Potiche mistura humor com coisa séria
Da década de 60 para cá, a imagem da mulher diante da sociedade passou por inúmeras e profundas transformações. E é no cerne dessas mudanças que se instala o último longa de François Ozon. Potiche conta a história da família Pujol, dona de uma fábrica de guarda-chuvas de uma cidade francesa interiorana. Robert (Fabrice Luchini) é a figura patriarcal, detentora de todo e qualquer poder sobre os demais familiares.
Catherine Deneuve é Suzanne, a esposa, que apenas figura ao lado de monsieur Pujol. Ela aceita sua condição e demonstra certo conformismo até o momento em que Robert é sequestrado por operários da indústria como forma de barganha por melhores condições salariais. Estando o marido afastado, Suzanne tem que assumir a direção da fábrica e, contrariamente ao que todos esperam – nós, inclusive –, se mostra uma verdadeira administradora.
Ozon e Deneuve, dona de um porte impecável, estão totalmente alinhados no que diz respeito à condução de um filme leve e dinâmico. A comédia instaurada é dotada de tons profundamente satíricos. E é aí que está a chave para que Potiche seja extremamente político sem realmente ser. A pose da esposa-troféu vai sendo desmantelada ao passar dos minutos: a esposa perfeita, modelo de comportamento, vai se convertendo numa pessoa de carne e osso, cheia de pecados, dúvidas e sentimentos.
Assim como a mudança na conduta da personagem, é igualmente divertido notar as tranformações no figurino e nos penteados de Deneuve. Seu primeiro encontro com os grevistas é marcado por uma cena hilária, em que ela, no auge de sua inocência, se cobre de jóias dos pés a cabeça numa homenagem àqueles homens, que tanto trabalharam para que ela pudesse desfrutar de tamanha riqueza.
Também dentro do mesmo ritmo, Luchini encarna o papel do marido, o típico francês burguês do interior. Seus ataques, de tons altamente caricaturais, proporcionam boas risadas. A bancarrota do "Sr. Prepotência" é divertida e a inversão de papéis – da esposa para o marido-troféu – é natural e, mesmo sendo previsível, não é apenas uma solução forçada, tão típica das comédias.
Sendo também um dos grandes responsáveis pela forma redonda do filme, Gérard Depardieu, que está em seu sétimo trabalho ao lado de Deneuve, encarna o revolucionário, oposto de Robert e antiga paixão de Suzanne. Essa longa estrada profissional trilhada pelos dois contribuiu perfeitamente para o timing das piadas e do "romance" instalado entre eles.
Recheado de cenas divertidas, como a do encontro entre Suzanne e Babin (Gérard Depardieu) na boate, Potiche mistura um humor acessível com discussões profundas. O kitsch setentista é, ainda, um ingrediente que adiciona mais charme à história. Se pudéssemos definir o longa de Ozon em apenas uma frase, sem dúvidas ele seria uma deliciosa comédia levemente profunda.
Ficha Técnica
Potiche / Potiche
França, 2010 - 103 min.
Comédia
Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon
Elenco: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu and Fabrice Luchini
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