Profissional defende resgate do cal?amento em Juiz de Fora Diante dos inc?modos trazidos aos juizforanos pelas pedras portuguesas, arquiteto aponta como solu??o o resgate da t?cnica do ladrilho hidr?ulico

Priscila Magalh?es
Rep?rter
27/09/2008

? comum encontrar pessoas trope?ando e escorregando nas belas pedras portuguesas, utilizadas em grande parte do cal?amento no centro da cidade. Os buracos parecem mais crateras. "Quando elas se soltam, o buraco formado ? de cerca de cinco cent?metros", diz o funcion?rio de uma loja de material de constru??o Francisco Ferraz Fernandes.

O arquiteto Carlos Gouv?a explica que a pedra portuguesa ? pontuda, por isso a espessura do cal?amento ? grande, o que leva a buracos enormes quando algumas se soltam.

O arquiteto, historiador e diretor de patrim?nio do Instituto de Arquitetura do Brasil se??o Juiz de Fora, Marcos Olender, diz que as pedras portuguesas s?o de basalto e, para ele, a manuten??o deste tipo de cal?amento n?o ? barata. "Elas precisam ser quebradas e, por isso, se tem todo um trabalho". E completa. "Se fosse barato, ela n?o estaria sendo substitu?da pelo cimento em alguns locais", diz.

Indo al?m dessa quest?o, o arquiteto tamb?m aborda o conforto dos pedestres. ? uma pedra muito lisa e n?o oferece seguran?a. O cimento colocado entre elas ? que cria essa seguran?a. Entretanto, com o tempo, ele vai se nivelando com as pedras e sumindo. "Em locais onde muitas pessoas passam, o piso acaba ficando liso e se soltando".

Abordando ainda outro fator, Olender diz que falta agilidade do poder p?blico em localizar as cal?adas de sua responsabilidade com buracos e consertar. "Se elas est?o descolando, tem que ver o motivo e procurar consertar r?pido". Entretanto, para ele, discutir somente a conserva??o das pedras n?o ? o suficiente, pois "elas n?o s?o ideais para o cal?amento de Juiz de Fora". Gouv?a concorda com ele. "A pedra n?o traz seguran?a para os pedestres em um centro urbano".

Olender explica que, assim como outras coisas, o uso das pedras portuguesas foi trazido do Rio de Janeiro para a cidade. "? uma tradi??o carioca e, mesmo assim, l? elas est?o sendo substitu?das". Nas vias que precisam ser repavimentadas, ele ? a favor da substitui??o desse piso. O ?nico local onde ele ? a favor de manter as pedras ? no cal?ad?o, por ser uma tradi??o. "Ele foi projetado para este piso. ? o ?nico local originalmente feito com elas, no in?cio da d?cada de setenta".

Resgate da mem?ria e do conforto

Segundo Olender, as pedras portuguesas substitu?ram um tipo de piso chamado ladrilho hidr?ulico. Ele pavimentava a cidade no in?cio do s?culo XX e foi difundido no Brasil pelos italianos. Em Juiz de Fora era produzido pela Pantaleone Arcuri & Spinelli. ? um piso ? base de cimento e produzido artesanalmente atrav?s de formas. Ele ainda pode ser visto em alguns estabelecimentos comerciais, escolas e igrejas constru?das naquela ?poca (ver abaixo).

Foto do ladrilho hidr?ulico Foto do ladrilho hidr?ulico Foto do ladrilho hidr?ulico

Olender diz que o ideal seria resgatar esse piso e coloc?-lo nas vias p?blicas. "Por que renegar a hist?ria da cidade?", questiona ele. Gouv?a diz que a implanta??o deste piso vai compor melhor o visual da cidade, al?m de ser mais seguro. "Como ? artesanal, h? a possibilidade de ser produzido como quiser, com a op??o de colocar mais ?spero, com estampa ou liso".

Gouv?a ainda diz que o ladrilho hidr?ulico n?o se solta com facilidade e, se acontecer, a manuten??o ? mais f?cil que a da pedra portuguesa. Na quest?o seguran?a, ele tamb?m ? colocado ? frente. "N?o ? escorregadio e se soltar, o buraco ? menor que o deixado pelas pedras", diz. Entretanto, ele esbarra na produ??o. "? um produto caro".

Foto do ladrilho hidr?ulico Foto do ladrilho hidr?ulico Foto do ladrilho hidr?ulico

Olender tem um projeto para retomar a produ??o das pedras atrav?s da implementa??o de uma oficina-escola. Os ladrilhos seriam produzidos por pessoas em risco social, o que, al?m de resgatar a t?cnica de pavimenta??o, iria colaborar para ensinar um of?cio e baratear a produ??o. O projeto existe h? cerca de dez anos e o historiador n?o conseguiu o apoio do poder p?blico. "A cidade at? poderia exportar o piso para outras. Em S?o Paulo, h? quem queira que este piso seja usado novamente".

A vendedora de outra loja de material de constru??o Cristiana Rodrigues diz que o ladrilho hidr?ulico pode ser produzido com estampas e liso, em qualquer cor. A base ? de cimento e a colora??o ? feita atrav?s de corantes. O nome hidr?ulico vem de uma etapa da produ??o. Ap?s ser prensado, ele ? colocado em um tanque de ?gua, onde fica por 48 horas.

Foto do ladrilho hidr?ulico Foto do ladrilho hidr?ulico Foto do ladrilho hidr?ulico

Cristiana diz que o problema do conforto poderia ser resolvido com as pe?as em alto relevo, mais r?sticas e menos escorregadias. Sobre a conserva??o, ela diz ser necess?rio usar um impermeabilizante, j? que o produto ciment?cio ? poroso. "Depois que ele puxar a sujeira, n?o h? mais como limpar. O ideal ? evitar, assim ele fica bonito por mais tempo".