Come?o de ano e os velhos novos rituais de re-sonhar e re-desejar. No cinema brasileiro, onde muito se deve querer e ainda mais se fazer, n?o deixa de ser diferente. Como ponto de partida a possibilidade de entrada em cartaz de aproximadamente 60 filmes brasileiros, o que a princ?pio n?o ? um n?mero desanimador. Parte deles (j? que falamos de rituais) realizando uma trajet?ria bem conhecida: negocia?es trabalhosas com patrocinadores, produ?es se arrastando por meses ou anos e a peregrina??o inevit?vel pelos festivais de cinema, para a? sim, como fruto de estrat?gia bem articulada ganhar as salas convencionais.
Com exibi??o distribu?da ao longo do ano a Globo Filmes produz ou co-produz aproximadamente 11 filmes, dos quais dois lan?ados em janeiro. Para mar?o, prev?-se a estr?ia de "A M?quina' (foto acima), de Jo?o Falc?o, filme que lotou as sess?es no Primeiro Plano - Festival de Cinema de Juiz de Fora, no ano passado. Outro da Globo sem data certa para estrear ? a cinebiografia "Zuzu Angel", de S?rgio Rezende, que teve loca?es na cidade.
Quem n?o quiser perder o impactante "Soy Cuba - O Mamute Siberiano", document?rio de Vicente Ferraz, ? melhor correr para a Mostra de Tiradentes. O filme recupera o cl?ssico feito em Cuba no in?cio dos anos 60. Feito originalmente para revelar as benesses do socialismo para a sociedade cubana e servir de propaganda ? Revolu??o, o ?pico simplesmente fracassou ficando apenas uma semana em cartaz. O diretor brasileiro investiga as raz?es deste fracasso.
Tamb?m em Tiradentes estar? o t?o esperado "Crime delicado", do intrigante Beto Brant. Este, sem d?vida, uma estr?ia mais que aguardada. Um cr?tico teatral, um pintor e uma jovem est?o no centro de uma narrativa que explora as tens?es entre arte e cria??o no teatro, na pintura e no pr?prio cinema. O espectador n?o sabe se o crime do t?tulo, um estupro, ocorreu de fato, por?m a cena da d?vida fica estampada na tela, sem cortes. Imperd?vel!
O veterano Ruy Guerra (foto ao lado) volta com o denso "O Veneno da Madrugada", t?tulo que o romance "La mala hora", de Gabriel Garcia M?rquez ganhou no Brasil. Numa pequena cidade surgem misteriosos bilhetes, reveladores de negociatas, infidelidades e filhos bastardos, que colocam seus cidad?os mais eminentes em maus len??is. Qualquer um pode ser a pr?xima v?tima. Qualquer um pode ser suspeito.
Dois estreantes em longas vindos de trajet?rias bem distintas. Roberto Bontempo dirige "Depois daquele baile", um filme terno e consolador, que agrada ao p?blico, carente de valores positivos como a lealdade e a amizade sem restri?es. J? o baiano Edgard Navarro, longe de ser um novato em cinema, traz "Eu me lembro", que faz um balan?o da trajet?ria tumultuada de uma rebeldia an?rquica marcante na segunda metade dos anos 60, o chamado Cinema Marginal.
De Bras?lia, surge o questionador "A Concep??o", de Jos? Eduardo Belmonte, que afirmou que seu filme seria "um pequeno passo para retomar a utopia da cidade e o sonho de um Pa?s melhor". A hist?ria de um grupo de jovens perdidos mistura sexo, drogas e rock.
Quem curte, acompanha ou incentiva o cinema brasileiro (ou faz as tr?s coisas ao mesmo tempo) deve ficar atento ao lan?amento desses filmes na cidade. Como ? poss?vel que alguns deles nem cheguem por aqui, o jeito ? aproveitar aquela viagem ao Rio ou a S?o Paulo para conferir.
Nos temas e formas aguardados para este ano, pode-se apresentar este como um card?pio bem saboroso de que o cin?filo pode se servir. Algumas varia?es de tempero s?o poss?veis (e ? desej?vel que assim o seja), mas a? j? ? uma quest?o de paladar.
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