assim estava mal/ De um ônibus pro outro, aquilo para ele era o fim...", enunciavam os versos oitentistas do líder dos Paralamas do Sucesso, Herbert Viana, para a relação da juventude com as motocicletas. O "sonho de metal", que vinha acompanhado do conselho do seu pai, dando conta de que as "máquinas" eram perigosas, passou batido para Vital, que comprou "a sua moto e passou a se sentir total". E quantos "Vitais e suas motos", naquela tal "união feliz", passaram, nas últimas três décadas, embalados ou não pela canção, da banda que toca hoje, inclusive, na cidade... O que me chamou a atenção para o veículo de duas rodas esta semana, porém, é outro motivo: o alarmante número de acidentes envolvendo motocicletas em Juiz de Fora, neste início de ano. 153% a mais do que no mesmo período do ano passado. Ao todo, 119 acidentes foram registrados pela Polícia Militar, com 76 vítimas, número alarmante, já que em 2010, a PM contabilizava 47 acidentes e 36 vítimas nos mesmos meses.
Aproveitando minha curta experiência como vendedor de consórcios de motocicletas na juventude, tenho motivos para não condenar o veículo, que é mais barato, econômico e contribui para desafogar o trânsito das grandes cidades. E olha que isso não é pouco, pensando no momento em que o país vive, de combustíveis com preços altos e de trânsito caótico. No entanto, a exposição do piloto de motocicleta aos impactos de uma batida ou de uma derrapagem, quase sempre provocam ferimentos dolorosos, quando não, uma fatalidade. Ainda mais porque, de acordo com os dados da PM, o grande número de registros ocorreu, principalmente, por motivo de imprudência e de desrespeito às leis de trânsito.
Estranho pensar em imprudência, já que existem tantas campanhas de conscientização em relação às normas de trânsito e à utilização de capacete. Isso sem contar as multas por infração. No entanto, como primeiro veículo utilizado pela juventude, geralmente, a motocicleta chega investida de um aparato lúdico com suas possibilidades. Tanto de largar os vales transportes e não andar mais de busão, quanto o de impressionar aquela moça lá da rua. E tem aqueles que querem impressionar os amigos com a perícia nas manobras em duas rodas e, por vezes, até com uma só. Ou mesmo, sem as mãos. E é aí que mora o perigo! Ninguém quer ser chamado de banana. E acaba entrando na onda. No fim das contas, são apenas jovens que só querem ser legais. Mas ninguém precisa se dar mal para ser legal, ok?
Devemos nos lembrar que a moto pode ser uma excelente forma de congregação, como bem mostram os inúmeros moto-clubes e os eventos que organizam Brasil afora. Como não mencionar os motoboys e suas entregas que aquecem nossos lares com pizza quente e sanduíches nas noites chuvosas? É bem verdade que já presenciei inúmeras imprudências nas ruas e avenidas por onde passam e aconselho a tomar bastante cuidado antes de atravessar na frente de um motoqueiro, mesmo que o sinal esteja fechado para ele. Vai que ele está com pressa...
Utilizando-me de outra composição de nossa rica MPB, recorro aos versos de Gonzaguinha, "fé na vida, fé no homem, fé no que virá, vamos lá fazer o que será...". Eu também acredito na rapaziada. Basta tomar cuidado. Bastante cuidado. E para quem vai ao show dos Paralamas hoje à noite, fica o conselho: deixe a moto ou o carro em casa e vá de táxi.
Juliano Nery concorda com o parecer do pai do Vital quanto às motos. Será que ele está envelhecendo?
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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.
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