Prefeito Cust?dio Mattos discute problemas de Juiz de Fora

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Prefeito Custódio Mattos discute problemas de Juiz de ForaNo aniversário de 159 anos da cidade, o chefe do Executivo recebeu o Portal ACESSA.com e falou sobre crise financeira, investimentos e novo aterro sanitário

Guilherme Arêas
Repórter
29/05/2009

Em meio à crise econômica mundial e a uma situação de caos financeiro nos caixas da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), os primeiros meses da atual administração foram marcados por manifestações nas ruas e campanhas salariais dos servidores públicos. A discussão sobre o novo aterro sanitário, uma construção que pode representar o maior contrato já realizado entre a Prefeitura e uma empresa privada, teve ânimo renovado com as novas vozes da Câmara Municipal.

A Prefeitura ainda corre contra o tempo para reestruturar todo o sistema de transporte coletivo, que há 30 anos não era licitado na cidade. Como se não bastasse, o município está impedido de receber qualquer recurso da União. O motivo: uma dívida de R$ 3,2 milhões com o INSS. A dívida total do município, no entanto, ultrapassa a casa dos R$ 60 milhões.

A indefinição sobre o preço das passagens de ônibus revela que os desafios da atual administração apenas começaram. A cidade, que já foi considerada como a mais promissora de Minas Gerais, se vê mergulhada em indicadores econômicos que contrastam com a imagem da Manchester Mineira, criada na época de seu pioneirismo na industrialização. Em 15 anos, o PIB real de Juiz de Fora cresceu apenas 4%, enquanto a Zona da Mata cresceu quatro vezes mais, Minas Gerais cinco e o Brasil quase oito vezes mais.

Nas comemorações dos 159 anos de Juiz de Fora e próximo da marca dos 150 dias de governo, o prefeito Custódio Mattos abre espaço na apertada agenda de chefe do executivo municipal e recebe o Portal ACESSA.com para debater as principais questões que envolvem o dia-a-dia da cidade. Confira:

ACESSA.com: Qual o caminho para ultrapassar os obstáculos em plena crise?

Custódio: A primeira coisa é atitude. Talvez pela prosperidade passada, nós temos uma tendência à auto depreciação. Juiz de Fora é muito melhor do que as pessoas daqui falam da cidade. Quem se deprecia também se mostra para os outros de forma mais negativa do que é. A cidade tem que se mobilizar para coisas positivas, em vez de xingar e criticar. O papel em que eu me vejo é o de mobilizador disso. Não eu, pessoalmente, mas a Prefeitura que eu comando.

Nós temos a atitude mais ou menos como se fôssemos um filho de uma família que já foi muito ilustre e rica e que entrou em decadência. Ele tem duas atitudes: ou ir à luta e aproveitar essa herança empreendedora ou ficar sentado na beira do meio-fio, chorando e falando mal. Não podemos ter essa atitude, temos que ter a primeira, de ir à luta.

Custódio: A imprensa é feita por órgãos e momentos diferentes. Eu não tenho por hábito achar que a imprensa existe para nos criticar. Eu escolhi essa atividade por absoluta vocação e vontade. Faz parte dela ser criticada, às vezes, justa e outras injustamente. O principal veículo de comunicação de Juiz de Fora está atrelado a uma vontade e a uma paixão. Tirando este caso, um dia acho ótimo, outro dia acho péssimo e em outro, mais ou menos. Mas não sou quem tem que achar nada. Eles [os jornais] são que têm que achar de mim.

Eu tenho absoluta convicção do trabalho que estamos fazendo. Mas acho que a imprensa, com ou sem justiça, chama atenção para problemas e fatos nos quais a gente deve prestar atenção.

ACESSA.com: Na próxima semana o Senado deve votar a Medida Provisória do parcelamento das dívidas dos municípios em débito com o INSS, o que dará a Juiz de Fora a Certidão Negativa de Débito para receber recursos federais. Com esses recursos as obras do Ginásio Municipal serão retomadas?

Custódio: Houve uma negociação técnica que vai permitir isso. Antes não prosseguia as obras de maneira alguma, porque a contrapartida da Prefeitura estava elevada demais. Com a boa vontade do Wadson [Ribeiro, secretário executivo do Ministério dos Esportes], o Ministério compreendeu as nossas razões, aumentou a parte dele e restringiu a nossa contrapartida a 20%, o que é justo e possível. Agora, temos mais um problema técnico. A empresa que ganhou a licitação para a construção quer um acréscimo porque a obra ficou desativada um certo tempo. Eu não sei os valores, mas isso já está sendo tratado na Secretaria de Obras.

ACESSA.com: Os vereadores Júlio Gasparete e Bruno Siqueira resgataram o projeto do contorno ferroviário para Juiz de Fora, um assunto muito debatido durante a campanha eleitoral no ano passado. Teoricamente este projeto concorre com o das obras viárias, cujos estudos já começaram a ser feitos. Qual vai ser a prioridade da Prefeitura entre esses dois projetos que pretendem resolver o mesmo problema?

Custódio: A minha prioridade inquestionável são as obras locais do sistema viário, primeiro por questão de valor. Estamos falando em 60 e poucos milhões contra 600 milhões. Segundo, porque elas não são incompatíveis entre si. Se nós usarmos o leito para o transporte sobre trilhos no futuro, todas as supressões de passagem de nível que faremos com esse pacote terá sido um investimento útil. Sem falar que é muito útil agora.

Agora, se no futuro essa linha do trem for suprimida, isso pode se transformar em uma via expressa, ligando a Zona Norte ao restante da cidade.

Quanto à iniciativa, o que pudemos constatar lá [em Brasília] é que o projeto do contorno ainda tem pequena possibilidade concreta. A prioridade do governo federal é o PAC. Uma das condições para uma obra entrar no PAC é apresentar um projeto pronto, licença ambiental resolvida, obra que pode ser começada imediatamente e concluída até 2010.

ACESSA.com: Como o senhor mesmo citou, Juiz de Fora perdeu importância econômica no Estado nos últimos anos. Falando um pouco sobre a representatividade da cidade na Assembleia Legislativa e na Câmara, o senhor avalia que as lideranças políticas de Juiz de Fora e região são importantes para tentar retomar o caminho do crescimento?

Custódio: Sim. É evidente que o mercado e os investimentos econômicos privados não obedecem à política. Mas também é evidente que fatores políticos influenciam na criação de investimentos públicos e ambientes mais ou menos favoráveis ao investimento privado. Se você tem representantes políticos de qualidade e trabalha em um sentido convergente, isso ajuda. Quanto melhores e mais numerosos forem nossos representantes, mais fácil é a tarefa.

No ano passado eu consegui uma emenda na bancada de Minas [na Câmara dos Deputados], formada por seis deputados com votação em Juiz de Fora [Custódio Mattos-PSDB, Júlio Delgado-PSB, George Hilton-PP, Mário Heringer-PDT, Luis Fernando Faria-PP e Edmar Moreira-DEM], com previsão de mais R$ 32 milhões para as obras de tratamento do esgoto. Todos os deputados de Juiz de Fora convergiram para o mesmo objetivo, acima de partidos políticos.

Isso também depende de termos uma liderança confiável, independente de divergências partidárias. Eu tenho a impressão de que sou confiável para quase todos. E eu posso, portanto, fazer esse papel que a cidade de certa forma perdeu recentemente.

Os textos são revisados por Madalena Fernandes