Um sucesso! N?o h? outra palavra para definir a 4? edi??o do Primeiro Plano - Festival de Cinema de Juiz de Fora. O Festival consolidou-se este ano como um evento que Juiz de Fora aprendeu a ver como seu. E continua sendo essa a premissa para qualquer evento cultural que pretenda dar certo e cumprir sua fun??o na propaga??o da cultura: dialogar com a cidade de modo que ela se veja identificada ali. O Primeiro Plano conseguiu finalmente chegar a isto; e para o ano que vem a expectativa ? ainda melhor.
Foram seis dias em que a cidade se mobilizou e se encontrou nas salas do Palace, Alameda e no Parque Halfeld. Merece destaque o excelente n?mero de pessoas assistindo aos filmes no Parque Halfeld, tanto em Paulinho da Viola - Meu Tempo ? Hoje, no s?bado, dia 12, como em Bendito Fruto, domingo, dia 13. Nas sess?es competitivas, o p?blico lotou a sala 1 do Espa?o Unibanco Palace, principalmente na quinta-feira, dia 10 de novembro. Al?m disso, a boa acolhida tanto de realizadores como de p?blico ? Mostra Audiovisual de Juiz de Fora mostrou a for?a do atual cinema juizforano, na tela, e da galera que vem por a?, na plat?ia.
Mas o grande destaque de p?blico foram as pr?-estr?ias de longas-metragens. A M?quina, de Jo?o Falc?o, e ?dique?, de Felipe Joffily, que veio a Juiz de Fora e saiu animado com a recep??o de seu filme por aqui, foram os mais comentados. De excelente texto e altos flertes com a est?tica televisiva, lembrando imediatamente o cinema de Guel Arraes, o filme de Jo?o Falc?o empolgou os convidados da segunda-feira, dia 07 de novembro, e teve sess?o lotada na repeti??o no Alameda, no dia seguinte.
O mesmo aconteceu com ?dique?, tamb?m com sala cheia nos dias 11 e 12 de novembro. Quanto a este, trata-se de um filme pol?mico sobre as perip?cias de um grupo de adolescentes da classe m?dia carioca durante uma noite em que decidem sequestrar um amigo rico para conseguirem dinheiro para viajar no Carnaval. ? la Quentin Tarantino, o filme vai revelando a s?rie de arma?es dos rapazes, que, num final no m?nimo problem?tico, se d?o bem e conseguem o dinheiro da viagem.
Seja como for, o sucesso dos dois filmes expressa bem o momento por que passa o cinema brasileiro: o di?logo com a TV ou com o cinema americano como forma mais f?cil de cativar o p?blico, com enredos, em ambos os casos, menos complexos e mais envolventes. Destino diferente teve Cafun?. Embora com defeitos, o filme merecia uma melhor aten??o, sobretudo por seu trabalho com o tempo. ?s vezes tudo passa r?pido demais, como quando o casal formado por Priscila Assum e L?cio Andrey tem um filho e se muda. Outras vezes, vemos a cena quase que em tempo real, como no medo vivido pela m?e da protagonista no sinal fechado durante a madrugada, plano que dura o que o sinal leva para abrir. Al?m disso, h? o flashback do ep?logo, mais l?rico que explicativo, ap?s um final mais aberto que did?tico.
Vale destacar tamb?m um outro cinema brasileiro que vem mostrando um vigor impressionante nos ?ltimos anos, a saber: o document?rio. Embora n?o tenha sido poss?vel trazer Soy Cuba, de Vicente Ferraz, vencedor do pr?mio de melhor filme pela cr?tica no Festival de Gramado este ano, desbancando a fic??o e grande produ??o Gaijin 2, foram exibidos dois excelentes document?rios: Mission?rios, do juizforano Cleisson Vidal, em co-autoria com Andr?a Prates, e Dom Helder - O Santo Rebelde, de ?rika Bauer. Embora sem tanta experimenta??o, os dois filmes s?o exemplares em deixar o principal - as vidas de seus "personagens", Dom Helder e os presidi?rios que formaram a banda Mission?rios -, vir ? tona e tomar o centro da aten??o.
Dos curtas, cabe ressaltar sobretudo a variedade de temas e est?ticas. Basta considerar alguns dos premiados para se ter uma id?ia disso. Tomemos dois extremos como Sequestramos Augusto C?sar, que deu ? dupla Eduardo Moraes e Lauro Montana o pr?mio de melhor ator, e Homens Pequenos no Ocaso Projetam Grandes Sombras, melhor fotografia e dire??o de arte. O primeiro ? uma com?dia escrachada, contando a hist?ria do seq?estro simulado por dois amigos, o pobret?o e malandro Marc?o, sequestrador, e o playboy Augusto C?sar, sequestrado. O mais interessante n?o ?, contudo, a tem?tica do filme, que, por si s?, poderia redundar num filme absolutamente fraco.
O que merece nota ? o modo como o jovem diretor Guilherme Campos conseguiu misturar a est?tica de um Guy Ritchie, na c?mera e no encadeamento das situa?es, com a orienta??o deliberadamente tosca e escrachada de um Hermes e Renato. O pastiche tem um resultado hilariante na tela, sem cair na imita??o esquem?tica, como a que encontramos no tarantinesco Fui!!!, de Guilherme Fi?za. No outro extremo encontramos Homens Pequenos..., que deu o pr?mio de melhor fotografia para Guga Millet. ? um filme de experimenta??o, mais de choque que de enredo. Para atinar com as refer?ncias - at? onde precisamos delas - podemos dizer que o filme de Tim Gerlach mistura, de forma igualmente inusitada, uma est?tica a la Rog?rio Sganzerla, na caracteriza??o ir?nica e iconoclasta dos personagens, na primeira metade, com o melhor de um Tarkovski, com os longu?ssimos planos da metade em diante.
Quanto a 29 Polegadas, de Bernard Attal e Joselito Crispim, melhor filme deste ano, al?m do pr?mio de melhor roteiro, trata-se de um filme menos experimental, mas n?o por isso inferior. O destaque ? um certo tom de com?dia que se sustenta sem os apelos ao palavreado nordestino carregado e caricatural da telenovela e pela presen?a de atores comuns, de corpos e gestos reais, desfazendo um pouco a id?ia de que sexo para ser visto no cinema precisa se esconder por tr?s de rostos e corpos perfeitos.
A julgar por estes e outros bons filmes que estiveram no Festival, como o tamb?m excelente Sobre a Mar?, de Guile Martins, que levou o pr?mio especial do j?ri, e Mestre Humberto, de Rodrigo Savastano, merecid?ssimo pr?mio de melhor montagem, a nova safra de cineastas promete arejar o mercado cinematogr?fico nos pr?ximos anos com id?ias novas e um pouco mais de ousadia.
Que o cinema brasileiro est? precisando!
Nilson Alvarenga Luzes da Cidade - Grupo de Cin?filos e Produtores Culturais
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