Paulo César Paulo César 22/9/2012

Urso de pelúcia desbocado conduz história sobre amadurecimento no bom Ted

Não é de se espantar que o humor pesado e corrosivo de Family Guy, ou A Família da pesada por aqui, faça tanto sucesso em todos os cantos onde é exibido. Seu criador, Seth MacFarlene, tem criatividade de sobra para expor as peculiaridades de seu país natal na forma dos mais variados deboches. E com essa pegada do politicamente incorreto é que ele estreia nos cinemas com Ted, um estudo de comportamento sobre o amadurecimento e amizade nada convencional, mas incrivelmente competente em sua proposta, recheada de palavrões e escatologias que não incomodam.

Quando criança, John Bennet (Mark Whalberg) sofria por não ter amigos, mas quando ganhou de seus pais o ursinho Ted (voz de MacFarlene) fez sua primeira amizade. O enlace ficou tão forte que ele pediu na noite de Natal que seu companheiro ganhasse vida, e foi o que aconteceu. Vinte e sete anos depois, John agora vive despreocupado com a namorada Lori (Mila Kunis), e o felpudo, agora depravado viciado em drogas e sexo, Ted. Mas ele terá de escolher entre a amizade irresponsável ou a seriedade de um relacionamento.

MacFarlene foi felicíssimo quando escolheu um ser inanimado para ser o catalisador da ideia central do filme, pois assim já assinou um termo de descompromisso com a linha tênue da lucidez, facilitando que o tom da comédia fosse mais aceitável. Mas mesmo em meio a todo o teor áspero e irresponsável em que os protagonistas são conduzidos pelo roteiro, a proposta que fica clara desde os primeiros minutos não se perde, pois Ted é a representação da estagnação de John e sua recusa em encarar uma vida adulta. É como se fossem um só, com a clara dominação do "lado obscuro" da personalidade, mais esperta e consciente dos atos, mesmo que falhos cometidos por John.

Como não poderia faltar, ainda sobra tempo para as zoações, referências a outros programas e personalidades, como a participação especial de Sam J. Jones, que se diverte em uma auto sátira de seu Flash Gordon. A sintonia do filme, a montagem frenética e os efeitos que deixam Ted verossímil fazem com que em pouco tempo de fita se nem percebamos que ele se trata de um bizarro urso de pelúcia que fala. O diretor transportou o fantástico mundo dos desenhos animados para as telas de live-action, com direto a trilha sonora característica.

Mark Whalberg consegue ter um bom entrosamento com seu amiguinho digital, mostrando que está melhorando como ator. A belíssima Mila Kunis se sente à vontade, principalmente por já trabalhar com o diretor na série animada (ela dubla Meggie Griffin) e mostra que não é só o rostinho bonito. Giovanni Ribisi é quase irrelevante com o pai afetado que quer Ted para o filho, mas ainda assim se sai bem. Mas MacFarlene, com seu léxico de expressões e números musicais, é o melhor, mesmo só fazendo a voz do brinquedo.

Se não tivesse inventado de enfiar a sub-trama com o personagem de Ribisi no meio da história, o longa teria sido muito melhor. Foi totalmente dispensável e alongou demais a sua duração, provocando certo enfado e deixando o final previsível, destoando da originalidade do contexto. Porém, no geral deixou uma boa impressão, mostrando que crescer é bem mais do que abandonar sua infância, é aprender a conciliá-la com sua maioridade. Uma história absurda e uma grata surpresa.


Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg

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