Paulo César Paulo César 1º/10/2012

Viagens no tempo e ação de qualidade são destaque em Looper – assassinos do futuro

Se o ser humano algum dia puder viajar no tempo, estaria realizando um de seus maiores fetiches. No cinema, o tema já foi abordado de diversas maneiras, com algum nexo ou não, mas sempre sem conseguir agradar a todos. Em Looper – Assassinos do futuro, o roteirista e diretor Rian Johnson incorpora violência, telecinesia e divagações existenciais e constrói uma trama inteligente, eletrizante e deixa o público preso na cadeira até o último minuto, mesmo que a relação temporal provoque mais perguntas do que respostas.

Joe (Joseph Gordon-Levitt) é um looper, contratado por homens do futuro que mandam seus inimigos no passado para que ele os elimine em troca de muito dinheiro e uma vida sem limites. Quando sua próxima vítima é sua versão mais velha (Bruce Willis), ele hesita e tudo sai do planejado. Agora terá de rastrear e eliminar o velho Joe, antes que a gangue de loopers, chefiadas por Abe (Jeff Daniels) o ache e o extermine. Contudo, quando encontra pelo caminho a corajosa Sara (Emily Blunt) e seu filho Cid (Pierce Gagnon), seus planos vão mudar e novas escolhas terão de ser feitas.

Desde o início do filme o ritmo aponta para algo bem mais intrigante e reflexivo que a premissa dava a atender. O roteiro de Johnson tenta ser didático e passar o máximo de informação possível para o espectador, preparando terreno para que ninguém perca tempo imaginando as consequências de atos dos personagens e mudanças de rumos da história, como acontece, por exemplo, em De volta para o futuro. Limita as questões e destaca apenas o que seria necessário para que o raciocínio lógico prevaleça. Tudo transcorre muito bem, entretanto, a certa altura do filme, as amarras ainda estão frouxas e a necessidade de respostas aparece. Mesmo não provocando a queda de interesse pelo desfecho, a situação traz um ruído na continuidade quase inevitável neste tipo de tema.

Porém, tudo é compensado com a versão do futuro (a trama se passa em 2044) bem arquitetada, com um ambiente sócioeconômico não tão apocalíptico quanto em Filhos da esperança, nem tão hiperbólico quanto no recente O vingador do futuro. A visão de Johnson é mais social, que enaltece as possíveis diferenças de cunho econômico, com traquitanas tecnológicas bem mais modestas. Os protagonistas ainda usam as armas de fogo que levam munição de pólvora, sem raios laser. Em contrapartida, um elemento novo inserido neste contexto é o poder telecinético, que, apesar de ter ligação direta com a solução do impasse final, é um dos componentes mal-explicados criados pelo roteirista, já que não apresenta algo contundente para justificar as pessoas dotadas de tal poder.

O ponto forte do longa reside na boa forma de seu elenco. Gordon-Levitt está despido da aura de bom moço e incorpora o anti-herói de forma truculenta, ao mesmo tempo que se rende a momentos de sensibilidade. Bruce Willis faz um bom trabalho, talvez seu melhor desde O sexto sentido, e nos passa o sofrimento amargo que o velho Joe tem de enfrentar para garantir "seu futuro". Emily Blunt faz boa dupla com o pequeno Gagnor, que diga-se de passagem, está formidável.

Essa mistura de ficção, western e ação proposta por Rian Johnson surpreende não pela forma como referencia abertamente diretores como Tarantino, Eastwood e os irmãos Coen, mas sim por criar metáforas em relação ao tempo fora de eixo, explícita em cada vez que o relógio emite seu som característico. Ainda que consiga confundir a cabeça de alguns, faz um filme inteligente e hipnótico, com montagem concisa, tudo sem exagero. É um daqueles filmes que nasceu com o simples intuito de entreter, mas acaba se tornando algo bem maior e melhor.


Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg

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