Uma Noite em 67
Documentário – Brasil – 2010
Direção: Renato Teixeira e Ricardo Calil
Há uma grande diferença entre a matéria jornalística e o documentário: o jornalismo tem como função primeira transmitir informação, assim como ela ocorreu; já o documentário, antes de qualquer interferência, é não só a primeira forma de cinema como ainda É cinema, ou seja, tem autor e ponto de vista. Portanto, uma das grandes dificuldades dos produtos jornalístico e documental é justamente conseguir ser o que é: jornalismo ou documentário.
Mesmo tratando de um tema interessante e de grande valor histórico, Uma Noite em 67 peca por ficar em cima do muro que separa o universo jornalístico do documental.
Disposto a contar a história do III Festival de Música Popular Brasileira, realizado em 1967 pela TV Record, os diretores montam uma colcha com depoimentos dos produtores e finalistas da noite e com imagens da época, mas não se aprofundam em questão alguma: apenas apresentam como o programa era feito e quais eram as sensações e impressões dos envolvidos.
Trata-se de um dos momentos históricos mais emblemáticos do país: a ditadura militar estava no auge e o Tropicalismo estava em gestação; como finalistas tínhamos Roberto Carlos, Os Mutantes, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil – os últimos três conhecidos por criticar o governo vigente. Mesmo assim, Uma noite em 67 não contextualiza bem o festival, tentando buscar co-relações entre o valor cultural do programa, o fato dos finalistas competirem com músicas de grande valor ideológico e, mais importante, por que esses festivais simplesmente acabaram.
Além disso, colocar os entrevistados no final do filme dizendo que não sentem saudade dá época, é dar um tiro no próprio pé: se os protagonistas não veem importância em rever tal momento, por quê nós deveríamos?
Será que a participação popular nesses festivais era uma forma de protesto contra a ditadura? Será que o Manifesto contra a Guitarra Elétrica é mais do que excentricidade artística e tem algum valor político nesse contexto? O documentário não explica.
No todo, Uma Noite em 67 limita-se a apresentar um evento, sem tentar capturar as inúmeras e possíveis co-relações existentes entre ele e a ditadura, a sociedade da época com seus anseios e gostos, além dos motivos que fizeram dele tão importante, a ponto de virar objeto de um documentário.
Rafael Tavares é diretor, produtor e roteirista audiovisual, formado em Produção Audiovisual e pós-graduando em TV, Cinema e Mídias Digitais
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