Paulo César Paulo César 22/05/2013

Criador de A era do gelo traz filme divertido, mas falha na construção do roteiro

Desde que se tornou um gênero rentável e visto com olhos ambiciosos pela indústria cinematográfica, os filmes de animação alcançaram um patamar que lhes permite ser tão aguardados pelo público quanto qualquer outro blockbuster em live action. Isso aconteceu com O Reino Escondido. Depois de fazer um sucesso impressionante com a franquia A Era do Gelo, Chris Wedge e Cia voltam ao cinema com um épico ambientalista de visual arrebatador, apesar de o roteiro apresentar lacunas prejudiciais.

Quando Maria Catarina (Amanda Seyfried) vai morar com o pai após perder a mãe, pensou que não encontraria motivação para viver na afastada propriedade cercada por uma bela floresta. O que aumentava esta convicção era a obsessão que seu pai alimentava em torno de uma pesquisa sobre seres minúsculos, que habitavam a flora local. Porém, quando seu caminho cruza com o da rainha do encantado e minúsculo mundo, suas convicções se transformam, e a missão de manter em segurança o poder da floresta até que uma herdeira apareça é só o início de uma grande aventura.

Nunca foi do feitio da Blue Sky Studios criar obras que ultrapassassem as barreiras do entretenimento e se tornassem filmes de contexto cinematográfico fora de série. Suas obras sempre se tiveram uma inclinação para a pura e simples diversão, com esquetes de humor elevado, e com lições de moral pueris, em segundo plano propositalmente. Mas isso não significa baixa qualidade. Os quatro filmes comandados pelo delirante esquilo Scrat tornaram-se um fenômeno de crítica e, principalmente, público.

Entretanto, o roteiro de O Reino Escondido apresenta as mesmas falhas que separaram o solo de Carlos Saldanha, outro integrante do estúdio, em Rio. A tentativa de encontrar uma fórmula mais "séria" para ser o guia das ações dos personagens centrais, em meio ao esquema humor-ação-romance, acabou sendo novamente o tiro no pé. Pois, nos primeiros minutos de película, as cenas de ação, combinado ao visual de qualidade inquestionável, davam ao público a sensação de que seria mesmo um épico, como sugere o título original. Mas não foi.

Aos poucos o filme acelera e nada fica bem desenvolvido. A inclusão da mocinha no mundo dos seres minúsculos, os motivos de os Boggans desejarem a destruição da floresta e a relação romântica de M.C e o rebelde Nod (Josh Hutcherson), são situações mal desenvolvidas, sendo que o último item, é totalmente sem química. A transição para o fim também é um problema, e, assim como no filme do brasileiro Saldanha, parece se apressar em se esquematizar em início-fim, sem acontecimentos de ligação estruturados.

Contudo, o filme tem seus trunfos. A dupla formada por uma lesma e um caracol dão conta das gargalhadas, assim com o abobalhado cão de estimação da mocinha, que merece destaque também por fugir dos padrões de perfeição Disney, já que não tem uma pata e um olho. Mas ainda é pouco para o estúdio que conseguiu, e ainda consegue, levar o público ao êxtase com a turma da era glacial, este sim um filme com a simples preocupação em divertir. Então que Wedge volte para a pura diversão que sabe fazer (e muito bem).


Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.
 

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