Vida Monástica, Eloquência do Silêncio e Alicerce da Igreja

Dom Gil Dom GIl 16/06/2018

A vida contemplativa é um dos maiores dons que Deus tem dado à Igreja. Nela o silêncio fala. Através dele se pode escutar a Deus, ouvir seus segredos de amor incondicional. No mundo tão barulhento da atualidade, encontra-se nos mosteiros o oásis da paz, frente às frustrações mundanas, o ensurdecedor barulho das coisas frívolas e a aridez das coisas materiais.

À entrega total e indivisível a Deus, pelos votos da Obediência, Pobreza e Castidade, diariamente renovados no silêncio da alma, corresponde também um natural desafio para enfrentar as forças negativas do egoísmo, do egocentrismo, da vaidade, do orgulho, dos desânimos e de tantas outras situações desafiadoras.

O lema Ora et Labora (Reze e Trabalhe) de São Bento de Núrcia (480-547), considerado Pai dos Monges do Ocidente, imprime no coração dos seus filhos e filhas que vão se multiplicando na história desde aquele século 5º, o sentimento de que tudo o que fazem é para Deus e só para Deus. O pensamento prossegue ao se ler na Regra Monástica a expressão “Christo nihil praeponere” (Nada se anteponha a Cristo), utilizada antes por São Cipriano (250-304) e Santo Agostinho (354-430), mas revalorizada por São Bento, impulsionando os homens e as mulheres dos claustros a não descuidarem deste princípio diante de tudo o que devem realizar. Contemplar o rosto de Cristo antes de qualquer decisão é sinônimo de segurança e antecipação da vitória, pois quem segue a Cristo nunca erra o caminho, nunca foge à verdade e experimenta a vida que nem a morte destrói.

Nos umbrais da entrada da Arquiabadia do Monte Cassino, na Itália, onde se encontram os restos mortais de São Bento e de sua irmã gêmea, também monja, Santa Escolástica, se lê a máxima “Succisa Virecit” (cortada reverdece). O dístico latino traduz a certeza do monge e da monja de se disporem ao serviço de Deus sem medo e sem preocupações, pois quando se sente a dor dos cortes, nos caminhos do amor divino, tem-se certeza absoluta de que algo melhor virá, uma vez que a planta, quando podada, toma novo vigor para dar frutos mais belos, mais abundantes e mais saborosos. Como tudo mais nos mosteiros, isso está em plena sintonia com o evangelho, onde Cristo afirma: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o poda para dar mais fruto ainda” (Jo 15, 1-2).

Nossa cidade de Juiz de Fora é agraciada por ter em seu recinto urbano um destes lugares santos, recanto de paz espiritual, de estudo e vivência diuturna da Palavra de Deus, de genuína liturgia, que é o Mosteiro de Santa Cruz, da Ordem Beneditina feminina. 

Na continuidade da obra santa de Madre Paula Iglésias, que conduziu o Mosteiro por 29 anos e depois de seu falecimento ocorrido no dia 23 de abril último, foi eleita nova Abadessa na pessoa de Madre Maria de Fátima, cuja bênção abacial recebeu no dia 9 de junho. Feliz coincidência fez com que esta liturgia viesse a ser celebrada na memória do Imaculado Coração de Maria, pois nada é mais belo que contemplar o coração de uma mãe, melhor ainda sentir o pulsar do coração da Mãe de Deus e nossa, da Mãe da Igreja que é perpétua inspiradora da missão das abadessas, nos cuidados maternos de suas coirmãs, no Mosteiro que Deus lhes entrega para coordenar e presidir. A palavra “abadessa” significa “mãe”, termo originário da língua hebraica. Maria, que se colocou plena e indivisivelmente à disposição do Altíssimo, é o modelo acabado para a vivência do lema abacial escolhido pela nova Abadessa: “A serviço de Deus”.

Os mosteiros, locais privilegiados de oração e silêncio, funcionam, na Igreja, como raízes da árvore e alicerce do edifício, pois, ainda que escondidos, são básicos para a vida da mística planta e para a segurança da construção eclesial.

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